Segundo especialistas, condições para a ocorrência de precipitações dessa natureza são incomuns até nos Estados Unidos.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Neve e gelo, mais trovoadas: fenômeno “extraordinariamente raro”, diz a MetSul Meteorologia. Então, moradores e turistas que estiveram na Serra Gaúcha e nos Aparados da Serra na noite desta quarta-feira, dia 03, podem se dizer privilegiados.
Leia Mais
Frio intenso retorna à região Sul
“Tínhamos conhecimento de ocorrências desta natureza em 1984 e 2005 em Santa Catarina, mas nunca aqui no Estado”, conta o responsável pelas pesquisas históricas de clima da MetSul, Alexandre Aguiar. Vários municípios das áreas de maior altitude no Rio Grande do Sul registraram abundante queda de gelo com flocos de neve em meio aos trovões, especialmente Caxias do Sul, Nova Petrópolis, Bento Gonçalves, Garibaldi, Gramado e Canela.
A MetSul recebeu inúmeros relatos de diferentes formas de precipitação de inverno (chuva congelada, neve em flocos e neve granulada) caindo simultaneamente. De acordo com o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall, apesar de muito incomum, as descrições são possíveis. Segundo ele, quando há ocorrências de trovoadas em tormentas de inverno nos Estados Unidos, por exemplo, se precipitam diferentes formas de gelo e neve ao mesmo tempo.
EXPLICAÇÕES – Para os especialistas, embora incomum, o fenômeno tem explicação. “Raramente se tem neve com trovoadas, mas pode ocorrer sob condições singulares que desencadeiam o processo”, diz o cientista Walter Petersen, da NASA. “Flocos de neve e pelotas de gelo e neve conhecidas como graupel ascendem na atmosfera e começam a trocar cargas de energia, fazendo com que a tempestade de inverno mais pareça uma de verão.”
Luiz Fernando Nachtigall explica que a Serra foi atingida por dois fenômenos: chuva congelada e gelo com trovoadas (thundersleet) e neve com trovoadas (thundersnow). A rigor, quando a atmosfera está suficientemente fria para nevar, a instabilidade costuma ser muito reduzida com as áreas mais próximas da superfície apresentando ar seco, gelado e estável, o que faz com que trovoadas sejam raríssimas sob neve.
“Para que a neve ocorra com trovoadas é preciso que as camadas mais baixas da atmosfera estejam mais quentes que as imediatamente superiores, mas ainda assim muito frias para propiciar a neve”, explica Nachtigall. “Quando esta parcela de ar mais quente sobe, como nas tempestades de verão, criam-se as condições singulares de instabilidade em nuvens carregadas do tipo Cumulunimbus de base baixa, propiciando neve e raios.”
Fenômeno é raro até
nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, onde a neve é muito mais comum do que no Rio Grande do Sul, são realizados os principais estudos sobre neve com trovoadas, ocorrência que é considerada muito rara, mesmo por lá, e chamada até de “bizarra” por alguns meteorologistas locais.
Pesquisadores concluíram que dos cerca de 10 milhões de raios nuvem-solo que atingem o país a cada ano, menos de 0,1% ocorrem sob condições de neve, segundo dados revelados por Walter Petersen, que trabalha para o Marshall Space Flight Center da NASA, no Alabama.
Outro estudo, conduzido pelo professor associado de Ciências Atmosféricas da Universidade do Missouri, Patrick Market, aponta que a cada ano apenas seis eventos de neve com trovoadas, em média, são registrados nas áreas a Leste das Montanhas Rochosas dos Estados Unidos, área que corresponde a dois terços do território continental estados-unidense.
As áreas com maior incidência do raro fenômeno são as Rochosas e os Grandes Lagos. Diferentemente das trovoadas em temporais comuns, quando ocorrem sob neve o barulho dos trovões tende a ser menos intenso e escutado em distâncias menores.
Com informações de Correio do Povo
FOTO: reprodução / Correio do Povo