Confira a matéria com a autora deste texto que foi premiado pela Academia Brasileira de Letras
”Foi de certa feita -a confusão. Imperador, intransigente, absoluto. Ele, o Século 21, exigia ciência sobre notório título. Quem poderia candidatar-se a tal pretensão? Mal iniciara os debates, no plenário do Planeta Terra, e já fora interrompido: -Sem dúvida que sou a mais importante! Sem mim o senhor não seria considerado ‘Uma nova Era’…- discursava a Senhora Tecnologia –
-Mentira, chefe, pois sem meus recursos e sistemas as pessoas não poderiam acompanhar os avanços tecnológicos e elogiar as suas novas conquistas, deixando seus milenares e antepassados para trás, então…
-Quanta bobagem!- retrucou a novata Internet-Tanto um, quanto o outro necessitaram de mim para serem conhecidos mundialmente. Se não fosse eu, vocês continuariam em desuso!
De súbito, os ouvintes eram tomados por um silêncio ensurdecedor e após ouvir a declaração da Internet, de uma maneira quase instigante, a Informação calou-se enquanto falou a Medicina – Ora, ora, permita-me imaginar o porquê de tanta perda de tempo… Parece que estão reunidos a fim de descobrir quem levará o título de mais importante, não é? Será que não percebem que…
-Ah, não vale!-interrompeu a Economia-Ela já levou o prêmio no Século passado.
-S I L Ê N C I O!!!… -O grito ecoou os quatro cantos do mundo e fez com que Medicina e Economia, atônitas, parassem com a invejosa disputa para ouvir a temida Ordem.
O Século desculpou-se e, após voltar à calma, colocou a palavra à disposição. A Ciência, com o consentimento do anfitrião, continuou: -Basta! Não importa saber quem é o mais importante… Estamos sem controle da situação. Mesmo que saibamos quem merece ser nosso novo líder, não há como esconder a verdade: devemos fazer algo logo para salvar o 21!
E o barulho recomeçou. Todos falavam ao mesmo tempo, sem entender ou ouvir nada do que se tentava explicar, quando ele surgiu. Os olhares se voltavam e ninguém, ao ver sua presença, prosseguira a discussão.O Poder, representando o Conhecimento, a Leitura e a Educação, que até então jamais participaram das reuniões anteriores, ocorridas em outros séculos, incondicional, pediu a palavra.
-Não dê ouvidos a ele, Século. Esses aí nunca vieram a nenhuma reunião. Tenho gráficos quantitativos que comprovam isso…-afirmou a Economia, prestes a iniciar longo um desentendimento.
– É verdade! Por que vocês vieram só agora? A Informação, sem paciência, perguntou.
-Para mostrar algo a vocês. Vejam, está aqui dentro. –declarou o Poder.
-Livros?! Por quê?- quis saber a curiosa Ciência.
Num ato impulsivo, a Ordem estendeu a mão e examinou o pacote. Retirou alguns Livros e,enquanto passava-os adiante, a Medicina perguntou:
-O que eles têm a ver com nossa discussão?Por que devemos olhá-los?
Imediatamente o Poder calou-se, para a fala triunfal da Educação: -Abram-os lentamente, apreciem, degustem… Logo verão que somente isso não basta. É preciso lê-los! Vivenciá-los!
-Então- interrompeu o Conhecimento– serei apresentado e construído a cada página, através de cada nova Leitura…Assim- concluiu- o maravilhoso Mundo dos Livros será difundido e estará ao acesso de todos, de forma que não mais viveremos em duas sociedades distintas, letrados e não letrados, mas sim no Século 21, tempo em que os Livros terão uma ampla importância, não só para a Educação.
E foi deste modo, que todos concordaram e admitiram que os Livros, mesmo não fazendo parte da conferência, eram os mais importantes do plenário, pois sem eles ‘Tecnologia’, ‘Internet’, ‘Informação’, ‘Medicina’, ‘Economia’, ‘Poder’, ‘Ordem’, ‘Conhecimento’, ‘Leitura’ ou ‘Educação’ não salvariam o Século. E a paz voltou a reinar.”
Quando li esta história aos meus alunos, percebi que muitos se comoveram. Não por ter sido escrita por mim, mas pela sua mensagem. Acredito na bandeira da Educação, da Leitura e do acesso aos livros, lutas pelas quais batalho insistentemente, semeando, a minha maneira, a importância dos livros. Mesmo optando por escrevê-la de forma universal, e sabendo que muitos países já têm esta conscientização, penso que ainda há muito que se fazer quanto ao fomento da leitura, sobretudo no Brasil, um país rico em diferentes culturas, crenças e folclore, dotado de artistas, músicos e grandes talentos, com um vasto e fértil solo literário, repleto de magníficas obras e seus(suas) autores(as). Creio que, acima de tudo, os valores mencionados no final do texto acima serão valorizados. Não nos interessa, pois, saber quem é o mais importante. Não temos outra certeza de que a leitura é importante, senão um direito de todos! O futuro do Brasil no Século 21 está em nossos livros, quero dizer, em nossas mãos…
Texto: Edilaine Vieira Lopes