Promotor de justiça diz que “é como ele estivesse solto, comandando as atividades criminosas lá no local onde elas estão ocorrendo”.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
De dentro do Presídio de Alta Segurança de Charqueadas – Pasc, o chefe de uma facção criminosa usa o celular como se estivesse em casa. É o que comprova uma reportagem de Giovani Grizotti exibida pelo programa Fantástico, da Rede Globo, na edição do último domingo, 17.
Pelo telefone ele conversava normalmente com a mulher em casa e ordenava a execução de inimigos. Na última sexta-feira, dia 15, o Ministério Público e a Polícia Militar descobriram que uma casa de 50 cômodos na periferia de Novo Hamburgo pertence a Paulo Márcio Duarte da Silva, conhecido como Maradona.
Na gravação de uma conversa que Maradona tem com a esposa, o assunto é decoração. “Do lado da porta, ali, que entra, aquela lateral ali? Aquela lamparina ali, botar duas luz negras ali. Será que fica legal?” Ele está cumprindo penas por homicídio, roubo e receptação que, somadas, que chegam a cem anos de cadeia.
Ele chegou a pensar em lançar a mulher dele, Leigh Fiúza da Silva, candidata a vereadora em Nova Hamburgo nas eleições municipais do ano que vem. Em uma ligação ele conversa com Márcio Vargas, o Ceguinho, informante da quadrilha que foi preso na última sexta-feira, 15.
“A comadre, eu vou lançar ela. Ano que vem lançamos ela aí, entendeu? Imagina eu com o dinheiro de Novo Hamburgo, o caixa de Novo Hamburgo na mão, compadre?”
Tráficos e homicídios comandados
de dentro da penitenciária
Mesmo dentro da prisão, ele comandava uma das maiores facções criminosas do Sul do Brasil. “Esta organização criminosa é estruturada através de lideranças, especialmente instaladas nas penitenciárias do estado do Rio Grande do Sul, e operam tráfico de drogas, homicídios e também tráfico de armas”, afirma o major Adriano Klafke, da Brigada Militar.
A conversa entre Maradona e a esposa é uma das 80 mil ligações feitas pela quadrilha do traficante. Todos os telefonemas dele são de dentro do presídio e foram gravados com a autorização da Justiça. Ele usava o celular para mandar matar os inimigos.
“Nós identificamos que ele detinha dentro da penitenciária por volta de oito a nove telefones”, afirma Amilcar Macedo, promotor de Justiça. “É como ele estivesse solto, comandando as atividades criminosas lá no local onde elas estão ocorrendo”, aponta.
DROGAS – O dinheiro que sustentava a quadrilha vinha principalmente do tráfico de drogas. Maradona comprava cocaína por telefone na cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Giovani Grizotti foi até lá e descobriu um território livre para o comércio de drogas.
São camelôs que fazem o contato com os traficantes. Em menos de dez minutos, o traficante chega num carro sem placa. A negociação é feita na rua. Na gíria local, a cocaína é chamada de “escama”. “A escama, mínimo, sai US$ 4 mil o quilo.” O repórter pergunta se há alguém que possa levar a droga para Porto Alegre, e quanto isso custaria. “Posso conseguir pra você um cara que vai levar, mas tem que pagar o cara também. Tá uns quatro mil ‘real’.”
Providências
Depois de três meses de investigação, 23 pessoas da quadrilha de Maradona foram presas. As drogas apreendidas estão avaliadas em mais de R$ 1,4 milhão.
A superintendência dos serviços penitenciários do Rio Grande do Sul informou que começou a instalar bloqueadores de celular na Pasc. Na sexta-feira, 15, Maradona foi transferido para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná.
“Nos passa a impressão que o estado, como poder público, tem sido incompetente para proibir ou para coibir que estas pessoas façam de uma penitenciária de alta segurança, como é a Pasc, um verdadeiro escritório de criminalidade”, declarou o promotor.
“Nós vamos restabelecer esta ordem, a disciplina e a organização da cadeia”, afirmou Airton Michels, secretário de Segurança do Rio Grande do Sul.
Informações de Fantástico
FOTO: reprodução / Rede Globo