Emissora afirma que colete usado por Domingos é o modelo de maior capacidade liberado pelas Forças Armadas para civis.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
A morte do repórter cinematográfico da TV Bandeirantes gera polêmica sobre a fragilidade da organização de coberturas jornalísticas policiais. Gelson Domingos, de 46 anos, foi atingido por um tiro de fuzil neste domingo, dia 06.
O Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro responsabilizou a Band pela morte do cinegrafista. Ele também trabalhava para a TV Brasil, pela qual ganhou menção honrosa na 32ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos no ano passado, com série sobre pistolagem no Nordeste. Neste domingo, ele cobria uma operação da Polícia Militar contra o tráfico de drogas na Favela de Antares, na capital fluminense. Domingos usava um colete à prova de balas, mas o projétil ultrapassou a proteção.
Suzana Blass, a presidente do sindicato, afirma que a morte do cinegrafista foi uma tragédia anunciada. Segundo ela, os coletes fornecidos pelas empresas de comunicação não resistem a tiros de fuzil. O Grupo Bandeirantes divulgou nota oficial na noite deste domingo afirmando que o colete usado pelo cinegrafista era o modelo III-A, o “de maior capacidade de proteção liberado pelas Forças Armadas para utilização por civis”.
“Isso [o colete] é uma maquiagem. Os coletes não oferecem segurança para o profissional porque não protegem contra os tiros de fuzil, a arma mais usada pelos bandidos e também pela polícia no Rio. E as emissoras só dão o colete porque a convenção coletiva de trabalho estabeleceu que o equipamento é obrigatório em coberturas de risco”, avalia Suzana. Ela declara que o sindicato pode recorrer à Justiça para obrigar a Bandeirantes a amparar a família de Domingos. A emissora diz que “se solidariza com a família e está prestando toda a assistência”.
Para a presidente, além da falta de condições de trabalho, o profissional de comunicação convive diariamente com uma questão cultural, pois está sempre em busca da melhor imagem. “Com isso, ele acaba aceitando o trabalho sem pensar no risco que vai correr, sem pensar na necessidade de se prevenir contra os acidentes e também para não ficar com fama de ‘marrento’ caso se recuse a cumprir a pauta”.
Band contesta informação do sindicato
sobre treinamento de repórteres
O sindicato propôs às empresas de comunicação a criação de uma comissão de segurança para acompanhar a cobertura jornalística em situações de risco, afirma Suzana. Segundo ela, no entanto, a proposta não foi aceita. “Sabemos que as condições oferecidas são precárias, mas as empresas alegam que a comissão seria uma ingerência no trabalho delas e que iriam sugerir um outro formato, mas até agora nada ofereceram”.
“Também já pedimos que as empresas de comunicação façam um seguro diferenciado para as coberturas de risco, mas elas responderam que já protegem seus funcionários e classificaram a proposta do sindicato como uma interferência em seu trabalho”, acrescentou Suzana.
As informações são contestadas pela Band, que afirma que repórteres e cinegrafistas foram treinados por soldados do Batalhão de Operações Policiais Especiais – Bope sobre posicionamento em áreas de risco. Além disso, a emissora acrescenta que todos que trabalham com reportagem de rua têm um seguro diferenciado contratado pela empresa.
Polícia quer critério para coberturas
jornalísticas de operações policiais no RJ
O comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, disse querer estabelecer um critério para coberturas jornalísticas de operações policiais nas favelas do Estado.
“Vamos tentar reunir os sindicatos dos cinegrafistas, dos jornalistas, para conversar, para ter um critério de segurança. Quando um policial falar com um repórter: ‘daqui vocês não podem passar’, que eles entendam e, por segurança própria, obedeçam à orientação dos policiais”, disse o comandante da PM nesta segunda-feira, 07.
Segundo o comandante, a polícia não “convida” a imprensa para cobrir as operações dentro das favelas, mas os jornalistas acabam acompanhando os policiais por conta própria. “A imprensa nunca foi convidada, só que o repórter, principalmente quem cobre a área policial, é um ‘policial’. Infelizmente aconteceu isso [a morte] com esse nosso amigo”, afirmou.
Durante cerimônia da troca de comando da Força de Pacificação do Complexo do Alemão, o comandante militar do Leste, general do Exército Adriano Pereira Júnior, lamentou a morte do cinegrafista. “Rendo minha homenagem hoje ao cinegrafista morto da Band e esperamos que nosso trabalho [do Exército] colabore para que fatos como esse não se repitam no Estado do Rio de Janeiro, nem no nosso país”, disse o general.
Confira o vídeo do momento em que o cinegrafista Gelson Domingos é baleado:
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Com informações de Último Segundo e Agência Brasil
FOTO: reprodução