![A atração do proibido 1 A atração do proibido](http://novohamburgo.org/colunistas/comportamento/img/2603_manfro.jpg)
“Ele era lindo, me tratava como ninguém o fizera, com ele tudo era bom, sinto tanta falta dele. Não sei muito bem como nos perdemos. Na verdade, não brigamos, simplesmente nos afastamos. Eu conheci outra pessoa e nunca mais nos vimos. Eu não gostava de muitas de suas atitudes na época, mas ele me pareceu muito diferente. Faz 20 anos que não o vejo. Mas é engraçado. Desde que ele me ligou dizendo que está mal no casamento e que tem pensado em mim, tudo voltou. Fico lembrando dele a cada instante. Acho que não amo meu marido, acho que o amo. Agora, quero ele para mim. Sei que é uma relação proibida, mas a possibilidade está me dando vida. Nem quero pensar, quero é achar uma maneira de vê-lo.”
Esse relato é muito comum de ser ouvido. O que temos aqui é uma ilusão de uma relação que ficou idealizada, principalmente por que não foi vivida, nem desgastada no dia a dia. A possibilidade do proibido está atraindo muito mais do que a pessoa. Afinal, foi apenas um telefonema.
Não ocorreu que ele esteja careca, barrigudo, envelhecido e que tenha muitas coisas das quais ela não gostava intactas. Bastou ele valorizá-la, ser carinhoso, surpreendente (o que depois de 20 anos de casamento quase não acontece) e pronto. Ela está apaixonada. Isso é o que ela pensa. O que está apaixonando é o proibido.
Relações assim proibidas, e quanto mais impossíveis melhor, muitas vezes são as preferidas. Iara Anton diz: “A distância e a impossibilidade favorecem a idealização ,individual ou recíproca “.
São amores clandestinos que despertam a subversão, o que quer dizer a insubordinação que algumas pessoas sentem em relação ao cônjuge que muitas vezes representa o pai ou a mãe. A impossibilidade desperta o desejo de que seja consumado. Desperta o lado infantil que quer ser saciado nos desejos não saciados, porém, desejos que são protegidos pelas barreiras impostas pelas circunstâncias.
Nestas situações, tentar colocar a pessoa conectada com a realidade dificilmente funciona. Ela fugirá de qualquer pessoa ou situação que a confronte. Buscará pessoas que se deleitarão com suas histórias como uma telenovela ao vivo. E muitas buscarão satisfação dos seus desejos através do que seus personagens ao vivo e a cores contam.
Estão protegidos, não são eles os personagens e, ao mesmo tempo, estão vivenciando através destes personagens seus próprios desejos de subversão. É comum entre colegas de trabalho, entre vizinhas, o reforço de atitudes infiéis como forma de viver através do outro.
“Fui ao encontro dele. Logo que sentamos e começamos a conversar, percebi que as últimas semanas em que estive pensando nele foram perdidas. Ele não era mais o mesmo. Estava velho e muito diferente do que era. Por outro lado, continuava o mesmo indelicado de sempre. Ao conversar com ele, logo refresquei minha memória e lembrei do porquê o tinha deixado, até mesmo sem briga. Simplesmente queria distância dele. Fui para casa pedindo para que não ligasse mais. Que furada! Percebi que amo meu marido e que o quero para mim, mas te confesso que sinto falta dos telefonemas. Será que ninguém está a fim de ligar para mim?”
É o desejo de colocar o dedo na tomada que tem os buraquinhos tão encantadores e sedutores. Não é o choque, não é a tomada é o “não pode”. O desejo é bom, mas o choque não. Mais do que o choque externo que pode acontecer, o interno costuma ser muito pior e causar muita dor.
Algumas vezes como um choque, passa brevemente. Outras vezes são outros 20 anos para curar ou uma vida com seqüelas. Quando forem colocar o dedo na tomada, pensem duas vezes. A energia, quando voltada para consertar o que já temos, pode ser energia mais bem empregada. Em época de apagão, talvez seja sensato não desperdiçar energia.