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O anúncio foi veiculado por meio de um folder com o título “O Poder de Deus contra o Coronavírus”. O texto convoca fiéis para ir à igreja, pois “haverá unção com óleo consagrado no jejum para imunizar contra qualquer epidemia, vírus ou doença”.
Um culto da Catedral Global do Espírito Santo virou caso de polícia. A promessa de bênção com óleo imunizador contra o coronavírus colocou autoridades gaúchas em alerta.
O anúncio foi veiculado por meio de um folder com o título “O Poder de Deus contra o Coronavírus”. O texto convoca fiéis para ir à igreja, pois “haverá unção com óleo consagrado no jejum para imunizar contra qualquer epidemia, vírus ou doença”.
A chefe de polícia, Nadine Anflor, designou uma equipe para assistir. Dois policiais estiveram no local, um galpão na Avenida das Indústrias, mas foram identificados por brigadianos que atuavam na segurança (bico).
“Essa é a noite do teu milagre! Não importa do que você precisa”, disse o pastor a 400 pessoas. Banda, coral e cantores entoavam cânticos. Nas paredes, cadeiras de rodas, aparelhos ortopédicos e caixas de remédio que teriam pertencido aos “curados” pela fé.
A celebração continuou com cânticos, louvores e relatos de curas supostamente milagrosas, sob condução da apóstola Maria Ribeiro. Depois de tematizar as saúde, ela passou a falar do sucesso financeiro.
— A bênção financeira é somente para quem é fiel. O que impede o milagre financeiro na vida do cristão é a falta de fidelidade a Deus — afirmou.
Ela pediu então que os presentes fizessem um voto de fidelidade a Deus, na forma de doações que deveriam ser colocadas dentro de envelopes que passaram a ser distribuído por ajudantes. A celebração continuou com cânticos, louvores e relatos de curas supostamente milagrosas, sob condução da apóstola Maria Ribeiro. Depois de tematizar as saúde, ela passou a falar do sucesso financeiro.
— Também temos máquinas de cartão aqui na frente — anunciou.
Depois que os auxiliares saíram com várias caixas repletas de envelopes de dinheiro, o apóstolo Sílvio Ribeiro surgiu no altar, todo de branco, enquanto os demais cantavam. A cerimônia já durava mais de uma hora. Não demorou para que ele fizesse uma menção ao coronavírus:
— Epidemia de coronavírus, fora! — bradou, enquanto os músicos e os fiéis cantavam que “nada é impossível para Ti”. Durante o culto de quase três horas, Ribeiro comentou por diversas vezes sobre a doença. Numa das situações, falou como se fosse outra pessoa dizendo a ele e debochando “mas unção com óleo vai curar coronavírus?”, para logo depois dizer que Deus pode curar tudo. Ele também relacionou a doença a uma das profecias do apóstolo João, descrita no livro bíblico Apocalipse. Neste momento, disse que era tempo de as pessoas pedirem perdão pelos pecados e procurarem uma igreja para serem salvas da doença. E quando ele falava sobre o coronavírus, pedia sempre para os fiéis repetirem as frases em voz alta, o mais alto possível.
O apóstolo também comemorou o aumento de seguidores nas próprias redes sociais, no domingo, depois da divulgação do culto onde abordaria o tema coronavírus. A partir das câmeras espalhadas por todo o prédio, a cerimônia foi transmitida ao vivo nas redes sociais da igreja.
O presidente do Cremers, Eduardo Trindade, acionou a assessoria jurídica da entidade para avaliar o tipo de providência mais adequada diante do anúncio de imunização feito pela igreja.
— A questão é extremamente preocupante. A pessoa pode se sentir protegida e não adotar medidas de prevenção nem procurar atendimento de saúde. Sem querer interferir na liberdade religiosa e crendice de cada um, precisamos ressaltar que não existe proteção espiritual contra a infecção — alertou.
Conforme Trindade, a reza ajuda a elevar a fé das pessoas, mas, de maneira alguma, substitui medidas que evitam o contágio e a cura da doença por meio de tratamento médico.
Além de possíveis medidas judicias, o presidente do Cremers disse que iria procurar o Ministério Público e a Secretaria de Saúde de Porto Alegre para que estudar outras ações.
— Como pode gerar risco à saúde pública, é preciso envolvimento de todas as autoridades — enfatizou. Em entrevista coletiva na última sexta-feira (28), o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, já havia feito um apelo para se evitasse a propagação de mensagens como a da cura prometida pela igreja.
Informações: Zero Hora