O número 1 em tráficos na favela da Rocinha, dias antes de ser preso, revelou a repórter ser a favor de programas como UPPs e PAC.
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Dias antes de ser preso, em uma sexta-feira, dia 04, o ex-chefe do tráfico de drogas da Rocinha, Antonio Francisco Lopes, conhecido como Nem, fez revelações à revista Época. Quem foi ao seu encontro foi a jornalista Ruth de Aquino, que arrancou declarações de Nem quanto a UPPs, PAC, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário de Segurança do Rio de Janeiro.
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Antes de ir preso nesta quarta-feira, 09, o traficante se encontrou com a repórter em um campo de futebol na Rocinha, onde ia jogar. Segundo ela, Nem é tratado como presidente pelos conhecidos e é pai de sete filhos “Dois (filhos) me adotaram, me chamam de pai e me pedem bênção”, contou ele, que aconselhava um pastor a não desistir de um rapaz que era viciado. “A igreja não pode desistir nunca de recuperar alguém”, declarou o traficante Número 1 da sua favela.
Apesar de fazer várias revelações, o traficante preferiu não tirar fotos nem gravar a entrevista. Quando perguntado sobre as Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs, Nem defendeu os trabalhos que são feitos pelos programas, que impedem assaltos, formações de quadrilhas e demais crimes nas favelas. “A UPP é um projeto excelente, mas tem problemas. Imagina os policiais mal remunerados, mesmo os novos, controlando todos os becos de uma favela. Quantos não vão aceitar R$ 100 para ignorar a boca de fumo?”, indagou o traficante.
De acordo com ele ainda, a UPP não devia somente ocupar as favelas, como também devia influenciar os estudos e esportes nas comunidades carentes. “Se um filho de pobre fizesse prova do Enem com a mesma chance de um filho de rico, ele não ia para o tráfico. Ia para a faculdade”, acredita Nem. Em sua justificativa, ele entrou para o tráfico de drogas quando sua filha tinha 10 meses e precisava colocar um cateter, por conta de uma doença rara. “Mas prefiro dizer que entrei no tráfico porque entrei. E não compensa”, afirmou Nem.
Nem fala sobre sair do tráfico, Lula e Beltrame
Porém, antes de ir preso, Nem declarou que pretendia largar o tráfico e pagar sua dívida com a sociedade. “Tenho medo de faltar a meus filhos”, revelou ele, que aconselha pessoas a saírem do tráfico. “’Eu digo a todos os meus que estão no tráfico: a hora é agora. Quem quiser se recuperar vai para a igreja e se entrega para pagar o que deve e se salvar”, contou o traficante. Nem, porém, não vende crack, pois destruiria a comunidade toda. “Com o crack as pessoas assaltam e roubam tudo na frente”, disse Nem, que agora está preso.
Pode parecer contraditório, mas o traficante, em encontro com repórter da Época, elogiou o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Para ele, Beltrame é um dos caras mais inteligentes que conhece e se tivessem mais pessoas assim, tudo seria melhor. Sobre Lula, Nem diz que ele é seu ídolo e foi a pessoa que mais combateu o crime através do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. “’Cinquenta dos meus homens saíram do tráfico para trabalhar nas obras. Sabe quantos voltaram para o crime? Nenhum. Porque viram que tinham trabalho e futuro na construção civil”, completou o traficante, que surpreendeu quanto à racionalidade na entrevista.
Informações de Estadão e MSN
FOTO: divulgação / Seap