Segundo os pesquisadores, esta seria a primeira publicação que mostra a relação entre a dor física e a social, amplificando a complexidade do adoecer.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Dor de cabeça é um incômodo comum entre pessoas de todo o mundo. Para livrar-se dele, paracetamol é uma das opções. Não seria ótimo se este medicamento também fosse útil para diminuir dores emocionais?
De acordo com a equipe liderada por C. Nathan DeWall, da Universidade de Kentucky, dos Estados Unidos, isso é possível. O grupo estudou os efeitos do paracetamol (composto ativo de remédios populares como Tylenol) e descobriram que quem tomou o medicamento durante três semanas teve menos atividades cerebrais nas regiões do cérebro relacionadas aos problemas sociais (separação, notas ruins, etc). Os pacientes também afirmaram ter sentido menos sofrimento emocional do que os que não tomaram o remédio.
O estudo, publicado recentemente na revista Psychological Science, é o primeiro a mostra a relação entre a dor física e social, segundo os pesquisadores. Ou seja: uma parece estar intimamente conectada à outra.
“Esse estudo reconhece a complexidade do adoecer, físico e mental. Ele é muito mais amplo que aqueles contidos nos manuais de diagnóstico que foram elaborados utilizando as delimitações conceituais de cada enfermidade, a partir da observação de pacientes em tratamento, seja hospitalar ou ambulatorial.”, explica o psiquiatra Edson Capone de Moraes Júnior, da Universidade Estadual Paulista – Unesp.
Dores físicas e emocionais
A relação entre as duas dores também permeia outras vertentes da vida humana. “Dores físicas e sociais têm [também] similaridades ao nível lingüístico. Pessoas freqüentemente usam palavras relacionadas à dor física para descrever sua dor social, como ‘machucado’ e ‘esmagado’. Dor física produz respostas similares às que são encontradas após [uma pessoa] sofrer dor social”, explica DeWall.
O líder do estudo exemplifica: “Expor pessoas a dor física leva elas a se comportar agressivamente. E expor pessoas a um evento social doloroso, como rejeição social, também leva elas a se comportar agressivamente”.
A conexão entre os dois tipos de dor pode existir por uma questão evolutiva. Muitos mamíferos, inclusive os humanos, têm uma infância longa na qual não são capazes de se alimentar ou defender sozinhos – essa conexão pode ser importante para a sobrevivência.
“Ao cooptar os sistemas de dor físico e social, as pessoas podem ser alertadas de potenciais situações em que experimental exclusão social. Assim podem corrigir seu comportamento para serem aceitas no futuro”, afirma DeWall.
Segundo os pesquisadores, porém, é necessário fazer mais pesquisas antes que o medicamento possa ser uma arma contra os males do coração. “É muito cedo ainda para falar no uso de paracetamol para essa finalidade no presente momento. Necessitamos mais estudos, com prazo maior de duração, entre outros fatores metodológicos”, explica Edson de Moraes Júnior.
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FOTO: reprodução / Mateus Hidalgo