A Polícia Civil indiciou duas freiras por supostos crimes de racismo, maus-tratos e tortura contra idosos de um lar em Santa Maria. As denúncias foram feitas em 2019, quando as religiosas trabalhavam na instituição.
As investigações apontaram que as freiras submeteram pelo menos quatro idosas a torturas físicas e psicológicas entre 2018 e 2019. Episódios de maus-tratos foram presenciados por funcionários do Lar das Vovozinhas, de onde as religiosas foram afastadas em definitivo de suas funções após pedido do Ministério Público no ano das denúncias.
– Conseguimos ter indícios probatórios bastante fortes em depoimento de várias testemunhas, todas no mesmo sentido, confirmando as denúncias. Acreditamos que aconteceram mais fatos, mas conseguimos indícios fortes durante a instrução do inquérito em relação a quatro idosas que seriam as vítimas – disse a delegada Débora Dias, da Delegacia de Proteção ao Idoso.
Segundo relatos às autoridades, Terezinha Benetti, 76 anos, e Marli do Carmo Pena, de 59, praticaram uma série de abusos durante os cuidados às idosas, incluindo um episódio em que uma das assistidas foi trancada nua no banheiro como castigo por ter perdido uma chave de um dos quartos.
Em outro caso, uma das freiras teria derrubado uma idosa da cadeira de rodas usando jato de água. Também foram reportadas situações como racionamento de sabonetes e realização de curativos e suturas inadequados.
‘Negra não pode misturar com brancos’
O episódio de racismo teria ocorrido durante um evento promovido pela instituição em 2019. Na ocasião, foi organizado um desfile entre as idosas do lar, do qual uma das assistidas teria sido impedida de participar em razão da cor da sua pele. A idosa relatou que foi chamada de “negra fedorenta”.
– Duas pessoas que estavam visitando essa idosa foram conversar com ela, que estava chorando porque tinha sido impedida de ir ao evento. Ela foi impedida porque a religiosa disse que ela era negra e não podia se misturar com os brancos. É uma questão bem clara de racismo – afirmou a delegada.
Após as denúncias, as religiosas foram suspensas de suas atividades no Lar das Vovozinhas, que abriu uma sindicândia para apurar suas condutas na época do ocorrido. As freiras integravam uma equipe multidisciplinar e não estão mais na cidade.
– É uma questão que está correndo na Justiça, o que nos cabia foi feito na época, que é a abertura de sindicância e encaminhamento. Nós, enquanto instituição, reconhecemos a história de trabalho da congregação católica aqui dentro do lar. Este é um fato isolado – afirmou Liliane Mello, vice-presidente do Lar das Vovozinhas, instituição filantrópica que completa 75 anos em outubro.
Informações: O Globo
Foto: Aliocha Maurício/Arquivo AEN