Mirela Manfro fala sobre “obsessão” pelo reality show. Em um dia, matéria sobre Paredão entre Natalia e Adriana teve o dobro de acessos das demais no Portal novohamburgo.org. –
Cristiane Cunda [email protected]
Quem nunca assistiu um capítulo do Big Brother Brasil, que atire a primeira pedra! Seja fã do reality show da Rede Globo, ou crítico ferrenho, todo mundo já deu uma “espadinha”, como diz o apresentador Pedro Bial.
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O programa chega a sua 11ª edição em 2011 e parece não ter esgotado a curiosidade dos brasileiros. Já são mais de 150 participantes. Em dia de Paredão, por exemplo, o BBB movimenta milhões de pessoas e dá picos inacreditáveis de audiência.
E não é só a Globo que aumenta seus Ibope. O interesse do público se expressa aqui mesmo, no Portal novohamburgo.org. Na última terça-feira, dia 15, a notícia que trazia números sobre quem seria eliminada, Natália ou Adriana, teve milhares de acessos. A soma de todos eles representava mais do que o total de acessos de matérias de outras editorias.
Também pudera. Antes de anunciar qual das “sisters” deixaria a casa, Pedro Bial revelou que aquele fora o Paredão que mais votos teve no Big Brother Brasil. Não falou, no entanto, quais eram os números.
Para entender o que mobiliza tanta gente em torno do reality show, o novohamburgo.org foi atrás da psicóloga hamburguense Mirela Manfro da Silva (foto). A profissional avalia o interesse por esse tipo de programa e dispara: as pessoas têm um grande desejo de observar a vida alheia e fofocar.
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Espetacularização
é tendência milenar
Mirela começa lembrando que o gosto pelo espetáculo é muito antigo. Faz alusão às lutas travadas pelos gladiadores. “Os gladiadores tentavam dar o melhor de si para um bom espetáculo e o fim geralmente era a morte (no caso do Big Brother, o Paredão). Os gladiadores eram assuntos do dia a dia das pessoas.”
O poder dado ao povo em eliminar alguém pode ser comparado, segundo a psicóloga, ao poder do imperador que levantava ou baixava o polegar para determinar a vida ou a morte do combatente. “O nosso ‘Big Brother’ é uma gladiadura pós-moderna”, compara.
A mobilização gerada pelo programa, nesse contexto, não pode ser desprezada. “O BBB tem mostrado ter uma capacidade enorme de repercussão, provocando debates acalorados, no mundo real e virtual. O impacto não deveria ser deixado ao acaso”, defende.
VIDA REAL – Mirela Manfro destaca que a graça do Big Brother reside exatamente no fato de não se saber ao certo o quanto existe de representação e de realidade no que é exibido. É um espetáculo que, ao mesmo tempo, pode ser de verdade. “Nos realitys shows a vida está exposta em cena”, explica a psicóloga.
Os participantes são pessoas comuns que podem ou não estar representando personagens. “Diferentemente de uma novela, em que há um roteiro, na casa do ‘BBB’ os participantes farão e dirão mais ou menos o que fariam e diriam na vida real, uma vez que não há como sustentar por muito tempo um personagem.”
Desejo: observar
a vida alheia
A vontade de observar a vida dos outros, a possibilidade de comentar livremente a respeito e imaginar-se protagonizando determinadas situações é o que atrai a atenção.
“As pessoas têm um grande desejo de observar a vida alheia e ‘fofocar’, e nos realitys elas podem fazer isso de forma consentida, com a desculpa de que é apenas um programa. Também é uma maneira de viver a vida do outro para assim não olhar a própria vida”, argumenta Mirela.
As relações e personalidades dos participantes são detalhadamente observadas pelos telespectadores. “O público aprecia a simpatia de um, a chatice do outro, a falta de mediação simbólica na relação com o outro. Fala-se o que quer, na hora que quer.”
ALERTA – A psicóloga chama a atenção para um risco grave: a dependência. De acordo com ela, a situação passa a ser preocupante no momento em que o indivíduo deixa de fazer as suas próprias atividades e passa a viver o programa 24 horas, através dos canais fechados. Com moderação, nada é proibido, sempre é bom lembrar. Nem espiar!
FOTOS
divulgação / BBB 11
arquivo pessoal / Mirela Manfro