Por Victor Hugo Furtado*
Quando cheguei à Praça do Imigrante (a “ex” Praça dos Pombos) nesta segunda, encontrei um amigo de longa data que não costuma fazer muito barulho. Indagando-o sobre a vinda, ele me respondeu assim: “Tu não sabes o medo que eu tinha de a nossa geração passar sem fazer uma baderna; tu achas que eu ia perder essa?”.
Sim, eu estive no resgate de uma geração estigmatizada. Estigmatizada a ponto de os que não se identificavam com ela ansiarem ter nascido em outra.O que começou com os agora famosos 20 centavos se transformou em um grito coletivo que tomou o Brasil e ferveu as ruas das pequenas e grandes cidades.
As “razões”, que ainda são desconhecidas, foram a menor das preocupações na histórica noite de 17 de junho de 2013 em Novo Hamburgo. Desmistificando a chamada “Geração Coca-Cola”, o preço da passagem foi o estopim para a explosão de uma juventude que parecia rojão molhado – não estourava nunca – e que ficou conhecida por colocar em prática seus anseios somente através da internet.
Estar em um local em que você conhece todos, se dá bem com todos e em que todos estão unidos pelo bem, sem transformar o manifesto em vandalismo, realmente choca. Ainda mais em um município conhecido pela sua famosa classe alta, que é, na grande maioria, indiferente à opinião popular.
Ver jovens e mais jovens que possuem recursos e que (supostamente) não precisavam estar nas ruas reivindicando é muito prazeroso. A maioria dos manifestantes representa muito bem a geração que se acostumou a ver manifesto de “Diretas Já” em preto e branco e os “Caras Pintadas” de 1992 apenas como passado.
Esse movimento ficará marcado por câmeras, tablets, hashtags no Twitter, fotos no Instagram. A geração que enfim se libertou age em blocos reunidos pelas redes sociais e tem como ídolo Joaquim Barbosa, representado em cartazes.
Daqui a dez, vinte ou trinta anos, os agora jovens hamburguenses vão se lembrar que nessa data, quando estiveram todos em uma das avenidas mais famosas da cidade, a Pedro Adams Filho, vestidos com moletons e camisetas de suas bandas favoritas, com seus fones de ouvido, com suas máscaras de V de Vingança, com seus amigos e exercendo o que de mais forte existe na nossa constituição: a democracia.