Em um simples isopor que embala televisores as crianças enxergam possibilidades mágicas. De um labirinto, a simples flocos de neve… Tudo é válido quando se deixa a criatividade trabalhar
Estava numa tarde de trabalho, observando quatro alunos de 9 e 10 anos. Eles haviam pego um enorme isopor, destes que embalam televisão. Todos eles com idéias mil – uma delas seria transformar o isopor em um labirinto. Formariam canaletas e uma bolinha de gude faria o trajeto. A empolgação era enorme e a expectativa então, nem se fala.
As crianças testaram vários objetos para cavar o isopor até encontrarem o objeto adequado. Enquanto cavavam, o sorriso aumentava. Formavam flocos de isopor que se espalhavam pelo ar. De repente, uma explosão de sorrisos. Eram flocos sendo jogados pra cima, nas suas cabeças, como neve. Deram uma olhadinha pra mim, como quem pede permissão para continuar e sentindo meu olhar de consentimento, lá foram eles, sentir e viver o momento.
Conversando depois – afinal a limpeza correu por conta deles, é claro, e com a minha ajuda – com flocos de isopor espalhados por tudo, sentiram-se gratos. Quando teriam uma experiência como está se não estivessem ali? Criar, sujar, brincar, sorrir, se divertir. Momentos que ficarão na memória. Momento em que a criança se solta, onde pode se libertar, sem cobranças, sem culpas. Momentos onde coloca tudo pra fora, sem medos. Aqui mais uma vez senti de perto o poder que tenho nas mãos.
O poder de permitir ou tolir. A oportunidade de ver tamanho desprendimento, de oportunizar a liberdade e ao mesmo tempo o comprometimento. Sentir que estou ajudando a formar pessoas com iniciativa, através de pequenos, mas felizes, feitos.
Simone Fischer Schilling
arte educadora