O hamburguense Jorge Strassburger conta por que apostou 42 anos o mesmo número na loteria estadual
Você lembra daquela propaganda que dizia que “sou brasileiro e não desisto nunca”? Eis que um destes incansáveis que inspiraram a criação da peça publicitária mora em Novo Hamburgo, no bairro Vila Nova. Ou o que dizer de alguém que por 42 anos jogou o mesmo número na loteria?
Este é o torneiro mecânico Jorge Emílio Strassburger, que só parou de apostar na Loteria Estadual por que ela foi extinta. O resultado de toda esta persistência foi um gasto de mais de R$ 21 mil em quatro décadas, um fardo de mais de 11 quilos de bilhetes e nenhum retorno (só pequenos prêmios com o valor do bilhete e outro pago pela antiga aproximação). Jorge nunca ganhou. Porém, nunca desistiu.
“O desejo de todo proletário é fazer um pé de meia. Como trabalhando isso dificilmente acontece, a gente tenta ganhar na loteria. Para fazer um pé de meia no Brasil tem que ser político. Aí se pode votar a favor do aumento do próprio salário”, explica.
Em maio de 1962, Jorge comprou o seu primeiro bilhete com o número 19.537. Antes disto, porém, ele já jogava o 537. Ele acreditava que os números que mais eram sorteados tinham o final zero ou sete. Esta seria a única razão para a escolha do 19.537.
Jorge conta que, em 1980, quando tinha 49 anos, sua aposentadoria rendia quase oito salários mínimos, mas que hoje recebe apenas a metade disto. Por isto, continua tentando um dinheiro extra em outras loterias.
“Estou jogando em todas as extrações da Quina, Dupla Sena, Mega Sena. Jogo as mesmas 12 dezenas em dois jogos de seis dezenas em todas as extrações. O jogo mais barato custa para mim a quantia de cerca de R$ 60,00 por mês. Em todas as extrações da Lotomania custa R$ 48,00 por mês. E, de vez em quando, também jogo na Loteria Federal”, conta.
No tempo da Lotergs, Jorge não ia toda semana até a lotérica. Ele mantinha uma espécie de contrato com o dono de uma agência, ou com os donos, pois eles mudaram várias vezes nos anos de jogatina de Jorge. Ele recebia os bilhetes em casa e um cobrador o visitava uma vez por mês.
Seu maior prêmio veio por aproximação, na época que o governo do Estado pagava também por cinco números maiores e cinco menores do que o sorteado. “Saiu o 19.535 no primeiro prêmio e então fui premiado pela segunda aproximação. Mas se pagava uma mixaria na época”, recorda.
E por que Jorge insistiu sempre no mesmo número? Ele conta que seu medo era daquelas famosas histórias, de que um apostador parou de jogar depois de longos anos, mas outra semana seu ex-número acabou sorteado. Então, para quê arriscar?
Quanto ao destino dos bilhetes, Jorge se nega a jogá-los fora. “Já pensei em colocar no lixo, depois pensei que poderia ser um caso para o livro dos recordes, o Guiness. Também não sei se algo assim num livro de recordes seja compensado com algum prêmio em dinheiro” diz Jorge, que fala até em dividir o tal prêmio com quem o auxiliar no assunto.
Loteria estadual do RS
Última extração: maio de 2004
Jorge jogou: 42 anos, de maio de 1962 até maio de 2004
Total: 2.184 semanas (Jorge apostou em todas)
Prêmios: 555 bilhetes premiados com o mesmo valor do bilhete
Frustrações: 1.629 bilhetes não premiados
Peso dos bilhetes: 11,050 quilos
A Lotergs teve sua última extração em maio de 2004. Depois, sucumbiu às denúncias apresentadas por um de seus últimos presidentes, José Vicente Brizola. As irregularidades atingiram a imagem do governo do Estado e o sorteio foi extinto.
E se Jorge não jogasse nesses 42 anos?
Ele economizaria algo em torno de R$ 21.840,00 e poderia comprar:
• 31 televisores de 29 polegadas;
• 43 câmeras digitais;
• 87 telefones celulares;
• 5,5 televisores de plasma;
• 21.840 canetas esferográficas;
• e faltariam R$ 150 para comprar um Fiat Uno zero km.
