Um dia que não terminou. Em 11 de setembro de 2001, em menos de duas horas, as torres do World Trade Center foram reduzidas a uma montanha de poeira e aço incandescente, o Pentágono foi destruído e quase 3.000 pessoas perderam a vida. Os atentados foram executados por 19 terroristas do grupo Al Qaeda, que desviaram quatro aviões comerciais para jogá-los contra símbolos econômicos, militares e políticos dos Estados Unidos. Duas aeronaves colidiram com as torres gêmeas em Nova York e uma terceira com o Pentágono, sede do Departamento de Defesa, perto da capital Washington DC.
Um quarto avião possivelmente visava o Capitólio, sede do Congresso, mas foi impedido.
O primeiro ataque foi as 8:46 PM em Nova York, 9h46 no Brasil.
DIA ERA PARA SER NORMAL
A hamburguense e dentista Letícia Boos, neste horário, se preparava para sair de casa. Era para ser mais um dia normal. Mas, como ela mesmo conta, o “sexto sentido” da mãe a salvou.
“Eu estava prestes a sair (no meu horário de sempre) já na porta do meu apartamento, quando meu telefone de casa tocou. Era a minha mãe ligando do Brasil. Fazia apenas alguns minutos que o primeiro avião havia se chocado contra uma das Torres Gêmeas e ela já sabia! “Infelizmente, tive que sair de casa depois que a confirmação de ataque nacional se concretizou, pois eu morava quase em frente a um dos alvos em potencial: a ONU. Os prédios foram evacuados naquela região”, falou.
FIM DOS TEMPOS
Letícia fala das memórias no dia. “Tenho um misto de memórias daquele primeiro dia: fotografei a fumaça saindo dos prédios, depois pensando em me abrigar, indo parar em um bunker (abrigo subterrâneo), depois de pensar em me organizar e ficar mais segura. O medo de que outras explosões acontecessem, até de homens bomba ou qualquer outra coisa semelhante passava na cabeça de todo mundo naquele primeiro dia. Era como se fosse o fim dos tempos, com pessoas vagando sem rumo, nenhum carro passando, sem transporte, helicópteros militares voando baixo… e com a ilha sitiada, com todas as pontes e túneis fechados: ninguém mais entra, ninguém sai. Mas ver as pessoas colocando cartazes em busca de familiares ao longo dos dias seguintes para mim foi ainda pior. E ver a esperança de resgatar sobreviventes diminuindo com o passar do tempo, falou.
VOLUNTARIADO
A dentista foi voluntária em meio ao resgate de possíveis pessoas com vida, e identificação dos mortos. “Participei realizando o cadastro e coleta de amostras de DNA dos familiares dos desaparecidos, para eventualmente encontrar pessoas ainda com vida ou de alguma maneira identifica-las. Foi muito desafiador para mim, pois mais do que a parte técnica de identificar, era difícil a tarefa de acolher e conseguir manter a fé e a positividade enquanto lidava com toda a dor e desespero de quem procurava os centros. E a esperança de encontrar pessoas com vida diminuindo com o passar dos dias…”
SEM NORTE
“As pessoas estavam desnorteadas, pois além das informações serem muito desconexas, as evacuações de prédios, os meios de transporte sendo suspensos (as pessoas caminhavam no meio da rua), os ônibus todos vazios parados longe das calçadas, e os celulares todos sem sinal.
A vontade de ajudar de alguma forma era tão forte em todos, mas o medo estava estampado no rosto da maioria”, contou.
NO BRASIL
“Lembro que na primeira noite, quando fiquei hospedada na casa de pessoas que não conhecia, consegui fazer uma ligação local para o telefone fixo dos meus tios, que moram em Nova Jersey. Avisei que estava bem e passei o contato de onde estava. Pouquíssimo tempo depois, o telefone tocou e era do Grupo Sinos, a jornalista Taila Schmidt. Perguntei: como me acharam aqui? E ela respondeu: consegui através da tua mãe! Ou seja, todos estavam super preocupados e me cuidando a distância. Mas a partir dali minha familia ficou só esperando para saber quando eu retornaria definitivamente a morar no Brasil.”
Reportagem no Jornal NH.
TRISTEZA E GRATIDÃO
“Mais do que as imagens que todos nós nunca esqueceremos, eu sinto tristeza de imaginar as milhares de vidas perdidas e pensar nas dor da perda das famílias destas pessoas inocentes que se foram. Penso demais e sinto gratidão aos bombeiros, pois foram tentar salvas outros e acabaram se sacrificando, enquanto faziam seu trabalho. Senti muita raiva por muito tempo: mas a emoção que me acompanha agora é aquela máxima: eu “tiro o chapéu”, reconhecendo que os americanos se uniram forte e rapidamente. Naquele momento e nos dias que seguiram, as pessoas deixaram tudo de lado (planos, medos, preconceitos e egos) para ajudar uns aos outros: o exemplo mais puro de fazer o bem sem olhar a quem.