Sim, começo essa crônica do jeito que ele sempre gostou, fez e ensinou: com uma notícia. Eu trago a informação que, ao contrário do que temos lido e ouvido nos últimos dias, Aurélio Decker não morreu. E baseado em que faço essa afirmação? Simples, ora, escrevo isso a partir da ideia de que uma pessoa só morre de verdade, quando é esquecida, pois na mente daqueles que não esquecem, ela jamais morrerá.
Sim, Lelo viverá para sempre!
Falar sobre sua obra é lugar comum e vocês já devem ter dezenas de histórias do profissional que por décadas ditou os rumos do jornalismo de nossa região, desde uma China até então descoberta, até caçadas a criminosos famosos ou brigas ditas pequenas, mas de grande relevância para a comunidade. Sim, para ele uma ameaça chinesa ou um poste com fios tinha a mesma relevância: era um problema e precisava ser noticiado. Mas não falarei disso.
Serei prevalecido, pois tive a honra de ser seu fã, amigo e colega, como muitos, mas, como poucos, hoje tenho uma coluna em um jornal de papel e o que escrever aqui ficará eternizado como uma homenagem a esse ser humano raro e de muitas qualidades e alguns defeitos (ele detestaria um texto sem contraponto e só com puxação de saco, tenho certeza).
Tive a honra de suceder ao Lelo na direção da Rádio ABC 900, em meados de 2007, no Grupo Sinos, por decisão da empresa. Você talvez pense: hummm, algum clima ruim, rivalidade, entre quem sai e quem chega… Nem em sonho! Lelo foi um dos primeiros a me parabenizar pela chegada ao Grupo, saindo de um ambiente maravilhoso e de muito êxito em que me encontrava à época, a Revista Expansão, então como gerente comercial.
“Vai lá e mata a pau, meu lugar não é esse, meu negócio é buscar as notícias, a informação. Detesto números, contas… isso não é pra mim”, disse-me ele, entre um sorriso e outro, junto com um intenso abraço. E disse mais: “Agora, não deixa de buscar notícias; essa rádio precisa disso, a comunidade precisa se ouvir; não interessa o que o Papa faz, a não ser que importe a nós diretamente. Fala do buraco da rua”, finalizou.
Ele era assim mesmo, sempre dizendo o que pensava, naquilo que acreditava e tentava ensinar, convencer. Isso fazia dele algumas vezes um teimoso, mas sabia ouvir. Reclamava que veículos de comunicação não podiam perder tempo com eventos e shows, eu argumentava e dizia que eram novos tempos e que se tratava de uma realidade mundial.
Lelo tirava o óculos, mordia a ponta da haste, olhava para algum lugar e dizia: “Será, Giacomet? Tenho medo, acho que dá para escaparmos, mas se tu tá dizendo”, capitulava, mas cheio de reticências e sem estar convencido. Deixava claro que pensava sobre, mas meses depois, voltava ao tema. Sim, um teimoso, mas que sabia ouvir e era respeitoso com quem discordava.
Cometeu excessos, talvez, denunciando pessoas que com o tempo mostravam ter razão, ao menos em parte. Ele mesmo concordava, quando falávamos sobre isso, mas Lelo dizia: “Posso ter errado, um pouco, mas acertei bem mais e nunca errei querendo ser maldoso. Se errei foi por incompetência, por burrice, nunca por ser leviano”.
E a vida é assim, acertos e erros, e Lelo era assim: humano. Sempre me ensinou que nós, comunicadores, temos que ser olhos e ouvidos de quem acompanha nosso trabalho, afinal quem tem acesso a prefeitos, políticos em geral, autoridades e os famosos “peixes grandes” como adorava definir? Nós, que temos uma caneta, um gravador ou uma máquina fotográfica de vídeo.
Eu fui um sortudo: aprendi muito com ele e fiz a última entrevista dele, em um programa de rádio, na REDE UNIÃO FM, em 18 novembro de 2023, junto com os colegas Stephany Sander e Renato Rocha. E mais: pude escrever essa coluna, minúscula, em relação a tanto que ele mereceria, pois dois dias após a sua pseudo-morte, o chefe, Rodrigo Steffens, em um evento em Novo Hamburgo, veio ao meu ouvido dizer: “Coluna desse mês poderias homenagear o Lelo hein”. Disse que aceitaria seu pedido, mentindo um pouquinho, no melhor estilo do homenageado, afinal a ideia já era essa… mas, com o aval do chefe, quem sabe não ganhasse mais linhas nesta edição?
Como escrevi no início, assim segue o Lelo: inspirado até depois de ter nos deixado o convívio. Isso sim, porque morto, jamais. Nunca o esqueceremos.
Beijão, Lelo, e aquele sorriso, seguido do abração.