Todos nós comemos não apenas por ser uma necessidade do nosso organismo, mas também porque nos dá prazer. Porém, o modo como nos alimentamos varia amplamente. Alguns comem mais, outros menos. Alguns engordam facilmente, outros não conseguem ganhar peso. No entanto, algumas pessoas chegam ao extremo de comer em excesso ou restringir a sua alimentação de formas abusivas, maltratando a si mesmas. Nestes dois casos, podemos falar de bulimia nervosa e anorexia nervosa.
É importante diferenciar esses dois transtornos alimentares para compreendê-los mais facilmente. A anorexia nervosa é uma disfunção alimentar caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar e no baixo peso corporal e estresse físico. Já na bulimia não é a magreza que chama a atenção. Muitas vezes são mulheres de corpo escultural, que cuidam dele de forma obsessiva, vivendo com as mais variáveis formas de dietas. De repente, ingerem uma quantidade absurda de alimentos e para evitar o ganho de peso, vomitam, tomam laxantes, diuréticos e fazem exercícios físicos em excesso.
Algumas pessoas que sofrem de bulimia chegam a vomitar mais de 15 vezes por dia e acabam ferindo os dedos até não precisarem mais de qualquer esforço para produzir o vômito. A diferença básica entre anoréxicos e bulímicos é o estado de extrema desnutrição a que podem chegar pacientes com anorexia, mas vale lembrar que uma pessoa anoréxica pode ser também bulímica.
Na grande maioria das vezes, as perturbações alimentares têm início na adolescência (entre 15 e 25 anos) com as rigorosas dietas, porém, podem acontecer também em crianças e pré-adolescentes. É uma doença que afeta muito mais pessoas do sexo feminino (95% dos casos ocorrem em mulheres). Na grande maioria dos casos de anorexia, as pessoas tinham sobrepeso antes de iniciar tais dietas. No entanto, ao invés da dieta terminar quando alcançado o peso desejado, a dieta e a perda de peso continuam até que a pessoa atinja níveis de peso muito inferiores aos esperados para a sua idade.
Muitos especialistas acreditam que a influência da mídia é a principal responsável por estes quadros em razão da imposição do estereótipo em que a magreza é um fator importantíssimo, senão indispensável, para o sucesso social, amoroso e econômico de uma pessoa.
Diagnóstico
A pessoa que está com anorexia não considera o seu comportamento errado ou estranho, podendo recusar-se a consultar um especialista ou tomar medicações. Ela considera-se “gorda” apesar das pessoas a sua volta notarem que ela está abaixo do peso, e continua a perder peso.
O funcionamento mental da pessoa anoréxica mantem-se preservado, exceto quanto a imagem que tem de si mesmo e o comportamento irracional de emagrecimento.O índice de mortalidade decorrente deste transtorno fica entre 15 a 20%, o maior entre os transtornos psicológicos, geralmente matando por ataque cardíaco devido à falta de potássio ou sódio (substâncias que ajudam a controlar o ritmo normal do coração).
Os sintomas mais comuns da anorexia são: o peso corporal atingindo 85% a menos do que o normal, prática excessiva de atividade física mesmo com peso muito baixo, negação de qualquer estranheza quanto ao seu peso ou seus hábitos e, em mulheres, ausência de ao menos três ou mais menstruações. Outros sintomas que podem acompanhar este quadro são: descalcificação dos dentes ou cáries, sintomas de depressão, danos intestinais, danos ao rim, anemia, osteoporose, lábios secos e dores de cabeça, entre outros.
Tratamento
É muito importante que a família esteja sempre atenta à recusa em participar das refeições famialires, alegando que já comeram ou que não estão mais com fome, além da atenção exagerada aos assuntos que envolvam calorias dos alimentos ou formas de alimentação.
Uma vez diagnosticada a doença, é importante que o anoréxico passe por terapia individual, em grupo e, principalmente, terapia familiar. É muito difícil e geralmente ineficaz somente que um profissional cuide do paciente, necessitando, assim, que uma equipe multidisciplinar participe do tratamento. Como a negação do problema é freqüente, médicos, terapeutas e familiares precisam ser pacienciosos enquanto motivam e apóiam o anoréxico em sua recuperação. Paciência e diálogo são essenciais no tratamento da anorexia.
A reintrodução dos alimentos deve ser gradativa. Às vezes é necessária a internação hospitalar para que a oferta gradual de calorias seja controlada por nutricionistas. Não há medicação específica para anorexia nervosa, porém antidepressivos podem ajudar a atenuar sintomas depressivos, compulsivos e ansiedades em geral. O tratamento da bulimia nervosa exige, da mesma forma, o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, psicólogos e nutricionistas.
É muito importante que se fale mais a respeito destas desordens alimentares, pensando-se especialmente em como podemos fazer para preveni-las. Seria necessário um empenho na mudança de certos valores estéticos ligados ao corpo, não só pela sociedade em geral, mas principalmente nas famílias e em suas rotinas. Alguns momentos de refeições partilhadas não só poderiam auxiliar em detectar sintomas de transtornos alimentares, como também possibilitariam momentos de trocas, de diálogo, de tempo e de carinho. E hábitos saudáveis são sempre bem – vindos.