Estudantes do Seno Frederico Ludwig, jovens hamburguenses lideram coletivo ambiental e se preparam para representar o Rio Grande do Sul na COP30, mostrando que a educação pública pode ser exemplo de inovação, consciência e transformação social no Vale do Sinos.
No coração do bairro Canudos, em Novo Hamburgo, o Colégio Estadual Seno Frederico Ludwig tem se destacado por transformar sua trajetória e a de seus estudantes. O que antes era um espaço estigmatizado como antigo CIEP, hoje é referência em protagonismo juvenil, educação climática e cidadania ativa.
E essa mudança tem nomes, com os de Artur Nunes e Eduardo Quadros, estudantes do ensino médio que lideram o Coletivo Ambiental da escola e se preparam para representar o estado na COP30, que será realizada em novembro, em Belém do Pará.
De Canudos a Belém: a voz dos jovens hamburguenses no centro do debate
A transformação começou com o fortalecimento do Grêmio Estudantil, liderado por Artur, e ganhou força com o surgimento do coletivo. A ideia, nascida de forma espontânea, propõe debates entre os próprios alunos sobre justiça climática, meio ambiente, política e mobilização social.
A atuação dos estudantes levou Artur até Belém, onde participou da IV Conferência Estadual Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (CEIJMA), que reuniu jovens de todo o Brasil. Em novembro, ele volta à cidade para representar os estudantes do Rio Grande do Sul na COP30. “Foi a primeira vez que andei de avião. Fui como convidado porque nosso projeto foi um dos selecionados em edital. Aprendi muito sobre protagonismo e percebi o quanto estamos no caminho certo”, relata.
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Uma escola pública que inspira
O diretor José Silon Ferreira, que há 10 anos atua à frente da escola, destaca a evolução estrutural e pedagógica do Seno Ludwig. “Temos ar-condicionado em todas as salas, merenda reforçada, piso novo, salas limpas, sem pichações. Mas mais do que estrutura, temos alunos protagonistas. Eles cuidam da escola como se fosse a casa deles”, afirma.
Essa visão se reflete na gestão coletiva do espaço. Os estudantes participam da elaboração do cardápio da merenda, organizam eventos e lideram oficinas para turmas mais novas, promovendo a escuta e o diálogo.
Educação climática com arte, ciência e empatia
A professora Simone Dietrich é uma das grandes incentivadoras do projeto. “Começamos com a ideia do Grêmio e caímos na educação climática. Unimos arte, sensibilidade e consciência ambiental. Os alunos falam com os colegas de igual para igual e despertam interesse real”, explica.
Ela destaca que o impacto do coletivo vai além da escola. O projeto já inspira jovens de outras instituições da região e deve se expandir com o apoio da 2ª Coordenadoria Regional de Educação. A meta é usar ferramentas como TikTok e Meet para disseminar debates e capacitar alunos de outras 167 escolas.
Da periferia ao protagonismo nacional
Artur e Eduardo conciliam escola com trabalho. Artur também cursa técnico em Comércio Exterior e Eduardo atua como jovem aprendiz na Arezzo. Mesmo com a rotina intensa, ambos mantêm sua dedicação ao coletivo. “A gente escolhe se posicionar. Não existe viver sem se posicionar. E o meio ambiente não tem lado político — ele impacta a todos”, defende Artur.
Eduardo completa: “Os desastres naturais não escolhem direita ou esquerda. Por isso, precisamos de mobilização agora. O jovem é o futuro, mas também é o presente. Precisamos estar conscientes para que tenhamos um futuro”.
Fazendinha, foguetes e tecnologia: o Seno é muito mais
Além do coletivo ambiental, o Seno Frederico Ludwig oferece experiências diversas aos estudantes: há uma fazendinha escolar, um projeto de hidroponia, atividades artísticas e até um grupo de jovens hamburguenses que venceu uma competição estadual de lançamento de foguetes.
O app criado por alunas da escola para alertas sobre enchentes e mudanças climáticas também foi destaque recente. Apesar de não ter vencido a etapa final do Hackatchê, o projeto foi elogiado pela pertinência diante das cheias que atingem o Vale do Sinos.
Um coletivo que planta sementes
A proposta do coletivo é levar conhecimento de forma acessível, respeitosa e inclusiva. “A gente não impõe ideias. A gente escuta, dialoga, provoca com empatia. Queremos levar informação, mas principalmente queremos que as pessoas pensem por si”, diz Artur.
Essa abordagem já começa a dar frutos. Os jovens hamburguenses do coletivo atuam como multiplicadores, plantando sementes de consciência ambiental e justiça social por onde passam — inclusive fora dos muros da escola.
O futuro começa agora
O diretor Silon resume: “O mundo que estamos deixando para eles está cheio de problemas. Mas essa geração é incrível. Eles leem, debatem, se posicionam. E mais do que isso: constroem juntos. É disso que o mundo precisa”.
A escola, que tem suas portas abertas para a comunidade, convida outras instituições a conhecerem de perto seus projetos. “Aqui não temos grades. Temos portas. E elas estão abertas”, reforça.
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Debate realizado no dia 22 de julho de 2024 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen.