Mortandade de peixes no Rio dos Sinos completa um ano neste domingo, mas nova tragédia é eminente
Por Rafael Geyger
O cheiro de morte, que se alastrou pela região no fatídico 7 de outubro de 2006, não está tão longe de voltar ao Rio dos Sinos. Ainda hoje, não se tem um número exato da quantidade de peixes mortos (fala-se em um milhão de espécies e em 86 toneladas) na tragédia ambiental que entrou para a história.
Empresas foram multadas, prefeituras foram advertidas, a sociedade entrou em alerta, mas o rio continua agonizando. E mais: a cada dia, faça chuva ou faça sol, o Sinos dá novos sinais de que agoniza a beira de uma nova mortandade.
Jackson Müller: “Muita conversa, pouca ação!”
Dione de Moraes: “Condições indicam nova tragédia”
e-dossiê Rio dos Sinos: relembre a mortandade
Neste domingo, a maior tragédia ambiental em um rio gaúcho faz aniversário. Uma tragédia longe de ser acidental. Para o biólogo Jackson Müller, diretor técnico da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) na época do ocorrido, a mortandade foi um crime. Cometido por várias mãos.
“Níveis abaixo de 1,0 mg/L de oxigênio dissolvido, a repetição do fenômeno da estiagem, lançamentos irregulares de efluentes industriais e esgotos domésticos ‘in natura’, associados aos despejos da Utresa, concentraram um coquetel mortal”, define.
Doze meses depois, entretanto, estes fatores que causaram a mortandade continuam sendo uma ameaça. Para a ambientalista Dione Dias de Moraes, a tragédia trouxe avanços em termos de fiscalização por parte dos órgãos competentes e de conscientização pela sociedade. No entanto, os indicadores mostram que o Rio dos Sinos permanece bastante vulnerável.
“É evidente que a qualidade da água do nosso rio está seriamente comprometida em razão do lançamento de efluentes não-tratados, além de pôr em risco o tratamento para abastecimento público”, diz, acrescentando que, a permanecer as condições atuais, fatalmente ocorrerá outra mortandade.
Os autuados pela mortandade
• Curtume Paquetá (Estância Velha)
• Gelita do Brasil (Estância Velha)
• UTRESA (Estância Velha)
• Curtume Kern Mattes (Portão)
• PSA (São Leopoldo)
• Três Portos (Esteio)
O que foi feito em um ano
• Seis empresas multadas (em um total de R$ 1,2 milhão);
• Portaria da Fepam deu 180 dias para os 32 municípios da bacia apresentarem plano de saneamento, voltado à redução de lançamento de esgotos domésticos (prazo venceu em 11 de abril, não foi cumprido e criou-se consórcio como alternativa);
• Intervenção judicial na UTRESA (situação que permanece);
• Decretada prisão do diretor da UTRESA, Luiz Ruppenthal (ainda foragido);
• Criada força-tarefa para acompanhar a crise ambiental (formada por diferentes órgãos);
• Injeção de oxigênio puro no rio (realizada na estiagem);
• Arrozeiros tiram menos água do rio (termo de cooperação técnica assinado entre Instituto Rio Grandense do Arroz – Irga – e Agência Nacional de Águas – ANA);
• Mudanças na presidência da Fepam e Secretaria Estadual de Meio Ambiente – Sema (trocas no comando);
• Criado Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (ainda está no papel);
• Divisão da bacia do rio em cinco trechos (objetivando ações localizadas);
• Seminário para a recuperação ambiental das Bacias Hidrográficas dos Rios dos Sinos e Gravataí (organizado pela Sema e Fepam);
• Realização da 1ª Semana do Rio dos Sinos e do Dia Mundial da Água (ação do projeto SOS Rio dos Sinos);
• Mutirão de limpeza no Arroio Pampa (ação do projeto SOS Rio dos Sinos);
• Projeto na Assembléia, do deputado Mano Changes (PP), considera de uso especial as vegetações e as áreas das nascentes dos rios Gravataí e dos Sinos;
• Governo Federal inclui Rio dos Sinos no PAC (para obras de saneamento);
• Visita à Holanda para conhecer modelo de saneamento (proposta de acordo técnico);
• Missão holandesa no Vale do Sinos (debatidas ações de recuperação da bacia);
• Monitoramento via internet (anunciado nesta semana).