Adolescente, desempregada e grávida, Patrícia diz ao novohamburgo.org que sonhava em receber visita do “bom velhinho”, que neste ano não vem. Não vem, mesmo?
Marines Silveira* [email protected]
As restrições sobre idade máxima informadas pelo Portal novohamburgo.org no dia o4 de dezembro sobre o Natal dos Correios deixaram a adolescente Patrícia Miranda May, 18 anos, decepcionada.
Depois de ler a matéria Papai Noel dos Correios estima atender ao pedido de mil cartinhas, a jovem, grávida há cinco meses e desempregada, entrou em contato com a Redação. Triste, esperava poder pedir roupinhas para seu bebê ao Papai Noel, “o bom velhinho”, como acreditava.
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Papai Noel dos Correios estima atender ao pedido de mil cartinhas
Em 2009, no entanto, só terão direito a fazer pedidos crianças de até 10 anos. Cumprindo seu papel de veículo de comunicação com foco na comunidade, o novohamburgo.org foi até a residência da Patrícia e conheceu um pouco mais sobre sua história e os motivos de tanta decepção.
“TENHO APENAS UMA MEIA DUZIA
DE ROUPINHAS PARA O MEU BEBÊ”
Patrícia é moradora do bairro Santo Afonso e está grávida há cinco meses. “Tenho namorado, tomava pílula, mas me fazia mal. Então, optei pela injeção. Quase nunca tinha dinheiro para aplicar. Quando tinha, perdia a receita”, conta a jovem.
Largou os estudos para trabalhar e ajudar no orçamento da família: sete pessoas que moram em uma casa humilde de cinco cômodos. “Trabalhei como panfleteira durante um bom tempo. Depois consegui um emprego em um mercado. Nossa, estava muito feliz!” lembra, emocionada. “Fiquei no mercado cerca de 45 dias. Descobriram que eu estava grávida e fui despedida. Tenho apenas uma meia dúzia de roupinhas para meu bebê. Estou preocupada, não tenho como comprar”, desabafa Patrícia.
O namorado de Patrícia trabalha como freelancer. Faz trabalhos como DJ em festas. “O que ele ganha é muito pouco. Ainda terá que se apresentar ao exército em janeiro. Isso tem dificultado bastante nossa situação.”
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Gravidez – A jovem confessa que quando descobriu a gravidez, ficou apavorada. Também não é para menos. Sentiu todos os medos possíveis. “Fiquei desesperada, cheguei a usar roupas apertadas para disfarçar”, relata. “Hoje, me envergonho disso. Amo muito meu filho. E também tem minha família, que muitas vezes fala mal, pelo fato de estar grávida, pelo fato de não estar trabalhando… Vou para o quarto, me deito e choro escondida!”
Até cama, é artigo de luxo. “Não tenho nem uma cama para deitar com meu filho quando nascer”, lamenta. “Pretendo cuidar dele por três meses e depois vou trabalhar para poder sustentá-lo com mais dignidade. Sempre acreditei em Papai Noel, mesmo que nunca tenha ganhado nada.”
INFÂNCIA
Não é a toa que Patrícia aposta todas as fichas no Papai Noel. A infância não foi nada fácil. Quando criança, sonhava que o “o bom velinho” viria. “Várias vezes, em época de Natal, escrevia cartinhas para o Papai Noel. Pedia sempre boneca e roupinhas de bonecas. Colocava minhas cartinhas em uma caixa que tinha na rua, mas nunca fui atendida”, revela, com um sentimento de resignação no olhar de deixar qualquer um perplexo. “Ainda assim, eu ia escrever pedindo roupas usadas para meu bebê. Fiquei muito triste quando li a matéria.”
Esperança – Mesmo com todas as dificuldades, Patrícia não perde a esperança, embora já não demonstre a mesma fé de criança. “Se meu filho nascesse hoje, não tenho nem idéia de como faria para cuidar dele. Estou com medo e apavorada. Se neste dia 25 ele aparecesse aqui com aquela roupa vermelha (Papai Noel) e umas roupinhas para meu filho, nossa! Seria a felicidade total para mim!”
PAPAI NOEL NÃO VEM, MESMO?
Se você quer ser o Papai Noel da Patrícia, pode visitar sua chaminé. A jovem mora na Rua Bem Vindo, 164, no bairro Santo Afonso (Novo Hamburgo-RS). O Portal novohamburgo.org também se solidariza com a história. Para mais informações, basta entrar em contato conosco pelo e-mail: [email protected].
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*Colaborou com a matéria Felipe de Oliveira [email protected]
FOTOS: Marines Silveira / novohamburgo.org