Reconstrução e modernização do sistema anti-cheias, habitação, economia, reestruturação de escolas e unidades de saúde. Esses são alguns dos planos iniciais apresentados nesta quarta-feira (5) pela prefeitura para a reconstrução de São Leopoldo após a enchente histórica que afetou diretamente mais de 180 mil pessoas.
“A comunidade, em modo geral, mostrou espírito de solidariedade, de respeito e compromisso com a vida humana”, disse o prefeito Ary Vanazzi, ao iniciar a apresentação do balanço das ações administrativas durante o mês de maio.
Em evento na sala de reuniões, Vanazzi destacou o trabalho realizado na cidade: “Um agradecimento muito especial a cada homem e a cada mulher que se envolveu, que se dedicou, que acompanhou e que levou as informações corretas, precisas, para a nossa população, que mais precisava naquele momento, que precisava de informação, precisava de orientação. E todos nós fizemos um esforço enorme para que a gente pudesse avançar nisso”, ressaltou.
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O prefeito enfatizou a importância da sociedade civil na resposta à crise com as enchentes. “Uma das primeiras questões é justamente reconhecer o papel, a importância da sociedade civil, organizada e não organizada. Eu acompanhei de perto, muito de perto mesmo, toda essa situação. Talvez me lembre do nome de muita gente da cidade, que estava na linha de frente, enquanto instituição ou enquanto cidadão indivíduo”, afirmou.
A mobilização voluntária também foi destacada por Vanazzi: “Fizemos um chamamento muito forte para a questão dos voluntários e nós tivemos, no auge da cheia, foi um sábado de noite até domingo, um exército enorme de todos os lugares, talvez 10 mil pessoas aí, buscando, salvando, naquela que foi uma das situações mais dramáticas que se viveu. Então, uma salva de palmas para todos nós, para todos vocês que estão aqui, por esse trabalho, essa atuação”.
Além disso, Vanazzi afirmou que é necessário um debate para a reconstrução da cidade. “A gente quer transformar esse debate através de uma experiência importante que tivemos da Câmara Temática, que envolve a indústria, os trabalhadores, a Câmara de Vereadores e a Universidade Unisinos”, disse, destacando a importância de um planejamento estratégico de médio a longo prazo.
“Trazer e construir um grande comitê, um grande grupo de trabalho que envolve o processo de reconstrução da cidade. Não é só o recapeamento do asfalto, mas que se pense profundamente as questões que envolvem o processo de proteção da cidade. Nós vamos apresentar o que nós já fizemos e encaminhamos para que a sociedade se aproprie e acompanhe esse processo”, projetou.
Assessor especial de gabinete, Nelson Spolaor apresentou os principais momentos vividos nos últimos dias e as ações de prevenção, desde o monitoramento constante do sistema anti-cheias até os comunicados de evacuação e atualizações através dos canais oficiais.
“A capacidade dos diques extravasou, o que resultou em uma das enchentes mais devastadoras que nossa cidade já enfrentou. No auge da crise, mais de 11 cidades acolheram pessoas de São Leopoldo, demonstrando uma solidariedade incrível e essencial para enfrentarmos esse desafio. Lembrando que na sexta-feira, 3 de maio, a BR-116 foi fechada. Depois, vários acessos ao nosso município foram inundados, o que afetou a locomoção de todos, complicando ainda mais a situação de emergência”, lembrou.
A Secretaria Municipal de Habitação (Semhab) estima que 35 mil residências foram acometidas. Segundo a Defesa Civil Estadual, São Leopoldo registrou nove óbitos e ainda tem uma pessoa desaparecida.
Em São Leopoldo, espaços públicos, 18 escolas municipais, 14 unidades de saúde, 3 CRAS e 11 serviços de convivência da Assistência Social foram afetados.
O apoio ao município veio de várias frentes. A empresa Taurus arrecadou cerca de 1,5 milhão de toneladas de donativos, mostrando um espírito de ajuda invejável. Além disso, a empresa Higra cedeu seis bombas anfíbias para a retirada da água dos bairros, equipamentos vitais para o processo de desalagamento.
No pico da emergência, 20.462 pessoas estavam abrigadas em 130 locais. Atualmente, são 4.271 pessoas em 70 locais. “Cada número representa uma vida, uma família que precisa de nosso apoio contínuo”, disse o assessor especial do gabinete.
Plano inicial de reconstrução de São Leopoldo
Um plano inicial de reconstrução de São Leopoldo com os encaminhamentos feitos pela prefeitura junto ao governo federal incluem setores considerados prioritários. São eles: o desenvolvimento econômico, a reconstrução e modernização do sistema anti-cheias, a habitação, com soluções para os desabrigados, a reestruturação de instituições municipais, como escolas, unidades de saúde e centros de referência da assistência social, além da limpeza urbana e obras de drenagem e pavimentação.
“Nós passamos pela pandemia e pensamos que economicamente teríamos uma crise sem precedentes, mas saímos daquele período como a 7ª maior economia do Estado. Agora, com uma gestão do governo federal que auxilia, temos que aproveitar os benefícios. Só com o Saque Calamidade do FGTS, já temos R$ 55 milhões nas mãos da nossa população. Precisamos fortalecer o setor empresarial da nossa cidade para que esse dinheiro seja investido aqui, e que a população não invista esse recurso em outras cidades. Não vamos ter as festividades do bicentenário, mas precisamos canalizar essa energia na reconstrução da cidade, porque não teremos outro momento com tanta injeção de recursos federais como agora”, afirmou Vanazzi.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo, Valmir Lodi, falou sobre a situação dos trabalhadores. E o presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia (Acist-SL), Daniel Klafke, ressaltou a parceria com o governo municipal. “Junto com a Câmara Temática da Indústria, nós estamos centralizando nossas demandas com o poder público. Temos solicitações pontuais, para garantir a tranquilidade dos lojistas na volta às atividades, e até algumas demandas de esfera nacional, já que entendemos que a prefeitura tem abertura e uma boa relação com o governo federal”, complementou.
Participaram da reunião vereadores, secretários municipais, servidores públicos, representantes de forças de segurança, agentes de entidades empresariais, líderes sindicais, de associações de moradores e da sociedade civil, membros de instituições de ensino e imprensa.
A reunião marcou o início de um longo processo de recuperação de São Leopoldo.
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