Em entrevista ao Portal novohamburgo.org, Nasser Saleh Brahim descreve a situação pós-terremotos: falta água, comida, combustível e os conterrâneos estão com medo. –
Cristiane Cunda [email protected] (Siga no Twitter)
O Japão amanheceu no dia 11 de março tentando mensurar o tamanho dos estragos, o prejuízo e quantas vítimas o pior tremor da história japonesa havia deixado. O tremor de magnitude 8,9 na escala Richter atingiu a costa nordeste do país e, como conseqüência, um tsunami, ainda mais devastador, assustou o mundo.
Passados mais de 10 dias da tragédia, os japoneses vivem a iminência de uma crise nuclear. O Portal novohamburgo.org conseguiu fazer contato com um brasileiro que vive há 12 anos no Japão. Nasser Saleh Brahim, 39 anos, fala sobre a situação por lá, da vida pós-terremoto e tsunami.
Brahim vive na região de Nagano, cidade de Okaya, com a esposa, de 35 anos, e a filha, 14. O acesso a Internet ainda não foi restabelecido em sua residência, o que atrasou o contato com o novohamburgo.org. “Trabalho como operador de prensa e durante o tempo que moro aqui, já voltei várias vezes ao Brasil”, conta.
“Vi aquelas imagens da água invadindo
a cidade, foi desesperador”
No dia 11 de março, Nasser lembra que estava de folga da fábrica e foi até a escola da filha falar com a professora. “Estava escorado na mesa quando comecei a sentir uma sensação estranha. Olhei rapidamente para algo que estava pendurado e vi a cordinha da cortina se mexendo”, lembra.
“As crianças estavam no pátio brincando e pedimos calma a elas, pois a magnitude do terremoto aqui não foi tão grande, mas assustou.”
Após sentir os tremores, Brahim e o pessoal da escola buscaram informações sobre o que estava ocorrendo e onde seria o epicentro, através do noticiário de televisão. Perceberam que o mais grave havia sido longe da região de Nagano, mas as cenas da tsunami deixaram todo mundo em alerta.
“Vi aquelas imagens da água invadindo a cidade, foi desesperador. Jamais imaginei ver uma cena dessas. Não recebemos nenhum tipo de alerta aqui, pois não havia riscos na nossa região, mas recebemos um aviso que iria ocorrer mais terremotos”, recorda.
Radiação
Através das imagens do noticiário da TV japonesa (foto), o brasileiro explica como foi passada à população a orientação sobre o que deveria ser feito para evitar os efeitos da possível crise nuclear.
“Esta foto está mostrando o raio de evacuação que o governo adotou como uma forma de evitar a radiação na população. Inicialmente, era de um raio de 20 quilômetros e aumentou agora para 30. Eu acho ainda que é inevitável a radiação atingir as pessoas, pois o vento faz isso para ajudar”, avalia.
Brasileiros no Japão
Nasser Brahim diz que a opinião dos brasileiros que residem na região de Nagano está dividida. Alguns estão deixando a cidade com medo de que mais fenômenos naturais ocorram e outros ficam mais angustiados porque desejam voltar para o Brasil, mas não têm dinheiro para isso. Em abril, ele e a família “voltam para casa”. “Já tinha comprado a passagem antes dos terremotos e se pudesse mudaria a data. Não tem como levar uma vida normal aqui depois de uma catástrofe deste nível.”
Falta “tudo”
O brasileiro ressalta que a vida na Japão ficou muito difícil. Nos mercados, não se encontra mais arroz e lámem (tipo de macarrão para refeições rápidas), ingredientes muito usados na culinária japonesa. Além disso, faltam fraldas, papel higiênico e outros produtos de uso diário.
O combustível está sendo racionado e o preço aumentou. “Água também nem pensar, somente da torneira, mas não é aconselhável”, pondera. “Como não entendo bem o japonês, ouço apenas boatos que o governo está tentando solucionar o problema, mas como toda política, nunca sabemos a realidade dos fatos. Como havia dito, até abril, se Deus quiser, estarei embarcando para o Brasil. Só peço a todos que rezem por todos aqui.”
FOTOS: arquivo pessoal / N. S. Brahim