Escalada das exportações alemãs ocorre principalmente em países que mais se tornaram o foco da crise europeia. Somente por cima da Espanha, ganhou US$ 270 bilhões no comércio de bens de 1999 a 2010.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Mais de US$ 1 trilhão entrou na Alemanha desde a criação da moeda única em 1999 até 2010 por meio do comércio de bens com seus colegas do euro, mostram dados compilados pelo Radar Econômico. O número indica que a nação germânica foi a mais beneficiada pela moeda comum no comércio exterior, em valores absolutos.
Em 2008, já com a divisa comum, o saldo atingiu US$ 177 bilhões. O valor caiu a partir de 2009 por causa da crise originada nos Estados Unidos, mas ainda assim permaneceu bem acima do nível verificado nos tempos do marco. A escalada das exportações alemãs ocorreu principalmente em cima de países que mais tarde se tornaram o foco da crise europeia. Somente em cima da Espanha, a Alemanha ganhou US$ 270 bilhões no comércio de bens de 1999 a 2010.
A Alemanha não defendeu, até agora, a saída de nenhum país da zona do euro. Isso só ocorrerá se a situação ficar insustentável, se o país achar que o que ele ganha no comércio exterior não compensa. Já a Irlanda, um país fortemente atingido pela crise, conseguiu impor um déficit comercial à Alemanha. A ilha atrai empresas de toda a Europa por causa de impostos baixos. As multinacionais transferem dinheiro para suas subsidiárias irlandesas. Depois, trazem o mesmo dinheiro de volta para a matriz na forma de remessa de lucro. Os números do comércio exterior da Irlanda, portanto, ficam distorcidos.
A Espanha, por exemplo, mantinha suas contas públicas em ordem desde a criação da moeda europeia. Na verdade, a partir de 2002 tornou-se mais prudente até do que a Alemanha. A criação da zona do euro colocou na mesma arena economias completamente desiguais. Enquanto existiam moedas diferentes, a taxa de câmbio ajudava os mais fracos a manter algum grau de competitividade. Com o euro, no entanto, os espanhóis, entre outros europeus da periferia, continuavam com poder de compra alto mesmo enquanto sua indústria perdia espaço para as empresas alemãs.
Tanto as empresas como os consumidores de países periféricos conseguiam tomar dinheiro emprestado, com taxas relativamente baixas. Isso mantinha a produção e o consumo em um ritmo razoável, sustentando o Produto Interno Bruto. Com moeda forte, os países da periferia europeia passaram a importar mais também de nações não europeias. O país é o único, entre as grandes economias europeias, que conta com um superávit nas transações com o resto do mundo.
Na crise de 2008 o crédito secou, num momento em que as companhias e as famílias da periferia europeia estavam endividadas. Até se poderia dizer que elas foram imprudentes ao tomar dinheiro no mercado, mas o fato é que o Banco Central Europeu mantinha taxas de juros em níveis relativamente baixos. Mas quando os bancos pararam de emprestar, as companhias ficaram com dificuldade para rolar a dívida.
O governo espanhol, teve que escolher entre deixar o mercado se equilibrar por si só ou abrir os cofres públicos. Optou por injetar 146 bilhões de euros no mercado financeiro, arcar com o aumento de gastos sociais e ainda lançar pacotes para estimular a economia. Isso fez as contas públicas piorarem, gerando medo, de um calote na dívida do Estado. A consequência é que os investidores passaram a cobrar juros altos para emprestar à Espanha, tornando difícil, controlar sua dívida.
Para usar a moeda europeia, é preciso estar preparado para enfrentar a competitiva indústria alemã. Um caminho mais sensato seria uma união fiscal, se nenhum europeu se importasse em ver seus impostos sendo usados para cobrir gastos em outros países.
Informações de Estadão
FOTO: ilustrativa / nationalgoldnews