Há muitos anos atrás atendi um paciente que chegou até mim com um grande dilema: estava apaixonado por duas mulheres. O problema é que a benção que ele havia recebido o estava deixando maluco. Benção porque ele nunca havia imaginado que poderia ser amado e desejado por duas pessoas tão maravilhosas.
Uma delas tinha um jeito esportivo de ser. Era jovial, alegre, divertida, com uma beleza moderna. Era atuante profissionalmente, o que lhe provocava grande admiração e, principalmente, proporcionava para ele muitas coisas que sequer havia imaginado. A outra mulher era mais clássica, muito fina e respeitosa. A típica pessoa a qual você pode confiar os seus piores segredos. Era mais voltada à família e lhe conferia um grau de confiança, tranqüilidade e, principalmente, proporcionava a ele muito além do que já havia imaginado.
Atreva-se a jogar a primeira pedra quem nunca viveu uma situação assim. Na época eu tentava achar algum problema em uma delas. Ou nele. Quanto mais eu procurava por alguma coisa que pudesse ajudá-lo em sua escolha, mais entendia o seu problema. As duas eram excepcionais. Mas se ambas eram fantásticas, a escolha não deveria ser mais fácil?
Foi então que lembrei de um episódio, quando meus filhos eram pequenos. Eu entrei com um deles em uma grande loja de brinquedos e disse que ele tinha o direito de levar um deles para casa. Aí então começou o dilema do meu filho e um problema para mim. Ele pegava um brinquedo e dizia: é esse daqui. Mas daí olhava para outro e dizia: não, é este outro. Então largava o outro. Aí então voltava o olhar ao que ele havia largado e o pegava de volta. Imaginava até que outro menino poderia pegar o brinquedo que ele estava deixando e o pegava de novo. Ele poderia passar uma vida naquele ritual de pega-e- larga. E não aproveitando nenhum deles. Eu, em contra partida, acabei ficando esgotada naquela situação de espera. Quando eu vi, já havia se passado uma hora e lá estava eu, esperando.
Não é tão fácil quanto parece fazermos escolhas. Mas este talvez seja o grande desafio de quem quer se tornar “gente grande,” fazer escolhas e arcar com as conseqüências destas escolhas. Toda escolha implica em perda de alguma coisa.
Primeiro precisamos estar dispostos a perder, para então podermos ganhar. Quando já somos adultos não é fácil escolher entre um Audi e um Mercedes. Ambos são maravilhosos. Acho até que neste caso eu serei acusada de ser machista, mas imaginem então escolher entre duas mulheres maravilhosas. Não é fácil, não. É difícil ter que virar “gente grande” e saber que não poderemos ter tudo o que queremos.