Minha avó materna, a Liliza, morava perto da casa da minha mãe, a Nice, isto lá em Santa Cruz do Sul. Bastava pular dois muros e eu podia escolher com qual mãe ficaria. Isto mesmo, minha avó era minha mãe, que por sinal, fora mãe de doze filhos, mas mesmo sendo o décimo terceiro todos reclamavam da atenção que a Liliza me dava. Como sou adepto a Doutrina Espírita (Allan Kardec), digo com a maior certeza que encarnei nesta família Marques Schild por laços afetivos e sanguíneos.
Faz anos que a Liliza desencarnou; meu filho, hoje com 29 anos, mal corria. Lembro dela olhando pela janela do apartamento dos Altos da Rádio Santa Cruz, avistando uma criança na rua e dizia que mãe desnaturada o Matheus tinha por deixá-lo à rua, sozinho, abandonado (risos).
Minha avó nasceu em 1895 e casou cedo com o homem que veio a ser meu avô: Sother Coimbra Marques. Morreu cedo, mas ainda pude, aos oito anos, participar da sua festa de bodas de prata – 50 anos de casamento com a Liliza. Grande festa realizada na antiga sede campestre do Colégio Mauá; tinha bolo em forma de relógio e somente a tia Sônia não pode participar; até carrossel tinha, mesmo que chaveado. Saudades, muitas saudades.
Domingo comercialmente se comemora o dia das mães e nada melhor do que homenagear as minhas mães escrevendo um texto em agradecimento por terem permitido que eu encarnasse no século vinte; hoje a Nice em seus 81 anos fica feliz quando houve a minha voz e pela minha presença; procuro toda a semana lá ir para beijá-la e ouvir que sou o melhor filho (risos); ela – diplomaticamente – sempre diz ao filho que a visita que este é o melhor filho que tem.
Paralelamente fico triste por ver filhos abandonados pelos seus pais e mais triste fico ao saber de mães abandonadas por seus filhos (sic). Fico sem comentários e com vontade de chorar.
Minha Nice não pode mais me carregar no colo ou me embalar; não posso mais sentar em suas pernas finas e nem me agasalhar ao seu redor, mas posso dizer que a amo e que sou muito grato por ter sido filho dela e da sua mãe, a Liliza, já que sou um privilegiado em ter duas mães.
Minha Liliza em seus últimos dias nesta encarnação falava baixinho e sempre lendo a sua Bíblia; um dia ao voltar de uma viagem de vendas lá fui visitá-la e obtive sua última foto, sentada em sua cadeira de balanço, lendo; seu olhar para quem vê esta fotografia acha que a conhece tamanha é a sensação que fica. Mal falava e eu, ao seu lado, perguntei: você sabe quem eu sou? – ela disse: cacaio e olhe que não reconhecia alguém que fosse (doença de Alzheimer).
Correm as lágrimas em meu rosto ao lembrar este momento porque a amo, como amo minha Nice, minha mãe; sinto saudades enormes, imensuráveis pela falta que a Liliza me faz, mas tenho a certeza que na morada de Deus em que ele se encontra, certamente sua evolução continua e de lá, intercede a todos àqueles que sempre amou e continua amando. FELIZ DIA DAS MAES A TODAS AS MAMÃES.
Oscar Marques Schild, vendedor, gerente de vendas e escritor.