Obras comuns nos processos seletivos de universidades acabam pautando livros abordados em aula. Ensino pela ordem cronológica também atrapalharia.
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Qualquer aluno do ensino médio ao menos já ouviu falar de Machado de Assis ou de José de Alencar, nomes freqüentes nas listas de livros cobrados pelos vestibulares.
O difícil é encontrar quem já tenha lido Cristovão Tezza ou Luiz Ruffato, ganhadores do Prêmio Jabuti nos últimos anos.
Como o ensino médio é pautado pelos processos seletivos das universidades, as escolas admitem que é difícil fugir das listas. “Sentia muita falta de incluir outros livros no programa, mas não dava tempo”, conta Noemi Jaffe, doutora em literatura brasileira pela Universidade de São Paulo – USP e ex-professora da disciplina no ensino médio.
Um dos motivos dessa falta de tempo é o fato de que ainda é comum o estudo da história da literatura, seguindo uma ordem cronológica. “Isso se tornou quase uma camisa de força”, critica Regina Zilberman, do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Mas as orientações curriculares do Ministério da Educação para o ensino médio já dizem que a ordem não precisa ser seguida: “Os professores […] sentem-se obrigados a cobrir toda a linha do tempo, fazendo uso da história da literatura, ainda que isso não sirva para nada”.
Intertextualidade pode ser alternativa
Uma alternativa sugerida pela especialista em literatura Maria José Nóbrega é comparar as diferenças entre as estéticas. Para estudar o tema do amor romântico, os alunos do colégio Positivo, em Curitiba, leram “Inocência”, escrito em 1872 por Visconde de Taunay, e “Contos de Amor Rasgados”, publicado em 1986 por Marina Colasanti.
Regina Zilberman sugere o uso de filmes ou peças de teatro para fazer uma “interlocução entre passado e presente”. “No caso de Machado de Assis, que se transformou quase num ‘pop star’, existem adaptações de suas obras muito boas, já numa linguagem moderna.”
O professor de teoria literária da Unicamp Alcir Pécora dá um alerta, porém: “[Fazer relações temporais entre obras antigas e contemporâneas] pode enriquecer o repertório. Mas também pode empobrecê-lo, caso se subordine o interesse das antigas exclusivamente aos temas contemporâneos”.
Informações de Folha.com
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