Neil young acaba de lançar mais um álbum inédito chamado “Chrome dreams II”. O roqueiro, certamente uma das mais importantes lendas vivas do rock pós 60, ao lado dos Stones, Beatles e Bob Dylan, não pára de se reinventar, de revisitar sua própria carreira e navegar com rumo certo por todos os estilos que formam o tapete de toda a sua carreira.
Porém, o próprio título de “Chrome Dreams” sendo apresentado como vol. II faz o fã mais desavisado ficar um pouco atônito perguntando: afinal, qual será o volume I?? “Chrome Dreams I” é uma compilação de canções dos anos 70 que não foi oficialmente lançado na discografia de NY. Diversas canções desta compilação foram lançadas em álbuns do final dos anos 70 e ao longo dos 80, entre elas clássicos como:
• “Like a Hurricane” e “Powderfinger”, que ganharam versão (definitiva para mim) no álbum ao vivo “Live Rust” de 1978;
• “Sedan Delivery” que até hoje (inexplicavelmente) faz parte do playlist de shows do Crazy Horse, tendo sido também executada em seu show no Brasil no Rock In Rio III em 2001.
“Chrome dreams II” é um álbum em que Young reencontra aquele espírito dos anos 70, época que é reverenciada por todos os críticos e fãs como o auge da carreira de Young. Acho muito exagero, ou até preciosismo demais achar que Neil Young viveu um ápice nos anos 70. Esta visão simplista e saudosista nos sugere que tudo o que NY fez nas décadas seguintes seria de uma grandeza inferior aos trabalhos daqueles anos. Ora, creio que mais de 50% da obra de Neil Young já é pós 70!!!
Tá certo que NY ficou um pouco perdido ali pelos 80, entre improvisos com sintetizadores eletrônicos e baladas comercialóides. Mas isso não é exclusividade dele: quase todos os roqueiros dos anos 70 se perderam na lama dos 80. E quase tudo o que sobrou de consistente daquela década é uma transa de “new wave” misturado com “dark-gótico” que não tem absolutamente nada a ver com o rock de banda básica e guitarras pesadas de NY – e muito menos ainda com as influências folk do canadense.
Mas, depois que morreu Kurt Cobain, e iniciou a era de aquarius, tudo mudou: os álbuns “Sleeps with angels” (em homenagem ao diabo-loiro grunge), “Broken arrow”, “Unplugged – MTV”, “Mirrorball” (gravado com o Pearl jam) e “Living with war”, que são das décadas de 90 e 2000, são a “cobertura da torta” da obra de Neil Young. (Seguindo esta lógica, os anos 70 seriam o recheio, e os 80´s são a “ameixa seca”… Afinal eu nunca entendi bem porque alguém inventou de usar ameixa seca como recheio de torta… he he he).
Nos últimos anos NY começou a fazer em vida aquilo que as gravadoras adoram fazer após a morte dos grandes roqueiros: vem lançando sistematicamente álbuns com bootlegs de shows das fases mais interessantes de sua carreira. Some-se a tudo isso o DVD de lançamento de “Prairie wind” em 2006, que tem um show com o álbum apresentado na íntegra, e mais 10 canções pinçadas de diferentes fases, executadas por uma banda de primeira, totalmente acústica e em clima de gala! Esta segunda metade do show é de “chorar no cantinho”, um arrepio que não cessa!
E então, quando a gente pensa que a fonte vai secar, ou que o velhinho vai morrer, chega “Chrome dreams II”. Um super disco, que inclusive será também lançado em vinil. Uma obra definitiva, que tem a cara e o coração daquela mistura de folk-rock dos anos 70.
As primeiras três músicas do álbum foram mesmo escritas no final dos anos 70. Mas o álbum segue adiante e a gente não consegue fazer distinção perfeita entre o que é novo e o que é “velho”. Os sonhos cromados do velho roqueiro têm trilha sonora de violões, banjo, harmônica, slide-guitar, metais, e também guitarras bem pesadas, na dose certa! Destaque para “Ordinary people”, 18 minutos de puro rock´n´roll!! Enjoy it!
PICK OF THE WEEK – “Rehab” – Amy Winehouse
A melhor canção do ano de 2007 não tem nem uma pitadinha sequer de hip hop ou rap (graças a deus!) “Rehab” foi eleita pelas mais diversas mídias mundo afora como a melhor canção de 2007. E faz sentido!
Amy winehouse é certamente a maior surpresa musical que aconteceu no ano. Já na primeira audição da música percebe-se que estamos ouvindo alguma coisa definitiva: formato perfeito, sem nada que fique faltando, e também sem nenhum excesso…
Um refrão pegajoso, e fora do compasso, que soa meio patético até que entremos no ritmo. Isso sobre uma base com produção totalmente retrô! E então a gente ouve um minuto da canção e começa a pensar que está ouvindo alguma coisa de Ella Fitzgerald ou Billie Holliday, gravada nos anos 40 ou 50…
E é isso o que realmente surpreende! A mulher tem voz e estilo de diva do jazz/blues do século passado, e a sonoridade do estúdio conseguiu recriar o clima daquelas gravações com incrível realismo! Longa vida a Amy Winehouse ! Tomara que ela não morra bêbada!