Ele é companheiro de jornalista que revelou espionagem dos EUA. David Miranda foi parado por 9 horas no aeroporto ao voltar de Berlim. Ato é “injustificável” para Itamaraty.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
O brasileiro David Miranda, de 28 anos, chegou ao país nesta segunda-feira, dia 19, após ficar detido por quase nove horas no domingo, dia 18, por oficiais da Scotland Yard no aeroporto de Heathrow, em Londres, quando tentava voltar ao Rio de Janeiro, onde mora, como mostrou o Bom Dia Brasil.
Ele é companheiro de Glenn Greenwald, jornalista norte-americano que revelou a estratégia de espionagem eletrônica do governo dos Estados Unidos, feita pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).
Segundo o jornal britânico “The Guardian”, David Miranda retornava de uma viagem a Berlim quando foi parado por oficiais às 8h30min (horário de Londres) e informado de que iria passar por um interrogatório.
Glenn Greenwald
“Eu fiquei numa sala, tiveram seis agentes diferentes, entrando e saindo, falando comigo. Fizeram perguntas sobre a minha vida inteira, sobre tudo, levaram o meu computador, videogame, celular, meus memory cards, tudo”, contou Miranda, ao desembarcar no Aeroporto Internacional do Rio.
O jornalista Glenn Greenwald disse que, se as autoridades britânicas tinham a intenção de intimidá-lo ao interrogar David Miranda, agora mesmo é que ele vai publicar ainda mais documentos e informações a respeito de espionagens.
“Eu vou fazer reportagens com muito mais agressão do que antes, eu vou publicar muito mais documentos do que antes. Eu vou publicar muitas coisas sobre a Inglaterra também. Eu tenho muitos documentos sobre o sistema de espionagem da Inglaterra. Agora o meu foco vai ficar lá também. E acho que eles vão se arrepender do que fizeram”, afirmou.
O caso chegou até ao Parlamento britânico, onde a oposição vai cobrar explicações do governo sobre a detenção do brasileiro. O Parlamento também se manifestou na manhã desta segunda-feira, dia 19, afirmando que vai questionar o procedimento da polícia britânica.
Ato é “injustificável” para Itamaraty
No domingo, dia 18, o Itamaraty se manifestou sobre o ocorrido e classificou o ato como “injustificável”, avisando que o “governo brasileiro espera que incidentes como o registrado hoje com o cidadão brasileiro não se repitam”.
“O Governo brasileiro manifesta grave preocupação com o episódio ocorrido no dia de hoje em Londres, onde cidadão brasileiro foi retido e mantido incomunicável no aeroporto de Heathrow por período de 9 horas, em ação baseada na legislação britânica de combate ao terrorismo. Trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida legislação. O Governo brasileiro espera que incidentes como o registrado hoje com o cidadão brasileiro não se repitam”, afirmou em nota o Itamaraty.
Os oficiais agiam de acordo com lei do Ato Terrorista, de 2000, que permite a interceptação de indivíduos, pesquisa e aplicação de interrogatório em aeroportos, portos e áreas de fronteira.
Liberado somente às 17 horas (horário de Londres), o brasileiro ficou detido por nove horas, o máximo permitido pela lei. Segundo o “Guardian”, 97% das pessoas que passam por esse escrutínio não ficam detidas por mais de uma hora. Apenas um entre 2 mil indivíduos foi mantido sob custódia por mais de seis horas. Sem acusação, Miranda foi liberado.
Scotland Yard não fala sobre motivos
Segundo o “Guardian”, a Scotland Yard se recusou a comentar quais motivos levaram seus oficiais a parar Miranda.
“Isso é um profundo ataque à liberdade de imprensa e ao processo de apuração das notícias”, declarou Greenwald ao “Guardian”. Desde de 5 de junho o jornalista revela como funcionam os esquemas de ciberespionagem da NSA, com base nas informações vazadas pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden .
“Deter meu companheiro por nove horas enquanto negava um advogado a ele e depois tomar grandes quantidades de seus pertences é claramente uma tentativa de mandar uma mensagem de intimidação àqueles que como nós temos reportado sobre a NSA e a GCHQ”, disse.
“As ações do Reino Unido configuram uma séria ameaça aos jornalistas”, concluiu.
Em audiência pública no Senado Federal brasileiro no começo do mês, o jornalista afirmou que o modelo usado para acessar ligações e e-mails pessoais começou no Afeganistão e no Iraque, países que foram alvo de invasão de tropas dos EUA em 2001 e 2003, respectivamente.
No início de julho, reportagem do jornal “O Globo” assinada por Greenwald revelou que, na última década, pessoas residentes ou em trânsito no Brasil, assim como empresas instaladas no país, se tornaram alvos de espionagem da NSA.
Informações de G1
FOTO: reprodução / terra