Um longo mês de greve geral na colônia francesa de Guadalupe, no Caribe, pode fomentar tumultos na França continental.
Centenas de guardas lutaram contra manifestantes nesta quarta-feira depois que um sindicalista foi baleado perto de Point-à-Pitre, capital do Guadalupe. O incidente foi a primeira morte nos motins que acontecem desde domingo, com queima de carros e pilhagens. As agitações cresceram com a frustração diante da recusa do governo de Paris para atender demandas locais por maiores salários.
A greve, que é impulsionada pelos ressentimentos entre os negros contra a elite rica, paralisou Guadalupe e Martinica e se espalha para os países vizinhos. A greve já atingiu a Guiana Francesa e, no Oceano Índico, a ilha de La Réunion. Em Guadalupe, supermercados, lojas, restaurantes e revendas de veículos estão fechados há quatro semanas.
Líderes de uma coalizão de 50 associações e sindicatos de Guadalupe pediram calma, mas acusaram o governo do presidente Sarkozy de provocar a violência, ao não responder aos moradores da ilha de 450.000 habitantes.
“Eles estão nos tratando como uma colônia”, disse Elie Domota, líder da greve, que lidera um grupo chamado Liyannaj kont Pwofitasyon (LKP). O deputado Domota acusou Sarkozy de dar ordens à polícia para bater nos negros. É esperado que Nicolas Sarkozy apareça em um canal de televisão na noite desta quarta-feira para tranquilizar as ilhas Antilhas. Na França continental também é crescente a revolta contra o Governo e suas políticas contra a depressão econômica.
Martine Aubry, líder do Partido Socialista, acrescentou a sua voz a um coro de opositores a Sarkozy que afirmam que ele tem negligenciado a crise na ilha distante e que a próxima agitação poderia acontecer em sua casa.
“As Antilhas, com os seus 25 por cento de desemprego e a pobreza relativa, reflete o racismo da metrópole com as colônias”, disse Malek Boutih, um velho socialista e militante anti-racista, nesta terça-feira, 17, e que estava chocado com as forças policiais, que são quase 100 por cento brancas.
Um relatório de inteligência policial de Guadalupe divulgado nesta quarta-feira advertiu Paris: “O mínimo incidente será o detonador de uma situação explosiva latente … Nesta fase, o Estado deve reagir e reafirmar a si mesmo e manter a ordem pública.” O relatório foi divulgado em jornal Le Canard Enchaîné.
As autoridades locais temem que a violência fortaleça os extremistas que querem romper com o governo francês. Patrick Chamoiseau, um escritor da Martinica, afirmou no domingo que “Nós somos fundamentalmente americanos e ainda continuamos a viver ao ritmo das notícias de Paris, virando as costas para as outras ilhas do Caribe e do Brasil. É um absurdo histórico e geográfico, que nenhum espírito saudável pode aceitar.”
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