![Falando dos próprios desejos 1 Falando dos próprios desejos](http://novohamburgo.org/colunistas/comportamento/img/0708_desejo.jpg)
Quem teve o privilégio de assistir a palestra de Carlos Arturo Molina Loza saiu com a idéia de que a construção de um casal e de uma família harmoniosa não é tarefa fácil. Porém, as pessoas puderam levar para casa uma “mala” interna cheia de reflexões e dicas para ampliar sua colaboração pessoal para com os relacionamentos e, conseqüentemente, fazer sua parcela pessoal para com a sociedade.
Falo em sociedade porque, como diz Molina, o casal é a célula da sociedade, apesar da própria sociedade não estar muito interessada nisso. O que interessa à sociedade é o consumo, aquilo que dá lucro. Divórcios certamente dão “lucro”. Construir uma família é fácil, mas construir uma família harmoniosa é tarefa árdua e de conquista diária. O casal, apesar de ser uma instituição, é uma das instituições que menos recebe atenção da sociedade.
O bom foi ver que em plena segunda- feira, quase 400 pessoas foram refletir sobre a vida do casal. Puderam rir, se emocionar e sobretudo normalizar algumas situações que geralmente costumamos personalizar, ou seja, achar que somente acontece a nós.
Algo muito importante foi ouvirmos sobre a necessidade de deixar claro o que queremos e esperamos do outro ou de nós mesmos. Ser capaz de falar abertamente dos desejos de cada um. Molina trouxe um exemplo muito ilustrativo quando comentou que num casal a mulher tem vontade de ir ao cinema e pergunta ao marido: vamos ao cinema? Este diz: você quer? Quando poderia dizer sim ou não.
Ela mais do que depressa disfarça o seu próprio desejo e diz: Se você quiser… Agora já não é mais ela que quer ir ao cinema, já coloca o desejo e responsabilidade nele. Podemos ir, diz ele. Então ela fala: mas se você não quiser… Eu vou, diz ele, se você quiser. Eu quero se você quer, diz ela.
Ele pergunta: que filme vamos ver? Ela diz: escolhe você. Ele diz: não, escolhe você. E é neste momento que começa o jogo do empurra, empurra. Se der sorte e o filme for bom, o casal pode sair dizendo: ainda bem que fomos ao cinema. Mas se o filme for ruim, bem aí a coisa complica e podem começar a brigar. O filme que “você” quis ver foi horrível. Como assim, o filme que eu quis ver, você é que quis. Não mesmo, responde o cônjuge. Fui, porque você quis, e assim por diante.
Poder deixar claro o que se quer não é tarefa fácil, principalmente para nós mulheres, que fomos treinadas a dizer frases do tipo: imagina, não precisava se preocupar comigo. Não se incomode comigo, qualquer coisa serve para mim. O que vier vem bem, não precisava passar por todo este trabalho por mim, etc…
Acostumamo-nos a aceitar externamente qualquer coisa, mas internamente fazemos nossas greves pessoais. Pensamos que o outro deve adivinhar o que esperamos. Algumas pessoas me dizem: Cris, ele me conhece, ele sabe o que espero e quero dele. Quando vou ver o dito, “ele” não sabe nada. Isto porque não ficou claro o desejo.
Falar abertamente o que queremos gera mais intimidade ao casal e intimidade é bom para a alma, para o relacionamento afetivo e para o sexo. Podermos treinar nas pequenas coisas, expor os nossos desejos é exercitar para fazermos colocações mais sérias, pessoais e íntimas, como em relação à sexualidade.
Se não podemos expressar nosso desejo sobre onde gostaríamos de jantar, como podemos falar sobre onde queremos ser tocados ou de que maneira que queremos ser agradados? Exercitem-se na clarificação e exposição de seus desejos. Suas vontades não podem ser lidas na mente.