Por Pe. João Renato Eidt
Diretor do Centro de Espiritualidade Cristo Rei – CECREI
A Quaresma é um período de 40 dias que antecede a Páscoa, caracterizado pela penitência, reflexão e preparação espiritual. Segundo o Padre João Renato Eidt, Diretor do Centro de Espiritualidade Cristo Rei – CECREI, esse tempo litúrgico inicia-se na Quarta-feira de Cinzas e se estende até a Quarta-feira da Semana Santa, sendo um convite à intensificação da oração, ao exercício da caridade e à prática do jejum e da abstinência.
Durante esse período, os fiéis são incentivados a se afastarem das distrações do cotidiano para refletirem sobre sua vida e aprofundarem seu compromisso com valores espirituais. O jejum e a abstinência, especialmente às sextas-feiras, são formas de renúncia que simbolizam essa busca pela simplicidade e pelo autoconhecimento, enquanto a prática da caridade fortalece o vínculo com o próximo.
Quaresma e Jesus Cristo
A inspiração para a Quaresma tem como referência a experiência de Jesus Cristo. Conforme destaca o Padre Eidt, antes de iniciar sua missão pública, Cristo passou 40 dias e 40 noites no deserto, dedicando-se à oração e à penitência. Esse período de preparação antecedeu sua jornada de pregação e reafirmou seu compromisso com sua missão.
Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo para salvar os pecadores, como afirma Paulo a Timóteo 1:15: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro” e o Lucas 19:10: “Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. Ele oferece redenção à humanidade através de seu sacrifício na cruz. Sua missão, anunciar o Reino de Deus, incluiu reconciliar a humanidade com Deus, rompendo a separação causada pelo pecado, infidelidade a Aliança, e confirmando a Aliança baseada no amor misericordioso de Deus.
Antes de iniciar publicamente sua missão, depois de ser batizado (Lc 3, 21-22), Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, onde passou 40 dias e 40 noites em oração, fazendo jejum e penitência. Foi um tempo de preparação em vista da missão de anunciar o Reino de Deus que o Pai lhe confiou.
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Significado do número 40 no Antigo Testamento
O Padre Eidt destaca que o número 40 aparece várias vezes no Antigo Testamento, geralmente associado a períodos de provação, purificação ou preparação. Diz ele que o dilúvio, por exemplo, durou 40 dias e 40 noites (Gênesis 7, 4-17), simbolizando a renovação da humanidade após a corrupção generalizada.
Outros exemplos apontados pelo Padre Eidt são:
Moisés no monte Horeb e a Aliança de Deus – Ex 14 e 15. Durante esses 40 dias, Moisés teve um encontro íntimo e prolongado com Deus. Este período simboliza uma profunda comunhão espiritual e uma transformação pessoal. Deus, por meio de Moisés, concluiu a Aliança com o seu povo. Nesse encontro acontecem três coisas importantes para Moisés e para o povo:
Deus dá a Lei. Foi no alto do Horeb que Moisés recebeu os Dez Mandamentos e outras instruções divinas para que o povo conhecesse a vontade de Deus.
Preparação para Liderança. Este período de 40 dias e 40 noites na presença de Deus também serviu como uma preparação intensa para Moisés em seu papel de líder. Além da lei divina, ele compreendeu melhor e mais profundamente os propósitos divinos.
Contraste com o Povo. Enquanto Moisés estava em comunhão com Deus, o povo caiu em idolatria (o episódio do bezerro de ouro). Esse episódio destaca o contraste entre a busca pela santidade e a tendência humana ao pecado.
A travessia do deserto – Ex 12…: O período de 40 anos da saída do Egito até a entrada na Terra Prometida foi uma consequência da falta de fé do povo. O tempo se prolongou e o povo passou por momentos de alegria, festa e júbilo, bem como revolta, frustração e desânimo. Por isso, foi um longo período de purificação e conversão. Podemos dizer que o deserto funcionou como um “laboratório espiritual”, onde a fé do povo foi testada e purificada. Foi uma transição da escravidão para a liberdade.
“Esta narrativa nos lembra que às vezes os ‘desertos’ em nossas vidas – períodos de dificuldade ou espera – podem ser tempos de crescimento, preparação e transformação essenciais para nosso desenvolvimento espiritual e pessoal”, destacou o Padre Eidt.
Jejum de Elias – 1 Reis 19,8: “Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e, com a força daquela comida, caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horeb, o monte de Deus.” Esse foi um tempo precioso na vida de Elias. A subida ao monte Horeb, ao longo dos 40 dias e 40 noites, prepararam seu coração e seu espírito para o encontro com Deus. Foi um período de purificação, fortalecimento espiritual e confirmação na missão.
Convite para os cristãos
Para os cristãos, a Quaresma não é apenas um período de sacrifícios, mas um tempo de transformação interior e de renovação do compromisso espiritual. O Padre Eidt destaca que essa vivência inspira os fiéis a refletirem sobre suas atitudes e a se prepararem para a Páscoa, um momento central da fé cristã.
“A Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa, é um tempo especial para os cristãos renovarem sua relação com Deus através da oração, do silêncio, da penitência e da conversão. Mais do que um mero ritual, trata-se de um caminho de purificação interior, onde a oração, o jejum e a caridade são meios essenciais que ajudam a reconhecer a própria fragilidade e buscar a graça divina. Inspirada nos 40 dias de Jesus no deserto, a Quaresma convida à imitação de Cristo, desapegando-se das vaidades mundanas, para se voltar à essência da fé: o amor a Deus e ao próximo. É um tempo para repensar prioridades, reconhecer erros e fortalecer a esperança na misericórdia divina, preparando o coração para a alegria da ressurreição, a Páscoa do Senhor”, destaca.
O Padre João Renato Eidt conclui que a Quaresma não se encerra com a celebração da Páscoa, mas deve deixar marcas duradouras na vida dos fiéis.
“A Quaresma também fortalece a dimensão comunitária e social da vida cristã. As práticas coletivas, como a participação em celebrações especiais e a reflexão sobre a Paixão de Cristo, reforçam a unidade dos fiéis em torno de um propósito maior: viver a fé de forma autêntica e solidária. Ao praticar a caridade, o cristão não só ajuda o outro, mas também descobre a própria vocação para servir. A Quaresma, portanto, não é um fim em si, mas um processo contínuo de transformação, que culmina na celebração da Páscoa, a festa da vida e da vitória sobre a morte. Nesse sentido, ela é um lembrete permanente de que a fé exige compromisso, humildade e abertura ao amor incondicional de Deus”
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