Fatima Daudt recebeu a equipe de reportagem do Jornal O Vale, da Vale TV, por quase uma hora na sala de reuniões do Gabinete da Prefeita, no 9º andar da Prefeitura de Novo Hamburgo. De agenda e caneta em mãos, a chefe do Executivo Municipal sorriu em diversos momentos e respondeu a todas as questões, inclusive sobre seu futuro após deixar o cargo.
Ao final de 2024, Fatima terá completado 8 anos de governo. Nesse período, assumiu temas espinhosos no município, como a licitação do novo transporte público. “Há 30 anos se tentava fazer essa licitação. Termos um transporte público de qualidade na cidade não foi possível, passou por vários prefeitos que não conseguiram, e nós conseguimos concluir”, afirma a prefeita.
Nesta entrevista, Fatima ainda fala sobre o Bicentenário da Imigração Alemã, o aniversário de 97 anos de Novo Hamburgo, as conquistas, as obras realizadas, os desafios e o futuro. Confira:
Jornal O Vale – Novo Hamburgo está de aniversário neste 5 de abril, quando a cidade completa 97 anos de emancipação. O que a prefeitura prepara para celebrar a data?
Fatima Daudt – Dia 5 nós temos o show do Michel Teló para festejar o aniversário. Novo Hamburgo merece que este dia seja comemorado e nós preparamos esta festa para a comunidade.
Será nos pavilhões da Fenac, junto com a Feira da Loucura por Sapatos. Então, a nossa tradição do sapato junto com a comemoração do aniversário da nossa cidade.
O Vale – Este ano também se comemora o Bicentenário da Imigração Alemã. Quais os planos e a programação da Prefeitura para celebrar a data?
Fatima – Na cidade ocorrerão várias festividades, não promovidas somente pela prefeitura. Tem as festividades das entidades, que já estão fazendo na sua programação, tem a iniciativa privada. Mas a prefeitura está programando para julho uma grande festa para celebrar este Bicentenário.
Então, em julho, aguardem, haverá uma grande novidade. Nós queremos que esta festividade se torne permanente no calendário de Novo Hamburgo. E será na Fenac.
O Vale – A senhora está no cargo há quase 8 anos. Neste período, quais as conquistas e feitos de sua administração?
Fatima – Sim, 8 anos é bastante tempo. Nós entregamos muitas obras e serviços. Mas falar de todos é impossível, mas acho que pode ser falado aqueles que marcaram. No primeiro mandato tivemos a revitalização da área Central, concluímos o Parcão que está aí para toda a comunidade, foram feitas obras de macrodrenagem na cidade. Foi muito bom termos investido em macrodrenagem no primeiro mandato, porque no segundo tivemos os eventos climáticos severos e as obras lá do primeiro mandato ajudaram muito para que a cidade não sofresse tanto com muitos alagamentos. Há ainda obras que precisam ser feitas, ainda há locais em Novo Hamburgo que sofrem com alagamentos, mas que são obras maiores e que agora estamos conseguindo captar recursos junto ao PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e Ministério das Cidades. A gente fez uma grande obra no bairro São José também, aquela comunidade até hoje agradece muito, havia um problema sério de infraestrutura e tivemos inúmeras ações do primeiro mandato. Neste segundo mandato, então, estamos com esta grande obra no Hospital Municipal. É uma obra muito importante, quem passa na BR-116 já consegue ver. Com esta ampliação vamos conseguir trazer a Oncologia novamente para Novo Hamburgo.
Quando eu cheguei na prefeitura, ela estava em Novo Hamburgo, mas estava num hospital privado, o que dificultou muito para que se mantivesse aqui. Afinal de contas é tabela SUS, e o hospital privado não quer receber pela tabela SUS. Então, eu disse desde o início, que a Oncologia deveria estar no nosso Hospital Municipal, que é 100% SUS. Agora, com esta obra, vamos conseguir trazê-la de forma permanente e fazer ali, no nosso Hospital Municipal, além de todas as outras enfermidades que ele atende, mas também teremos uma referência em Oncologia na nossa cidade.
O Vale – Ainda sobre o Hospital e o tratamento oncológico, já existe uma data, como anda esse processo?
