Toda a vez que me sento e começo a escrever as colunas para O Vale, procuro temas adequados à edição que irá circular. Fica bonito, harmônico e coerente com as demais páginas impressas. Não é uma obrigação, mas a leitura torna-se mais agradável, sempre pensei eu. Porém, na vida, nem sempre podemos optar pela harmonia, pelo agradável.
E, aqui, me coloco a mudar o rumo das minhas letras nesta coluna. Queria falar de Sapiranga, das suas histórias, do Morro Ferrabraz, das bicicletas, das indústrias, das Rosas. Porém, contrariado, me valho das páginas tão lidas de O Vale para tratar um tema urgente, a partir do que tenho visto e ouvido nos últimos dias: a intolerância.
Acabo de assistir um vídeo, nas redes sociais, de torcedores de um time gaúcho queimando a camisa do seu rival. Isso mesmo, e pouco importa a cor das camisas, alguns imbecis embebedaram com álcool uma camisa de futebol e atearam fogo, filmando e postando. E provocando. Já podemos imaginar o troco, não?
Como não protestar com uma atitude dessas? E tem mais: há alguns dias um ônibus que levava a delegação de um time nordestino foi apedrejado, com seis atletas feridos, sendo um deles obrigado a sofrer oitos pontos no rosto, fruto das pedras.
Dois casos de intolerância, de barbárie. Poderia relatar dezenas. E os embates de ignorância transcendem a área esportiva: vivemos época em que discordar significa querer brigar. Antigamente, alguém dizia não gostar de comer maçã e o interlocutor, caso discordasse, emitiria sua opinião e o assunto morreria. Hoje, não seria surpresa que a maçã em questão gerasse uma briga, uma discussão. Por que não gostar de maçã? Por que gostar? É uma sequência de brutalidade, fruto da irracionalidade.
Você já deve ter visto notícias de um porteiro ser agredido por algum morador em função de discussões na entrega de comidas no prédio; ou algum aluno agredir professor por causa de notas na escola; ainda, quantos motoristas já se engalfinharam nas ruas por causa de manobras equivocadas. Até quando?
E aí, o agredido, o agressor, seus familiares, seus amigos, mudam seus rumos. Um soco, uma agressão, um tiro, mudam rumos, assim como eu, que tive que mudar os rumos desta coluna, contrariado. Ao invés de falar sobre coisas boas, agradáveis, leves, me vi forçado a protestar, usando a força de um jornal impresso: a força do papel.
Que daqui 100 anos, na celebração dos 300 anos da imigração alemã, possam lembrar dos estúpidos tempos que vivemos hoje, em pleno século XXI, e que os leitores do saudoso jornal O Vale possam, espero eu, dizer: “hoje vivemos tempos bem melhores”. Sonhar, eu sonho!
Por Rodrigo Giacomet