Organização acredita que é preciso oferecer acompanhamento médico completo, proteção social, comida e trabalho para dependentes.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Segundo especialistas da ONU e da OMS – Organização Mundial da Saúde, a internação compulsória de dependentes de crack não é a maneira mais eficiente de se lidar com o problema do vício.
Em entrevista para a BBC Brasil, o médico italiano Gilberto Gerra, chefe do departamento de prevenção às drogas e saúde do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime disse ser necessário oferecer aos viciados “serviços atrativos e uma assistência social sólida”.
“Uma boa cura de desintoxicação envolve tratamento de saúde, inclusive psiquiátrico para diagnosticar as causas do vício, pessoas especializadas e sorridentes para lidar com os dependentes e incentivos como alimentação, moradia e ajuda para arrumar um emprego”, diz Gerra.
Segundo Gerra, a internação compulsória deve ocorrer pelo prazo máximo de algumas semanas e só se justifica quando o dependente apresenta comportamento perigoso para a sociedade ou para si próprio.
Ele afirma ainda que os países democráticos devem “estar atentos” ao sistema de internação compulsória para não transformar isso em uma “rede” de tratamento para lidar com o problema.
Para o médico australiano Nicolas Campion Clark, da direção do abuso de substâncias da OMS, a internação compulsória traz o risco de “criar uma barreira com o dependente” e afetar sua confiança, dificultando o tratamento.
“É melhor encorajar o sistema voluntário de tratamento. É difícil forçar alguém a se tratar. Se você oferecer uma chance para as pessoas se recuperarem e terem comida, alguns vão agradecer, outros vão querer voltar para onde estavam”, afirma Clark.
O médico cita também o programa brasileiro que permite às grávidas viciadas em crack obter tijolos e materiais para construir casas em troca de tratamento. “Isso dá instrumentos para que elas façam algo diferente em suas vidas”, afirma.
Segundo Rosângela Elias, coordenadora de saúde mental, álcool e drogas da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, as propostas do governo paulista para o tratamento dos usuários de crack estão de acordo com as premissas da ONU e da OMS.
O governo paulista iniciou em parceria com a Justiça no dia 21 de janeiro, um plantão jurídico em uma clínica especializada no tratamento de dependentes químicos no centro da capital. A medida gerou polêmica e atraiu críticas de ativistas de direitos humanos, contrários à internação forçada e que temiam o uso da polícia para levar viciados para tratamento.
Até agora, nenhum paciente foi internado por ordem judicial e menos de 10 foram internados involuntariamente (a pedido da família, mas sem ordem da Justiça), segundo Elias.
Segundo ela, o estado de São Paulo mantém ainda cerca de 300 vagas em moradias assistidas. Nelas, o viciado em crack em processo de desintoxicação recebe por até seis meses um local para morar, alimentos e incentivos para voltar ao mercado de trabalho.
Nesse período, também é incentivado a frequentar clínicas públicas especializadas onde recebe atendimento clínico e psicológico. De acordo com Rosângela, há uma mobilização de secretarias estaduais e municipais para ajudar o dependente químico em recuperação a se reinserir na sociedade.
Informações de BBC Brasil
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