Grupo de hackers chegou a derrubar site da Assembléia gaúcha como forma de apoio ao músico. Doutora em Comunicação avalia mobilização em entrevista ao Portal novohamburgo.org.
Mônica Neis Fetzner [email protected] (Siga no Twitter)
O braço brasileiro do grupo de hackers LulzSec afirma, através do Twitter, ter sido o responsável pela queda do site da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, na noite de quarta-feira, 03. Os hackers protestam contra o processo ao músico gaúcho Tonho Crocco.
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Antônio Carlos Crocco criou o rap Gangue da Matriz, no qual cita os 36 parlamentares que votaram pela aprovação do aumento de 73% em seus salários. O processo, assinada em janeiro deste ano pelo ex-presidente da Assembléia Legislativa e atualmente deputado federal Giovani Cherini (PDT), corre no Ministério Público – MP. Uma audiência preliminar de conciliação sobre o caso está marcada para o dia 22 de agosto.
A própria Assembléia Legislativa – AL gaúcha pretende barrar o processo. Segundo o superintendente-geral da AL, Ricardo Haesbaert, se houver a possibilidade de interrompê-lo, o atual presidente, Adão Villaverde (PT), intercederá a favor de Crocco.
“Vou ter que pagar cesta básica pelo que fiz? Vou ter que retirar a música? Vou ter que me retratar? Não existe. Pretendo levar esse processo adiante”, afirma o músico. “Se o Ministério Público não arquivar no dia 22, vou levar [o caso] até o fim porque não me considero culpado e acho que tenho direito de exercer minha cidadania, minha crítica. Sou músico, não sou político, e minha manifestação foi desse jeito. Não quero que se abra esse precedente para as pessoas terem medo de se manifestar.”
Cherini afirma que o rap de Crocco se insere nos crimes contra a honra, do Código Penal. “Não levanto uma palha sobre esse assunto. Não sou mais presidente da Assembléia. Não tenho nenhum interesse. Não é minha ação. O autor é o Ministério Público”, afirmou ao portal Coletiva.net.
Usuários de redes sociais protestam contra
“tentativa de cercear a liberdade de expressão”
O processo se tornou público nesta semana, gerando diversos protestos nas redes sociais, como o ataque dos hackers. “Devemos ir ao ativismo protestar manifestar com voz assim como o cidadão @tonhocrocco limpar a poeira da garganta”, reclama o @lulzsecbrazil, no Twitter. “Pela liberdade de expressão, tô c/ @tonhocrocco! Se tiver movimento na rua em Porto Alegre, contem comigo”, escreveu o humorista gaúcho Rafinha Bastos em sua página do microblog.
No Facebook, o manifesto #FreeTonhoCrocco (“free” significa “livre”, em inglês”) contava com 6.973 confirmações de presença, às 15h15min desta quinta-feira, dia 04, no Foro Central da Comarca de Porto Alegre no dia 22 de agosto, data da audiência preliminar. “É importante que toda a sociedade se mobilize contra esta tentativa torpe de cercear a liberdade de expressão deste notável e respeitável artista”, escreveu o criador do evento na rede, Dudu Correa.
“Proponho a todos aqueles que discordam da atitude do excelentíssimo deputado, que compareçam ao Foro Central da Comarca de Porto Alegre para manifestar apoio e solidariedade à causa de Tonho Crocco, que nada mais é do que a causa de cada um de nós, gaúchos e gaúchas, que pagamos o salário de R$ 20.042,34 a cada deputado e deputada estadual”, completa.
O fenômeno das mobilizações nas redes
sociais sob a visão de quem o estuda
A doutora em Comunicação e professora da Universidade Feevale Neusa Ribeiro (foto ao lado) avalia o fenômeno de mobilização democrática através das redes sociais como sendo positivo. “Tem mais é que botar a boca no trombone”, brinca em entrevista ao Portal novohamburgo.org. Destaca, no entanto, que é preciso atenção para com as pessoas que acabam ganhando notoriedade nestes processos, como Tonho Crocco.
“Sem dúvida nenhuma o uso das redes sociais para mobilização é uma ferramenta necessária, especialmente no caso específico de chamar as pessoas para as ruas. As pessoas nunca deixaram de se mobilizar. O que hoje faz diferença é a agilidade e facilidade com que as pessoas têm acesso”, argumenta a professora Neusa.
A situação de Crocco vai ao encontro da opinião da professora Neusa. O músico foi integrante da banda Ultramen por 18 anos e é cantor solo há três. Agora é que vive seu maior momento de fama. “Não esperava isso. Em toda a minha vida, a música que mais fez sucesso foi essa. Não eram mais de 30 mil acessos [no Youtube] até a semana passada”, contabiliza. Nesta quinta-feira, o número passava de 96 mil.
“É importante levar essa velocidade que as redes sociais proporcionam em consideração”, pondera Neusa. “A ascensão e a queda de uma pessoa nestes processos das redes sociais são muito rápidas, o que pode torná-los inconsistentes. Acredito que este, contra os políticos, é significativo e pode trazer alguma mudança, mas é um processo frágil, fluido.”
ACESSO – No entanto, alerta ela, há uma parcela da população que não tem acesso ao computador e, conseqüentemente, a estes movimentos. Segundo relatório divulgado pelo Ibope Nielsen em março deste ano, o Brasil atingiu a marca de 73,9 milhões de internautas – sendo a população brasileira superior a 190 milhões. “O número ainda é baixo, mas este tipo de movimento de chamamento é muito positivo”, salienta Neusa.
Confira abaixo a música de Tonho Crocco que deu início à polêmica:
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Com informações de Info, Coletiva.net, ZeroHora.com e G1
FOTOS: reprodução