Quantas vezes me questiono sobre o motivo de receber um atendimento tão ruim ou ser tratado como se eu fosse obrigado estar em determinado estabelecimento comercial e até em repartições públicas. Não consigo compreender o que leva os donos de negócios e os administradores públicos assim proceder quando o cliente ou o contribuinte é a sustentação do seu negócio.
Tenho um amigo que tem uma pousada na região da serra gaúcha e perguntei-lhe o do porque serem os preços tão elevados, quer da rede hoteleira, quer dos restaurantes e em contrapartida, o atendimento recebido não difere dos outros locais e, às vezes, é pior.
A resposta estava estampada no seu rosto e veio como uma bala de canhão: a procura é maior do que a oferta; mesmo que os clientes sejam clientes por uma única vez, vai demorar muitos anos até que termine o ciclo e aí poderá ser tarde ou neste ínterim, a política comercial pode ser que mude.
Eu já tinha esta idéia, mas devido às minhas filhas, fui obrigado a ir várias vezes, apesar de estar indo a contragosto. Para quem nunca visitou a serra gaúcha, mais precisamente a região das hortênsias (Gramado, Canela, São Francisco de Paula, Nova Petrópolis), a experiência é bonita e gratificante, mas na repetição e se você depender de serviços de terceiros, ou seja, caso não tenha um local próprio, a situação é diferente: você disputará espaços entre os visitantes e o serviço fica ruim e a qualidade não condiz com os valores cobrados, os quais são altíssimos.
Estes preços são baseados na famosa lei da oferta e procura e como o mercado é grande, coitado dos moradores locais e dos visitantes circunvizinhos. Eles pagam um ônus elevado para desfrutar de um serviço regular. Lógico que há exceções, mas isto custa muita caro; o poder econômico do brasileiro que lá visita e que vem através de excursões e em grupos, já está escasso e ter que pagar caro por um serviço, leva-os ao título de cliente por uma vez, não retornando.
Dias atrás resolvi visitar uns amigos que foram meus vizinhos e estavam residindo em Canela. Programamos um passeio de um dia somente, mas com diversas opções de lazer e divertimento, começando com a visita ao Mini-Mundo, mas o preço cobrado por pessoa, independente de ser adulto ou criança está fora de mercado e as atrações são as mesmas de 10 ou 20 anos atrás.
A cada dia que passa, novos empreendimentos são criados e têm alguns que vale a pena repetir, mas o custo é altíssimo e se nota, em pleno feriado, há pouca quantidade de usuários, comprovando o meu texto.
Ao meio-dia resolvemos saborear um café colonial e quase cai de joelhos devido ao preço (R$ 24,00) que era o dobro do preço cobrado na minha cidade; a qualidade nem aos pés chegava, sem contar que o vinho servido, no segundo cálice, deixava uma sensação horrível no estômago, que coibia a ingestão dos alimentos. É uma tática ao servir um vinho mais ácido, com a conseqüência da diminuição da fome dos clientes.
Enquanto o universo for grande, o ganho ou a retribuição estará sempre enorme. Se houver uma diminuição dos consumidores, imediatamente os preços sobem para compensar o movimento fraco e com o passar dos tempos, há uma sensível diminuição dos pontos de comércio e de serviço, retornando à lei da oferta e procura. Oxalá possa retornar a este local que é muito bonito e aconchegante, mas caríssimo e mesmo que seja perto de minha residência, não compensa despender tamanho gasto.
Há centenas de estabelecimentos que assim procedem e eles estão fora deste eixo de turismo, mas a duração deles é pequena e o ciclo de vida se restringe, no máximo, ao primeiro ano de vida. Para comprovar, basta visitar o setor de cadastro de sua prefeitura e verá quantas novas empresas e empreendimentos são abertos, multiplicar pela inadimplência no pagamento dos tributos e no próprio fechamento precoce dos mesmos, porque tratar o cliente como cliente de uma única vez é burrice com atestado passado em cartório.
Reitero que há bons estabelecimentos lá, mas o preço é de países europeus, mas aqui tem uma grande diferença: o serviço é precário e o salário dos visitantes é de terceiro mundo que vivem num país do maior índice tributário sobre o PIB.
Possuímos belezas inigualáveis, quer em praia, quer no interior, mas na entrada dos estabelecimentos há uma enorme barreira chamada preço e atendimento. Preferem ter poucos clientes e cobrar muito ao invés de terem muitos clientes e cobrarem um valor mais condizente com a realidade, tendo lucro sem exagero. Nada contra o retorno do investimento e do lucro num empreendimento, mas desprezar a fonte é suicídio e no comércio, é ficar sem clientes.