O xodó do Aeroclube de Novo Hamburgo agora se chama Aviador Harro Otto Schmitt. O Cessna Skyhawk II, prefixo PT-JME, fabricado em 1973, ganhou o segundo batismo e o nome do piloto que foi buscá-lo nos Estados Unidos (EUA) em março de 1974. O cinquentenário desta comemoração ocorreu no principal hangar do aeroclube, no final do mês passado, e teve cobertura exclusiva do jornal O Vale.
Aos 87 anos, Harro não conseguiu esconder os olhos marejados ao retirar, junto com o presidente Alceu Feijó Filho, a bandeira do Brasil que encobria a surpresa. O deputado federal Marcel Van Hattem (Novo) foi um dos convidados.
As aeronaves que costumam repousar no Hangar Oscar Jung, construído em 1948, deram espaço a dezenas de mesas que receberam os convidados para o almoço comemorativo. Além de ver seu nome estampado nas laterais do “Juliette” – como o avião é carinhosamente chamado, numa referência do “Jota” do prefixo, ou Juliette na linguagem aeronáutica –, Harro ganhou uma réplica em miniatura, dentro de uma caixa de acrílico, com o mapa da aventura de meio século atrás, ocasião em que esteve acompanhado pelo colega Victor Hugo Matte, então instrutor do aeroclube, já falecido.
Nem a voz cansada pelo tempo impediu que Harro usasse o microfone, com o apoio da filha Jane, para agradecer a homenagem e relembrar a viagem de 50 anos atrás. Revelou cada detalhe, sempre olhando para sua esposa Lilian, atenta a cada palavra do companheiro. No distante 1974, o clube comprou a aeronave, que precisou ser buscada em Wichita, estado do Kansas, Estados Unidos, na sede da Cessna. Quase nove mil quilômetros separam as duas cidades. A pequena aeronave levou 13 dias para completar o percurso, com escalas nos Estados Unidos, no Caribe e no Brasil.
No mesmo dia da comemoração pelo aniversário de chegada do Cessna e novo batismo, Feijó escreveu, em seu perfil no Facebook: “Apesar de suas costas curvadas e de sua voz enfraquecida pelos anos, ainda mantém incólume seu orgulhoso garbo, que somente homens de grandes realizações na vida, o carregam além do tempo”.
O primeiro voo do presidente do clube, em 1967, foi com o aviador homenageado. “O Harro também nos mostrou que o tempo não apaga de nossa memória aquilo que realizamos por excelência.”
Após o almoço, Harro comandou o JME em dois voos e pode levar seus netos pelos céus de nossa região. Ao seu lado, o instrutor Richard Brandão que, no retorno ao solo, comentou com o presidente: “Continua um guri alado, só fiquei olhando”.
Ainda sobre a comemoração, Feijó fez questão de registar o apoio recebido da Secretaria da Cultura de Novo Hamburgo, do secretário Ralfe Cardoso e sua equipe, pela ajuda no fornecimento de gradis e equipamentos de som usados pelo clube.
Aeronave foi reformada
Em junho de 2020, o PT-JME voltou a voar, após quatro anos de reforma completa. Naquela ocasião, Feijó convidou Harro para a “reinauguração”. Foram 45 minutos sobrevoando Novo Hamburgo e cidades da região, sob o comando do velho piloto, então com 83 anos.
Quando viu o avião reformado, com pintura nova, Harro exclamou: “Ah, guri! Ficou igualzinho”. O Mundo vivia os primeiros meses de pandemia causada pela Covid-19, e a máscara, então obrigatória, escondeu o sorriso do aviador.