Fatima – Agora nós estamos na obra física, é necessário fazer a ampliação para trazer novos serviços. Então, concluindo, o Estado já se comprometeu com a prefeitura e, inclusive, com entidades empresariais, foi uma promessa durante a campanha, que nós registramos, de o Estado trazer para o Hospital Municipal todos os equipamentos e tudo que for necessário para que a gente possa colocar em operação o quanto antes. Hospital não é uma obra simples, porque são equipamentos caríssimos, mas necessários. A nossa região precisa muito.
O Vale – Então, ainda não é possível ter uma previsão de data?
Fatima – Não, porque obra depende do clima. Olha como nós passamos por esses eventos climáticos, fica impossível seguir uma obra física. Então, dizer vai ser tal mês é impossível porque vai depender de muitos fatores climáticos.
O Vale – Ao final de seu mandato, no fim do ano, qual a marca que seu governo quer deixar para a cidade?
Fatima – Sabe que várias pessoas já me perguntaram e [foi] um jornalista que me falou “eu sei qual vai ser a marca do seu governo”. Poderia ser a licitação do transporte público? Poderia. Há 30 anos se tentava fazer essa licitação. Termos um transporte público de qualidade na cidade não foi possível, passou por vários prefeitos que não conseguiram, e nós conseguimos concluir. Também poderia ser todo o trabalho de macrodrenagem na cidade, infraestrutura, foi uma obra gigante de revitalização da área Central. Mas esse jornalista me disse assim: “Prefeita, a marca do seu governo, porque a senhora foi reeleita, estão sendo 8 anos sem nenhum escândalo”.
Nem um problema que a gente tenha que ter respondido ao Tribunal de Contas. O Ministério Público nos aciona quando há alguma reclamação ou o que for, e encaminhamos a eles as respostas. Muitas vezes pedem mais explicações ou então arquivam. Mas nada, nestes 8 anos, nem briga de secretários tivemos ou algum secretário que tenha saído do governo falando mal da administração. Acho que para 8 anos, o que foi lembrado pelo jornalista, é uma boa lembrança.
O Vale – Essa marca, a senhora atribui ao trabalho desenvolvido, qual o motivo na sua avaliação?
Fatima – Eu vejo que é importante saber formar a equipe. Hoje, sou chamada inclusive para dar palestras, auxiliar outros prefeitos que estão iniciando. Inclusive, logo tenho que ir numa escola de prefeitos da Fundação Konrad Adenauer, que é alemã e renomada no mundo inteiro. Irei nesta escola de prefeitos que estão em primeiro mandato para falar sobre como administrar. Então, tenho bastante orgulho de chegar ao final podendo também levar a outros prefeitos a experiência. Em primeiro lugar equilíbrio. Penso que quem está sentado na cadeira de prefeito, ou prefeita, precisa ter em primeiro lugar muito equilíbrio para conseguir fazer boas avaliações. A gente hoje vive um mundo político de polarização, temos que saber como conversar com o governo federal. Eu não concordo, mas o dinheiro fica praticamente todo em Brasília. Então os prefeitos precisam ter uma boa articulação em Brasília para conseguir trazer recursos para os municípios.
Agora, duas semanas atrás, captei R$ 28 milhões do novo PAC. Então, ter um equilíbrio, conseguir se relacionar bem tanto com Brasília quanto aqui, com Porto Alegre, eu fiz desde o meu primeiro mandato. E formar equipe, precisamos ter equipes qualificadas na gestão. Isso eu digo desde o início, quando assumi a prefeitura sempre priorizei por uma equipe qualificada e eficiente.
O Vale – Ainda temos mais de meio ano até o encerramento de seu governo, quais são seus maiores desafios até o fim do ano?
Fatima – Fiz uma reflexão logo que iniciou 2024, de como seria este meu último ano. Afinal de contas foram anos muito intensos, de 24 horas de trabalho. Se é prefeita sempre, quando vai na padaria, na farmácia, no supermercado, em qualquer lugar. Tirei férias agora no início deste ano, acho que foram 15 dias, e as férias ainda são do tempo do primeiro mandato. Os desafios deste ano são as entregas. Temos grandes entregas a fazer na cidade, a inauguração do novo CIT (Centro de Inovação Tecnológica), o início do novo transporte público. Inclusive, tudo que começa, que é novo, ainda vamos ter que falar muito sobre isso [transporte público], dúvidas, ajustes, porque mudaram algumas rotas. Então, é um grande desafio fazer esta mudança nesta modelagem de transporte público, e tantas outras entregas que vamos fazer até o final do ano.
O Vale – Sobre os novos ônibus, a prefeita acredita que vai mudar a ideia das pessoas sobre o transporte público?
