“Memória é invenção!” Foi a primeira frase que me veio à cabeça quando pensei em escrever este texto. “E cinema é memória e invenção!” Completou minha versão estudante de cinema há uns 15 anos. Chamei minha professora da época para localizar os autores. Bergson e Deleuze foram os culpados dessas reflexões.
Em 2017, a partir de convite da Simples Assim e da Vale TV, eu escrevi e dirigi o documentário Movimentos – 90 anos de Novo Hamburgo. Foi uma das maiores experiências de cinema e memória que já vivi. Dezenas de entrevistados que deixaram nosso filme plural e costuraram a história da cidade desde a sua emancipação.
Eu e a equipe andávamos pela cidade encontrando histórias nas vozes de personagens históricos, inclusive de alguns que infelizmente já não estão mais por aqui, como Alceu Feijó, Aurélio Decker, Vó Nair, Kinho Nazário, Alceu Mosmann, Níveo Friedrich e Roswitha Brock. Era muita história. Ainda temos muito material inédito que pode (e deve!) ser explorado em outras produções.
Mas para simbolizar essa relação dos personagens com a criação da memória através do cinema, quero citar em especial Aurélio Decker, grande jornalista que nos deixou recentemente. A entrevista dele para o Movimentos me marcou muito, esclarecendo processos da cidade que eu, que cheguei guri no começo do século, percebia, mas não compreendia. Foi uma virada de chave tão marcante para mim que convidei o Lelo para participar do meu primeiro longa ficcional (Espiral), onde ele interpretava…. Um crítico dele mesmo.
Termino fazendo um apelo para que a gente continue ouvindo e vendo uns aos outros. Produzir filmes (e arte em geral) é criar memória, produzir sobre a nossa terra é construir nossa história.
*Por Leonardo Peixoto.