No contexto do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, o Jornal O Vale volta seu olhar para uma joia hídrica do Vale do Sinos que merece atenção especial: o Rio dos Sinos. Com cerca de 190 quilômetros de extensão, é fonte vital de água e, também, um símbolo da importância da preservação dos recursos naturais.
O rio não é apenas um curso d’água, é uma história viva da região. Um tesouro.
A bacia hidrográfica é formada por 30 municípios total ou parcialmente dentro desta configuração geológica, que ocupa uma área de 3.694 km², entre elas, cidades como São Leopoldo e Novo Hamburgo, fornecendo água para consumo, agricultura e indústria. No entanto, ao longo dos anos, enfrenta desafios como a poluição industrial e o despejo inadequado de resíduos.
Para ressaltar a importância desse recurso natural, a comunidade do Vale do Sinos celebra, em 17 de março, o Dia do Rio dos Sinos, estabelecido por uma Lei Estadual de 2004. Esse evento anual não apenas conscientiza sobre a conservação do rio, mas também destaca os esforços contínuos para restaurar e proteger suas águas.
Proteção que deve ser todos nós e é, também, papel do Parque Natural Municipal Banhado da Imperatriz, em São Leopoldo. Com 708 hectares, a maior parte (694 hectares) serve de unidade de conservação ambiental e a outra parte (14 hectares), é destinada para área de lazer. Essa área serve como filtro das águas dos Sinos e, também, como uma espécie de “esponja” que absorve grandes quantidades de água da chuva e evita enchentes.
O parque é, ainda, um refúgio para a vida selvagem e uma fonte de recreação para os moradores locais, com trilhas sinuosas, vegetação exuberante, oferecendo uma experiência de contato íntimo com a natureza. O secretário de Meio Ambiente de São Leopoldo, Anderson Etter, destaca que, além de espaços de lazer, o parque também é local destinado à prestação de serviços para a comunidade.
“Além de todo espaço de preservação e lazer, o parque abriga alguns serviços que são importantes para o município, como, por exemplo, Observatório de Mudanças Climáticas, o Jardim Botânico, o Herbário, o Viveiro Municipal, os departamentos de arborização urbana e de áreas protegidas, entre outros”, diz.
Além disso, o Banhado da Imperatriz é um ecossistema vital que abriga uma variedade de espécies de aves, répteis e mamíferos. A importância ecológica é inegável, servindo como um pulmão verde em meio ao cenário urbano em constante expansão.
Soma-se a tudo isso o fato de o parque ser importante para preservação do meio ambiente fora da delimitação territorial do espaço, uma vez que, por meio do Viveiro Municipal, é possível que cada cidadão leopoldense possa retirar, anualmente, três mudas de árvore e receber as orientações de um profissional sobre o cuidado das mesmas.
Mas o espaço nem sempre foi assim. Até 2006, ano que o Parque foi fundado, a região que hoje é destinada à preservação era uma área de moradias irregulares. “O maior desafio não é nem manter o parque em operação, mas acredito que tenha sido fundar ele. Era uma região com muito lixo, as pessoas estavam em situação de extrema vulnerabilidade. Foi preciso tirá-las daquela região e garantir que ficassem em segurança. Foi um investimento vultoso, mas que valeu a pena”, diz Etter.
Atualmente, o Imperatriz é mantido com recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente e é aberto ao público. O local ainda conta área de lazer e recreação, churrasqueiras, canchas de bocha, quadras de vôlei e de futebol e pracinha infantil. É aberto ao público de terça a domingo, das 8h às 18h.
Cidade “esponja”: opção contra enchentes
O Rio Grande do Sul foi fortemente atingido por um período de chuvas intensas recentemente. Cidades foram devastadas pela força dos rios. Em São Leopoldo, a chuva também causou danos, mas espaços como o Parque Natural Municipal Banhado da Imperatriz são fundamentais para minimizar o impacto das mudanças climáticas.
Isso acontece por causa de um conceito conhecido como cidade “esponja”. Trata-se de algo cada vez mais relevante em um mundo onde os eventos extremos do tempo se tornam mais frequentes. Refere-se à capacidade de uma cidade de absorver, armazenar e reutilizar eficientemente a água da chuva e outras fontes, minimizando assim os problemas das enchentes e aumentando a resiliência urbana. Com sua vasta área verde, desempenha um papel vital nessa abordagem.
Ao agir como uma esponja natural, o Parque Imperatriz absorve grandes quantidades de água da chuva, evitando o escoamento superficial rápido que muitas vezes leva a enchentes nas áreas urbanas. As vegetações densas e as superfícies permeáveis do local ajudam a filtrar a água da chuva, recarregando aquíferos subterrâneos e alimentando riachos e nascentes que fluem para fora do parque.
“O parque funciona como um reservatório natural, armazenando água durante os períodos de chuva e liberando-a gradualmente durante os períodos de estiagem. Isso não só ajuda a regular o fluxo de água na cidade, mas também fornece uma fonte vital de água para a vegetação circundante, mantendo a biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas locais”, frisa o secretário de Meio Ambiente de São Leopoldo, Anderson Etter.
Preservar o rio passa pelo tratamento da água
Em 2006, o Rio dos Sinos foi cenário de uma das maiores tragédias ambientais do Estado. A união de fatores como a contaminação por esgoto doméstico, uma carga de chorume lançada pela empresa Utresa e a baixa vazão do rio fez com que mais de 1 milhão de peixes morressem. Desde então, ações de fiscalização foram realizadas. Porém, de acordo com dados de 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio dos Sinos é o quarto mais poluído do Brasil.
Segundo a presidente do Comitesinos, Viviane Feijó Machado, um dos principais fatores poluentes é a falta de tratamento do esgoto nas regiões urbanizadas. “A poluição no Rio dos Sinos ocorre principalmente devido à falta de tratamento de esgoto sanitário, pois está em uma área urbanizada, localizado na região metropolitana, com baixo tratamento de esgoto. É necessário investimento em tratamento de esgoto nas áreas rurais e urbanas, bem como a recomposição da vegetação nativa das matas ciliares.”
Nesse contexto, o Parque Imperatriz se torna uma ferramenta importante de controle da poluição. “Os trechos médio e alto Sinos possuem um alto grau de preservação, um destaque são as nascentes localizadas no trecho alto do rio. No baixo Sinos, apesar de ser uma região extremamente urbanizada, temos o Parque Imperatriz, uma unidade de conservação com preservação de flora e fauna”, diz a presidente.
*Por Larissa Brito.