Documento afirma que pilotos não adotaram os procedimentos adequados nos últimos minutos de vôo que matou 228 pessoas.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Uma série de erros da tripulação no vôo 447 da Air France que caiu no Oceano Atlântico foi identificada pelo Escritório de Investigação e Análise – BEA, conforme anúncio feito nesta sexta-feira, dia 29.
O acidente matou todas as 228 pessoas a bordo em 1º de junho de 2009. O BEA divulgou o terceiro relatório sobre as causas do acidente do vôo entre Rio de Janeiro e Paris. O documento foi o primeiro feito com base na análise dos dados das caixas-pretas e gravadores do Airbus A330 da Air France, recuperadas do mar.
Segundo o documento, os pilotos não adotaram os procedimentos adequados nos últimos minutos de vôo, após terem ocorrido dois incidentes inesperados: a perda de indicadores de velocidade, com o congelamento das sondas Pitot – para a qual não estavam preparados – e a perda de sustentação da aeronave.
Os pilotos “não identificaram formalmente a situação de perda de sustentação”, apesar de o alarme sonoro que a indicava ter soado durante 54 segundos, segundo os dados analisados pelo BEA. Eles também não aplicaram os procedimentos necessários após o congelamento dos sensores de velocidade, que provocaram a perda das indicações de velocidade na cabine.
O BEA informou que os pilotos que estavam no comando “não receberam treinamento em alta altitude” sobre os procedimentos adequados nessa situação.
O piloto que estava no comando pilotava o avião manualmente, pois a pilotagem automática estava desativada depois que se perdeu a indicação de velocidade.
O relatório informa que o comandante foi descansar às 2h da madrugada, sem deixar “instruções claras” aos dois copilotos que ficaram no comando. Ele teria voltado à cabine só às 2h11min. A gravação se interrompeu às 2h14min.
Relatório recomenda
melhor treinamento
O relatório confirmou a informação obtida em maio de que a tripulação respondeu aos alertas de velocidade apontando o nariz do avião para cima, e não para baixo. De acordo com o BEA, a tripulação também não avisou aos passageiros sobre o que estava ocorrendo a bordo.
O relatório também listou dez recomendações de segurança e recomendou melhor treinamento dos pilotos, inclusive de como pilotar aeronaves manualmente em grandes altitudes.
A BEA afirmou que as investigações sobre as causas do acidente continuam, e que elas estarão em um relatório final que deve ser divulgado no primeiro semestre de 2012.
Associação considera “inaceitável” a acusação aos pilotos
Logo após a divulgação do relatório, a Air France divulgou nota defendendo sua equipe. O BEA já considerava que um defeito nos sensores de velocidade Pitot era uma das causas do acidente, mas o órgão sempre ressaltou que a explicação definitiva só seria conhecida quando fossem recuperadas as caixas-pretas. Acreditava-se que o mau funcionamento dos sensores não explicaria por si só o acidente.
Na véspera do anúncio deste novo relatório, a associação Entraide et Solidarité AF447 (Ajuda Mútua e Solidariedade AF 447, numa tradução livre) considerou “inaceitável” a acusação aos pilotos do vôo e disse que espera que o documento permita compreender suas reações antes do acidente.
“Queremos a verdade. Queremos detalhes técnicos sobre os últimos três minutos do vôo para termos uma idéia das reações dos pilotos”, afirmou Robert Soulas, presidente da entidade. Em 27 de maio, o BEA divulgou um relatório, mas, para Soulas, a informação dada foi “muito pequena”.
“Com base nas informações fornecidas, acreditamos que as acusações contra os pilotos são inaceitáveis. Eles já não mais estão aqui para poderem se defender, é fácil acusá-los. Precisamos de provas concretas”, criticou Soulas, que representa as famílias de 60 das vítimas. Ele disse ainda que a operação de retirada dos corpos do fundo do mar já foi concluída e que “esperamos para outubro os primeiros resultados das identificações”.
Informações de portal G1
FOTO: divulgação / Marinha