Operadoras de abastecimento enfrentam problemas no tratamento em Novo Hamburgo e São Leopoldo. Racionamento nas duas maiores cidades da região seguirá por tempo indeterminado. .
Felipe de Oliveira [email protected] (Siga no Twitter)
Não é só com a escassez de água que os moradores do Vale do Sinos precisam se preocupar diante do baixo nível do rio. A qualidade também deixa as operadoras em alerta.
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Em São Leopoldo, o Serviço Municipal de Água e Esgoto está gastando 20% a mais com tratamento e manutenção do sistema de captação. Na segunda-feira, dia 19, a Comusa – Serviços de Água e Esgoto de Novo Hamburgo chegou a suspender o abastecimento por causa da sujeira que as bombas estavam captando, atingindo oito bairros e mais de 100 mil consumidores.
Terça, na base da Comusa, o nível do manancial estava em 2,28 metros e no Semae chegava a 1,4 m. Os índices de qualidade medidos pelo Consórcio Pró-Sinos no pior trecho, entre a foz dos arroios Portão e João Corrêa, em São Leopoldo, agravam o cenário. O oxigênio dissolvido era 1,8 miligramas por litro, quando o mínimo aceitável é 2 mg/L. A condutividade indicava a presença de metais pesados; não pode passar de 80 microSimens por centímetro (µS/cm) e estava em 182,1 µS/cm. Para o diretor-executivo do consórcio, Julio Dorneles, números de um arroio poluído.
Com a baixa vazão, a capacidade de autodepuração do rio diminui e aumenta a concentração de efluentes industriais e domésticos. As operadoras são obrigadas, portanto, a aumentar a quantidade de produtos químicos para o tratamento. Segundo o diretor do Semae, Luiz Antonio Castro, são adicionados mais cloro e sulfato de alumínio para tornar a água potável e para tirar o odor são utilizados até 750 quilos de carvão ativado por dia – em condições normais seriam necessários apenas 310 kg.
A portaria 2.914 do Ministério da Saúde, de dezembro de 2011, que estabelece normas para a potabilidade, indica 15 como grau permitido na coloração da água, limite atingido em Novo Hamburgo segunda-feira, quando a Comusa teve que suspender o abastecimento até que as impurezas fossem removidas. O diretor Mozar Dietrich garante, contudo, que a qualidade mínima está sendo oferecida. “Mesmo mais escura a água continua sendo potável”, argumenta. Com o nível do manancial normal, o grau fica entre 2 e 3.
Consumidores reclamam da cor
As duas maiores cidades da região aplicam planos de racionamento desde o início de dezembro, sem data para encerrá-los. Em Novo Hamburgo, que começou primeiro, o abastecimento é suspenso entre 22h e 4h, de segunda à sexta-feira. São Leopoldo faz os cortes todos os dias, das 7h às 15h.
Mesmo quando tem água na torneira, há quem prefira uma alternativa mais segura. É o caso da hamburguense Jussara Bervian, moradora do bairro Roselândia: “A água está muito amarelada, por isso preferimos comprar no mercado”.
Jackson Müller, assessor de Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, se diz atento. “As operadoras têm responsabilidade e afirmam que a água atende aos padrões, mas a população está sentindo a diferença”, pondera o biólogo, lembrando que para investigar a qualidade da água o MP precisa ser demandado.
De acordo com Müller, a resolução 357 de 2005, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), enquadra o Rio dos Sinos no nível 4, impróprio para o abastecimento doméstico, o que faz com que as operadoras tenham, naturalmente, mais trabalho para tratar a água. Com a escassez de chuva a situação fica ainda mais grave.
FOTOS
Felipe de Oliveira / novohamburgo.org
Ilustrativa / stock.xchng