Fundo de População das Nações Unidas divulgou estudo nesta quarta-feira no Brasil e outras 120 cidades em todo o mundo chamando atenção para a necessidade de preservação ambiental.
Felipe de Oliveira [email protected]
Novo Hamburgo sabe bem do que fala a Organização das Nações Unidas – ONU quando alerta para os problemas que causam as mudanças climáticas.
Em menos de 15 dias, foram pelo menos três temporais com vento, raios e chuvas torrenciais na Capital Nacional do Calçado. Resultado: alagamentos, deslizamentos, desmoronamentos e famílias desabrigadas. No Centro, as águas do Arroio Luiz Rau subiram à níveis nunca antes vistos. A foto acima retrata a situação das imediações do cruzamento entre as avenidas Nações Unidas e Frederico Linck.
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Pois nesta terça-feira, dia 18, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) fez um alerta para o risco de aumento das migrações por conta das mudanças climáticas. A estimativa é de que até o ano de 2050, 200 milhões de pessoas possam ter que deixar seus lares por conta da degradação do meio ambiente.
O Relatório sobre a Situação da População Mundial 2009 – lançado em Brasília e em outras 120 cidades no mundo simultaneamente – pede ainda que os governos se planejem com antecedência na tentativa de reduzir os riscos de desastres naturais.
ONU PROPÕE NOVO ENFOQUE
Para o representante do UNFPA no Brasil, Harold Robinson (foto), é urgente que a questão das mudanças climáticas seja vista sob um novo enfoque: o da relação entre clima, população e gênero. O ponto central é que as mudanças climáticas não são apenas uma questão ambiental, mas um problema humano provocado pela atividade humana.
Robinson destacou evidências do aquecimento global provocado pelas emissões de gases de efeito estufa – os 10 anos mais quentes foram registrados nos últimos 12 e os desastres naturais dobraram nas últimas duas décadas, com uma média de 400 ocorrências ao ano. “Há um impacto direto sobre o bem-estar da população mundial”, avalia.
Robinson ressaltou que as mudanças climáticas são a ameaça que afeta a humanidade de forma mais desigual, uma vez que atingem quem menos contribuiu para a sua ocorrência – os mais pobres e os mais vulneráveis. Dados do relatório indicam que apenas 3% do total dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, por exemplo, são emitidos por essa parcela da população.
A coordenadora do UNFPA no Brasil, Taís Santos, lembrou que as mudanças climáticas são fato posto, já que estão em pleno andamento. “As pessoas são responsáveis, são afetadas e precisam se adaptar”, disse, referindo-se ao homem como o único agente capaz de interromper as alterações de clima.
Taís acredita que o que se pode fazer atualmente é adotar comportamentos proativos que considerem todas as dimensões do problema. Entende que os investimentos em tecnologias mais limpas ou mais verdes podem contribuir, mas que o problema é bem mais complexo.
A poucos dias da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Copenhague (Dinamarca), a UNFPA cobrou uma negociação global sobre o clima baseada na igualdade e nos direitos humanos.
BRASILEIRO EMITE POR ANO 10 TONELADAS DE GÁS CARBÔNICO
Cada brasileiro é responsável pela emissão de 10 toneladas de gás carbônico (CO2) por ano, em média. Número duas vezes maior do que a média mundial. Os dados são da Rede-Clima, ligada ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Somos o país em desenvolvimento com a maior média mundial”, disse Carlos Nobre, um dos coordenadores da Rede-Clima, ao participar de comissão geral no Congresso Nacional para discutir a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15).
A meta é de que a média mundial de emissão de CO2 seja de 1,2 tonelada por ano até 2050, para que a temperatura global não aumente 2°C. “Ela já subiu 0,8°C nos últimos 100 anos. Falta 1,2°C. Já chegamos muito próximo do limite.”
Na avaliação do diretor executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho Fernandes, a estratégia brasileira para reduzir a emissão de gases de efeito estufa deve partir de dois pontos básicos: do uso de uma matriz energética limpa e da redução do desmatamento, principal fonte de emissão de CO2 no país.
“Temos de buscar o abatimento das emissões que seja o mais barato. O Brasil tem condições de implantar mitigação de baixo custo. O combate ao desmatamento deve ser a decisão número um”, defende Fernandes.
O embaixador extraordinário para Mudanças Climáticas do Ministério das Relações Exteriores, Sérgio Serra, disse que as metas brasileiras de redução de gases de efeito estufa foram recebidas com tranquilidade na reunião que antecedeu a COP-15. “Acho que daqui até Copenhague vamos ter de fazer muitas consultas para saber o que se espera, mas o Brasil está muito tranquilo. O anúncio dos números foi muito bem recebido.” A meta brasileira é reduzir de 36,1% a 38,9%, até 2020.
Com informações da Agência Brasil