Uma onda interessante, mas quase imperceptível para nós brasileiros, vem acontecendo lentamente nos últimos anos no mundo todo. O PostRock. O verbete, apesar de ser muito teórico, cunhado por algum jornalista em uma análise quase acadêmica do “movimento”, vem bem a calhar. O PostRock, ou PósRock, em bom português, é a nova geração do rock’n’roll, ou o rock produzido em tempos de pós-modernidade.
Na primeira década dos anos 2000 a TV, o rádio e mesmo as grandes gravadoras não são mais determinantes para o sucesso ou o fracasso de algum artista. As novas mídias como o You Tube e o Myspace e E-mule (para citar alguns), viraram meio para a divulgação de milhares de bandas, que vem conquistando mais e mais espaço, sem precisar do crivo dos olheiros e produtores, e sem precisar preencher aqueles requisitos básicos de pop-star.
E aí nesta onda vem de carona o PostRock. Não é legal?
A “fórmula” não é difícil, mas também não é barbada. Tem que ter tutano. A formação das bandas geralmente é básica (de garagem). Baixo, bateria e guitarras e vocais. Mas o que tem por trás é muita consistência (muitas bandas são formadas em escolas de arte), e um quê de minimalista.
Minimalista no sentido de que não é necessário mais ter uma música que seja grandiosa, e nem um hit para tocar no rádio. O espaço está aberto para experimentalismo, criatividade sem fronteiras, a exploração das sonoridades dos instrumentos e até ritmos mais complexos. Tem espaço de sobra para intervenções eletrônicas, ou um conjunto de cordas, metais e outros. Mas quase sempre num ritmo “downtempo”, com faixas longas que se desenvolvem lentamente (nada, nada radiofônicas).
O mais interessante é perceber que este caleidoscópio parece ter uma unidade global. Talvez porque ainda soe como Rock, pela formação básica do quarteto. A sonoridade namora com o rock progressivo dos anos 70. Suavidade e peso combinados. Ficou curioso?
Antes que alguém classificasse este novo universo de PostRock, dezenas de definições e termos controversos habitaram as páginas das revistas e jornais, gerando mais dúvida do que clareza: Ambient-psychedelic, anti-rock, art-pop, avant-pop, avant-rock, experimental-rock, math-rock, minimal-prog, new ambient, new avant-rock, post-modern, progressive-ambient, space rock, uneasy ambient noise…
Entendeu? 🙂
Um dos ícones deste movimento que tem ganhado notoriedade é o Arcade Fire. Mas este é só a ponta do Iceberg. Por trás estão conjuntos como o difícil “Godspeed you black emperror (GYBE)”, Mogwai, Mars Volta, Dredg, Massimo volume, Explosions in the sky e muitos, muitos outros.
Quer começar? Procura no e-mule uma coletânea chamada “Swimming season”. É irregular, mas tem sons para todos os gostos.
No site abaixo, mais de uma centena de links para páginas de bandas de PostRock, muitas alocadas no Myspace, onde se pode ouvir samples, e até mesmo baixar diversos mp3.
Site especializado em PostRock: www.post-rock.lv/post.htm
PostRock em ProgArchives.com: www.progarchives.com/subgenre.asp?style=32
Pick of the week – “Saint Jack” – Massimo Volume
Massimo Volume é uma banda italiana de PostRock, com um estilo muito interessante. “Saint Jack” é um sonzaço, de primeira categoria. O título se refere a uma cadeia e a letra reflete sobre a dualidade dos assasinos que estão aí presos, capazes de amar e também odiar, e é cantado em italiano, com vocais sussurrados sobre um belo trabalho de baixo nas linhas de base e uma guitarra distorcida que parece falar.
Esta música ganhou espaço nesta coluna por um simples detalhe que me parece muito interessante. É notória a semelhança com a música “Haiti” do CD “Tropicália 2” de Caetano Veloso e Gilberto Gil. O que me leva a confirmar aquela idéia que sempre tenho de que Caetano é um visionário. Uma antena parabólica.
Coincidência?