Encontro com pesquisadores e profissionais da saúde aponta alta agressividade do vírus e alerta para colapso nos hospitais.
A principal conclusão do encontro virtual realizado na manhã desta quinta-feira, dia 25, pela prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt, com técnicos e pesquisadores das Universidades Feevale e Federal do Rio Grande do Sul (Ufgrs) e da Fundação de Saúde de Novo Hamburgo (FSNH), juntamente com a equipe da Secretaria Municipal de Saúde, é pela necessidade urgente de medidas regionais para restringir a circulação de pessoas e tentar reduzir a rápida disseminação da covid-19. Também foi concluído que ações municipais não teriam resultados efetivos, considerando que muitas pessoas têm familiares e moram e trabalham em cidades diferentes, circulando e disseminando o vírus livremente entre elas. “Sou a favor de medidas mais restritivas por, pelo menos, 10 dias. No entanto, por estarmos inseridos na região metropolitana, é preciso que ela seja regional. No difícil e atual cenário, restrições locais não terão resultados”, destacou Fátima após o encontro.
O grupo também foi unânime em alertar para o colapso no sistema de saúde. “Não há mais leitos particulares nos hospitais privados de Novo Hamburgo. No Hospital Municipal, estamos lutando para acomodar mais dez leitos de UTI, sabendo que, infelizmente, eles estarão todos lotados em menos de uma hora”, lamentou a presidente da FSNH, Tânia Terezinha da Silva. Ela alerta também para a falta de profissionais. “Temos EPIs, máscaras, macas, mas já não encontramos mais médicos e enfermeiros. Recebemos cerca de 180 pessoas por dia no Centro Covid, a maioria com resultado positivo e com saturação de 80% a 85%.”
O professor titular do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Feevale e coordenador da Rede Corona-ômica da Rede Vírus, vinculada ao Mistério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e que procura identificar as mutações do coronavírus no país, Fernando Spilki, frisa que o vírus e suas variantes estão se replicando de forma mais rápida e eficiente. “Já temos três variantes importantes em circulação no Brasil, e as pessoas estão tendo carga viral mais alta e por mais dias do que antes”, conta. A pesquisadora Juliana Schons Gularte, que atua no Laboratório de Microbiologia Molecular e no Laboratório de Saúde Única da Universidade Feevale, acrescenta que o percentual de testagem positiva nas coletas recebidas têm ficado entre 50% e 55%, o que é considerado muito alto.
NOVAS MUTAÇÕES
Maria Catira Bortolini, professora titular do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e pesquisadora sobre covid-19, novas variantes e suas capacidades de infecção, concorda com Spilki e alerta que novas linhagens do vírus estão em torno de dez vezes mais contagiosa. “Quanto maior a circulação de pessoas, maior é o surgimento de novas mutações do vírus. São linhagens do vírus surgindo de forma independente em todo o mundo. Estamos assistindo à evolução biológica do vírus se processando diante dos nossos olhos. No Brasil, a vacinação é lenta, as medidas restritivas são meia-boca, não tem saída: irão aparecer novas cepas do vírus”, analisa.
“Nos parece que estamos vivenciando aqui o que chamo de ‘onda de verão’, em razão do hábito dos gaúchos de irem para a praia nas férias ou fins de semana, intensificando a disseminação do vírus”, ponderou a prefeita. Ela acrescenta que Novo Hamburgo tem observado uma crescente procura por atendimento de pessoas oriundas de outras cidades. Neste sentido, Augusto Rafael Lengler Vargas, médico responsável técnico hospitalar do Hospital Municipal, também defende medidas restritivas urgentes. “Qualquer restrição gera reclamação, mas a reclamação será maior se alguém deixar de ser atendido na porta de uma unidade por lotação”, pondera.
Médico infectologista do Hospital Municipal, Rafael Matiuzzi acrescenta que as pessoas estão necessitando internação hospitalar mais cedo do que antes. “Tem sido comum as pessoas apresentarem quadros graves já no primeiro ou segundo dia de contágio”, conta. Matiuzzi acrescenta que a capacidade de rodízio de leitos no hospital também está comprometida. Até janeiro, o número de altas e internações eram parecidos, permitindo ao hospital atender a demanda. “Atualmente, estamos com cerca de 16 a 20 internações por dia contra duas a quatro altas diárias. As pessoas estão adoecendo mais e procurando mais atendimento. A pressão no sistema de saúde é geral.”