Todas as pessoas têm seus medos e expectativas sobre a tão falada terceira idade. Mas já está comprovado que a longevidade está mais relacionada ao tipo de vida que as pessoas se propõem do que ao seu próprio DNA
Vem crescendo o número de pessoas que falam hoje, incessantemente, sobre o envelhecimento. Em meu círculo de amigos e colegas sempre vem à tona o assunto de como devemos investir em um trabalho com a terceira idade, um mercado promissor. Com a média de vida das pessoas crescendo cada vez mais, a velhice torna-se uma das fases da vida mais comentadas pelos especialistas. Cresce o número de revistas, textos, manuais do tipo “como envelhecer com saúde” ou “envelheça feliz”, entre tantos outros. Não desconsidero a validade disso tudo para quem realmente acredita que podemos encontrar um manual que nos ensine como envelhecer feliz e com saúde.
Com toda segurança posso dizer a vocês que cada um de nós possui suas próprias expectativas, seus medos, receios e dúvidas quanto ao que acontecerá quando estivermos na “terceira idade”. Vejo também pessoas que não aceitam este termo, o vêem muito taxativo, preferindo “melhor idade” ou algo parecido. Tenho uma colega muito querida que diz não gostar que se use qualquer termo para descrever uma idade mais avançada, preferindo não dizer nada. Ela se sente melhor assim. Tudo bem, todas as opiniões são válidas e importantes.
Quando o assunto é como organizar as nossas vidas para quando estivermos envelhecendo, daí sim, o assunto interessa a todos nós e devemos começar a pensar nisso no momento em que somos jovens. Pode parecer um pouco precoce ou até mesmo “bobagem”, como dizem os adolescentes. Para que perder tempo antecipadamente? Porém, penso que estes momentos não são perdidos, mas sim construídos ao longo da vida.
Pesquisas comprovam que a longevidade está mais relacionada ao tipo de vida que as pessoas se propõem a ter do que ao seu DNA. Minha avó atualmente tem 85 anos e acha graça quando as pessoas não acreditam na idade que ela tem. Lê livros semanalmente, mesmo que seus olhos já não sejam os mesmos de quando tinha 30 anos. Conta as histórias que lê como se fossem fatos reais, que a transportam para os mais variados lugares e momentos. Aprendi com ela que devemos nos desafiar com freqüência, mesmo que o desânimo bata a nossa porta. Hoje sabemos que as pessoas que desafiam as rotinas que a vida impõe têm menos chance de ter qualquer tipo de demência e isso inclui até mesmo aprender a dançar, passear, ler livros ou simplesmente ler o jornal diariamente.
Com ela aprendi também que se pode ir, mesmo às vezes com certa preguiça (ela aparece em todas as idades), encontrar os amigos para conversar, tomar chá, dançar e quem sabe até namorar. Fazer ao menos uma destas coisas sem sentir que está velho por freqüentar encontros da terceira idade. Ter uma rede social de amigos faz bem para a saúde. Outro detalhe, a minha avó escuta muito pouco, mesmo que o seu aparelho auditivo a ajude bastante. No entanto, é difícil encontrar alguém que converse tanto quando ela. Qual é o seu segredo? Ela “faz”, mesmo que se atrapalhe um pouco ou não escute uma ou outra palavra, pois isso não é impedimento para ela. Hoje em dia quem está sozinho é porque escolheu ficar assim ou nunca exercitou o contato aberto com outras pessoas e isso não tem nada a ver com idade, precisa ser aprendido desde cedo.
Todos nós precisamos de um objetivo ao levantarmos pela manhã, algo que nos dê motivação e a sensação de que usamos com sabedoria nosso tempo. Quando se fica mais velho podemos simplesmente assistir a uma partida de futebol, tomar um chimarrão, dar uma volta na vizinhança ou ler um livro. Sei que isso ainda é difícil quando se vive em uma sociedade que nos ensina que viver é funcionar. Mas a minha avó tem me ensinado que funcionar pode ser, sim, assistir a um bom jogo na TV sem sentir culpa alguma por não estarmos produzindo mais.
Um grande autor, Abigail Van Buren diz que: “a sabedoria não vem com a idade. Nada vem, exceto as rugas. É verdade, alguns vinhos melhoram com o tempo. Mas apenas se as uvas forem boas, em primeiro lugar”. Hoje sabemos que a nossa genética contribui sim para quem seremos no futuro. Porém, ela é somente a base sobre a qual construímos a nossa saúde.
Nossas escolhas, o tipo de vida que teremos, quem estará conosco em nossa vida, tudo dirá que pessoa iremos ser na nossa velhice. Pesquisas indicam que o estilo de vida é responsável por 70% a 75% da longevidade de cada um de nós. Por isso, em todas as fases de sua vida, pense sempre que tipo de pessoa você será para sua família, para os seus amigos, para o mundo. E dependendo de sua escolha não há porque pensar que ser velho é assustador. E minha avó quem o diga… como é bom um chimarrão com ela!