Confira a crítica do show Nas Esquinas, do músico hamburguense Fernando Marco
Por Rodrigo Steffen
Da balada ao reggae, do samba ao pop rock. Assim, Fernando Marco apresentou ao público, pela primeira vez, em um show de mais de uma hora e totalmente autoral, o seu repertório. De forma íntima e bastante pessoal, com o show “Nas Esquinas”, o artista apresentou treze composições próprias criadas ao longo de 17 anos de carreira.
No último dia 26, amigos e fãs foram ao Centro Municipal de Cultura de Novo Hamburgo, conhecer um pouco mais do músico. Formado pela escola da noite, Fernando conversou com a platéia e justificou suas composições narrando um pouco da história de cada uma delas. Contando muito da sua história.
Sentado em meio ao palco, munido de violão e voz, Fernando abraçou Renato Russo e prostitutas. Autodenominado um compositor outonal, já que compõe apenas no cenário bucólico, mas romântico da estação das folhas ao chão, as canções Abril e Cinza (onde ele tem a certeza de que sua musa pensa que sua “solidão é intencional”), como praticamente todas, fala de amor e da busca pela paz – ao menos da paz interior – na eterna disputa interna contra a tristeza e a melancolia.

Estas, aliás, tão presentes no nascimento das composições de Fernando Marco, dão espaço à certeza do autor no futuro próximo. Sem deixar de lado a constante crítica social que faz, sobretudo em Não vou pirar e Sob o céu do Brasil, Fernando questiona a moral em cenários urbanos.
Na Eterna fábula do amor, Fernando viaja entre a depressão causada pela ausência de saídas, a falta de rumos e a incredulidade, falando de seus medos de viver e morrer, sem distinguir muito bem qual o mais forte, e onde começa um e termina o outro.
Entre “fantasmas no corredor”, horas sem dormir e o “eco das vozes noturnas”, Fernando viaja profundamente, carregando na poesia. Poesia esta que, aliás, em alguns momentos parece conversar com Augusto dos Anjos. Ainda assim, em um ambiente tão carregado e profundo, a esperança e a lembrança de algo vivido tão gostoso, são mais fortes do que a “pane geral” e a “vontade de gritar”, fazendo desta uma deliciosa balada.

Em A meio passo do teu amor, o cantor homenageia Fito Paez, traduzindo e interpretando a canção A medio paso de tu amor, única música cuja letra não é sua, mas de sua tradução.
Na composição A dança da paz, canção escrita no outono seguinte à morte de Renato Russo, o cantor e compositor reverencia um de seus ícones, de timbre de voz semelhante ao seu. Acredita ele que ao mostrar esta música ao homenageado, com certeza iria gostar. Na música, Fernando pede “largue a minha mão, deixe-me partir / não sei aonde vou, eu só preciso ir adiante”, pois só quer “o som da liberdade num vôo rasante / pra extirpar de vez a maldade”. Ele só precisa descobrir “um meio de viver, um meio de sorrir, um meio de dizer a verdade”.
Fernando Marco é denso, e apesar disso e de sua temática, não é pesado. Sua música e sua presença no palco são leves e harmônicas. Harmônicas, sobretudo, com suas letras.
Se estas 13 canções são produto de 13 anos de composição, espero, ao menos, que não demore outros 13 anos para nos brindar com um novo trabalho.
O poeta Carlos Drummond de Andrade, nos diz que restam outros lugares, além da terra, da lua, de outros planetas do sistema solar, para colonizar. Lugares além do sistema solar. Mas a viagem mais distante ainda não fora feita: “a dificílima dangerosíssima viagem / de si a si mesmo: / por o pé no chão / do seu coração”. A auto-descoberta de Fernando pôde ser compartilhada com todos e, em breve, estará disponível também em CD, após a gravação feita durante o próprio show. Entre tantas viagens de Fernando, parece que Fernando Marco fez da sua grande viagem algo maluco e delicioso.
