Entre profissionais especializados, equipamentos de ponta e excelência em atendimento, o Hospital Regina orgulha-se de ter sido construído por pessoas que amam cuidar. Assim, quando completa em 24 de fevereiro, 93 anos de fundação, reconta um pouco de sua história através das pessoas que marcaram época neste ambiente hospitalar, como a parteira Olívia Weber, de 96 anos de idade.
As mãozinhas enrugadas que já embalaram tantos bebês seguravam firme a foto de meados de 1940. Enquanto se via tão jovem ao lado de Irmã Maria Cleófa von Bastian Brzezinski e da enfermeira Anna, Olívia parecia recriar um filme na memória. O olhar atento à imagem logo lhe rendeu muitos sorrisos ao se lembrar das histórias ao lado das companheiras de trabalho na Maternidade: dona Olívia foi uma das primeiras parteiras do Hospital Regina.
Natural de Venâncio Aires, dona Olívia veio para Novo Hamburgo em 1943. Começou a trabalhar no Hospital Regina aos 17 anos, auxiliando o serviço na Cozinha. Mas a vocação era outra. “A Irmã Cleófa, que era da sala de cirurgia, veio um dia falar com a Irmã Afonsa, chefe da Cozinha, me olhando e eu de longe pensando: ‘será que é para eu ajudar lá em cima?’ Dito e feito, ela me chamou para ajudar na sala de parto um tempo. No dia que eu fiz 18 anos, ela me pediu de novo. Bateu nas minhas costas e falou: ‘minha filha, agora, tu é minha, tu vai trabalhar comigo’”, lembra, com uma risada.
Levada pela Irmã Cleófa, Olívia conta que era seu trabalho auxiliar na ronda, apoiando a triagem e atendimento de pacientes. “Depois eu saí dessa sala e fui ajudar a schwester Prisca [Irmã Prisca Motzki] na Maternidade.”
Jovem e preparada para o seu primeiro parto no hospital. Olívia diz que estava apreensiva, mas foi sem receio, aos 18 anos, receber seu primeiro ‘neni’ no Regina. “A dona Paulina [parteira Paulina Bauer] estava na sala de parto com uma e a outra gestante estava no quarto. Era o quarto 42, lembro como se fosse hoje. A mulher me chamou ali e disse: ‘olha o neni, vem vindo, cadê a dona Paulina?’ Eu disse: ‘está na sala, atendendo um parto.’ O nenê já estava pronto, a luz estava acesa, daí eu disse: ‘então chega pra lá para eu ver.’ Pensei: uma sai, a outra entra. Aí ela gritou: ‘Olívia, ligeiro que vem vindo.’ Eu já tinha olhado tudo na cama então respondi: ‘vamos botar esse nenê no mundo.’
E fora os sons da criança, o quarto era só silêncio, brinca a parteira. “Dona Paulina chegou lá e falou: ‘ué, o nenê já nasceu?’ E eu fiquei bem quietinha, não disse nem A nem B. A mãe ficou quieta também”, comenta, entre risadas. Olívia conta que aprendeu bastante com Paulina, a parteira titular da época.
Foram 19 anos trabalhando na Maternidade, sempre buscando inovar. Morando de frente à portaria principal do Hospital Regina, a parteira estreitava a comunicação com o atendimento do hospital em uma época sem Internet ou smartphones e que era urgente avisar que uma mulher estava em trabalho de parto.
“Muitas vezes a irmã botava um pano branco lá em cima, na sacada, quando não tinha tempo para avisar a gente. Eu sempre olhava, e quando via aquele pano sabia que tinha que ir pra lá”, relembra.
Foram várias as noites em que a senhora – vai que completar 97 anos em março – deixou de dormir bem para atender mamãe e bebê. “Eu disse uma vez: ‘gurias, vou deitar no 36.’ Mal estava deitada e já ouvia: ‘Olívia tem outra gestante.’ Eu deixava a cama desarrumada para voltar depois e ia. Na volta pensava, agora chega, vou dormir. E chegava mais uma”, destaca.
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