Fatima – Vejo que o caminho é esse. Nós temos que ter transporte público de qualidade para que as pessoas utilizem mais [ônibus]. Iniciamos com a licitação lá no primeiro mandato, mas devido a questões judiciais, é uma licitação muito difícil, acabou [saindo] no finalzinho do ano passado. Então, vamos ter este ano para fazer as adaptações necessárias. Realmente vai modificar, são ônibus novos com acessibilidade, botão de pânico, câmeras para reconhecimento facial e uma bilhetagem diferente.
Tudo isso muda, sim. Viemos de muitos anos no mesmo modelo e, agora, vamos dar um passo adiante, entrar numa era melhor. A gente quer um transporte de qualidade para agora e para o futuro.
O Vale – Das 45 propostas ainda lá do primeiro mandato, quantas foram realizadas?
Fatima – Todas essas e muito mais. Tudo que nós prometemos no primeiro mandato e no segundo mandato, tudo concluímos. Estamos entregando no finalzinho [de governo] alguma coisa, mas concluímos [tudo] e muito mais. Brinco com o pessoal da comunicação que quero ver listar tudo que nós fizemos, além do que estava ali nas nossas propostas, na verdade promessas, todas cumpridas e muito mais.
O Vale – Quais os planos após deixar o cargo de prefeita?
Fatima – É meu jeito de ser, sempre fui assim. Eu primeiro quero concluir o que eu me propus a fazer. Como falei, comprometimento é extremamente importante. Quero concluir o que estou fazendo como prefeita até o dia 31 de dezembro à meia-noite.
Estarei trabalhando até o último dia. Depois disso, o futuro a Deus pertence. Tenho as minhas ideias, tem as minhas vontades, mas eu gosto de esperar que os caminhos se abram para que a gente possa escolher o caminho a seguir.
O Vale – Já existe uma data de quando será a inauguração do Centro de Inovação Tecnológica (CIT)?
Fatima – No início de maio estaremos inaugurando. As empresas que irão fazer parte do nosso Centro de Inovação já estão acertadas, já saiu edital.
O Vale – E o Boulevard Germânica, alguma novidade?
Fatima – O Boulevard Germânica é uma iniciativa privada e tudo que era necessário, as aprovações, nós entregamos. Eles estão aptos a iniciar as obras, já começaram algumas obras, iniciativas dentro da área. Mas aí não compete a nós, não temos como chegar no [setor] privado e dizer para ele “você vai começar sua obra agora”. O que dependia da Prefeitura foi feito, se eles precisarem fazer alguma mudança junto à Prefeitura aí tem que se fazer uma análise.
O Vale – Vai seguir na política aqui, no RS, em Brasília?
Fatima – Tudo é possível. Quando eu concluir meu mandato, aí eu posso falar com mais certeza.
Nesse momento, como eu disse, meu foco é até o último dia de governo trabalhar por Novo Hamburgo, porque esse é o meu compromisso.
O Vale – Ainda sobre política, a senhora está segura que o partido vai abraçar a candidatura de Tânia da Silva à prefeitura?
Fatima – Sim. Eu não costumo misturar, sempre digo que as questões políticas devemos resolver dentro dos partidos e as administrativas dentro da prefeitura. Nós apresentamos já uma pré-candidata, que é a Tânia, que foi prefeita por dois mandatos de Dois Irmãos, ela é natural de Novo Hamburgo. O pessoal de Dois Irmãos brinca comigo e diz, “está roubando a Tânia de nós”. Não, isso é reintegração de posse, eu digo.
Tânia nasceu aqui, ficou em Novo Hamburgo até os 30 anos, os filhos daqui também, então ela tem toda uma história na cidade de Novo Hamburgo. Falei já há algum tempo que é a minha pré-candidata.
O Vale – Há algo que a senhora gostaria de ter feito, mas que não foi possível no seu governo?
Fatima – Sempre tem muita coisa. Como eu disse, a cidade precisa, todos os dias é uma demanda diferente, na verdade uma não muitas. Olha o tamanho de uma cidade, se a gente começar a contar o quanto tem de asfalto, quanto tem de iluminação, quanto tem de serviços, tudo que tem que ser oferecido, sempre há muito que fazer. É lógico que eu queria ter feito tudo, mas a gente sabe que isso é impossível. Se fez o máximo possível. Como eu disse, [fizemos] mais do que havíamos prometido, mas não dá para fazer tudo.