![É preciso ser um para ser dois 1 É preciso ser um para ser dois](http://novohamburgo.org/colunistas/comportamento/img/2706_manfro.jpg)
“Fico chateada quando é apenas nove horas de domingo e ele já quer ir embora, diz que precisa trabalhar no outro dia, mas penso que não é isso. Penso que ele não quer ficar comigo. Está certo que ficamos sexta, sábado e domingo juntos, mas porque ele quer ir tão cedo embora??? Ele sai chateado e eu fico emburrada.”
Este diálogo já ouvi centenas de vezes. Geralmente, ele provém de mulheres, mas também tenho ouvido de homens, que foram acostumados a terem 100% de atenção.
Quando se gosta muito de alguém, é difícil não querer se fundir, não se tornar um ser único, mas quando isso começa a acontecer, quando o casal deixa de ter vida independente da relação, alguém começa a morrer, às vezes os dois.
É impossível dois serem um, a não ser que alguém morra. Não estou falando da morte morrida, mas da morte psicológica que algumas pessoas vivem por deixarem seus projetos, seus desejos, seus objetivos de vida em função do outro.
Fica muito bonito em poemas, frases de efeito do tipo: Minha vida é você! Sem você não sou nada! Você é minha felicidade! Você é o ar que eu respiro! Morro sem ti! Lindo, não? Quem não gosta de escutar frases assim?
Nos sentimos poderosos, faz bem para o ego, para a estima, para a pele, para tudo, mas é muito perigoso. Caso a pessoa amada vá embora, o que resta? Nada!
Conheci uma menina de 16 anos que queria morrer quando perguntei o que estava havendo. Ela respondeu: “Meu namorado não me quer mais e ele é minha vida.” Se ele é a vida dela e ele vai embora, a vida dela não existe mais. Este é apenas um dos perigos de um tipo de relação que se pode chamar de fusionada.
O outro problema está em querer controlar tudo da vida do outro. Controlar as ligações telefônicas, as mensagens do computador, onde está, a que horas volta, com quem está andando. Não como cuidado, mas como controle.
Para algumas pessoas, só falta comprar uma coleira para colocar no outro, esperando que responda as vozes de comando: senta, deita, rola e, claro, principalmente, a palavra: junto. Junto, isso junto.
Deixar de existir como ser independente traz ansiedade, angústia e um medo aterrorizante de perda. É viver sofrendo e fazendo sofrer. É perder a alegria do compartilhar, do se relacionar e substituir pelo controlar.
Com angústia, nenhum relacionamento pode ser prazeroso. Ninguém pode funcionar como posto de gasolina sem acabar se sentindo cansado e enfraquecido. Para um relacionamento ser bom, é preciso um constante exercício de estar perto e longe.
Até os bebês sabem da importância de estar perto e estar longe. Eles treinam esse movimento quando jogam seus brinquedos para alguém pegar, a pessoa devolve e eles jogam de novo, treinam assim o estar com e o estar sem e conseguem sorrir, pois confiam!
É muito bom estar ao lado da pessoa que se ama, mas isso não significa estar dentro uma da outra. Aí é perigoso passar a viver como parasitas, ou a alimentar parasitas. Parasitar e amar são palavras que não combinam. Amar é compartilhar e não sugar. Sejam um para serem dois e, assim, ser verdadeiramente felizes.