Declarado como direito fundamental do ser humano pela ONU, propostas no mundo inteiro buscam expandir o acesso à rede.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Quem nunca se viu em uma situação de necessidade de usar a Internet e encheu-se de esperança ao ver uma rede wi-fi disponível, mas que, como de costume, estava protegida por senha?
É, esse é apenas um exemplo da “particularização” do acesso à rede. Porém, isso deve mudar. A Organização das Nações Unidas – ONU acaba de declarar o acesso à rede um direito fundamental do ser humano, tal como saúde, moradia e educação.
No entanto, navegar no Brasil não é uma tarefa tão fácil. Com os altos valores de mensalidades das empresas de Internet, o país fica entre os distribuidores mais caros de banda larga no mundo. Enquanto aqui paga-se uma média de R$ 70 por 500MB, no México sai por R$ 30, enquanto um pacote de 3G no Reino Unido sai por R$ 40.
Ou seja: apesar de ser cada vez mais aceito como fundamental, o acesso a rede ainda é majoritário entre as classes mais altas. Entretanto, uma nova proposta está sendo colocada em prática e promete ter resultados positivos. No mundo todo, pessoas começam a abrir seus sinais privados de wi-fi. Além disso, organizações e governos se mobilizarem para expandir a rede para espaços públicos e regiões onde ela ainda não chega, com acesso livre e gratuito.
Wi-fi sem senha?
Porém, muita gente fica insegura com sua wi-fi sem senha, levantando três principais argumentos. Primeiro, a queda na velocidade de conexão. Depois, o risco de que um hacker invadir o computador (o que ele poderia fazer mesmo se a rede tiver senha). Medo que alguém cometa um crime virtual dentro da rede, como acessar pornografia infantil, também está na lista.
“Risco corremos até ao atravessar a rua. Mas sou contra o sistema como a Internet é distribuída e acho que vale a pena”, diz Pedro Belasco, cientista político e programador de São Paulo.
O criptógrafo americano Bruce Schneier — um dos maiores especialistas mundiais em segurança na internet, que já foi reconhecido pela revista The Economist como um guru da área — também diz não ligar para esses perigos. Alegando “boas maneiras”, ele deixa a rede wi-fi de casa aberta. “Se alguém cometer um crime em minha conexão, a melhor defesa será o fato de que ela era aberta.”
Sinal dividido pode ser opção
Ao redor do mundo existem outras propostas sendo colocadas em prática – como o exemplo do roteador criado pela empresa espanhola Fon, que divide o sinal em dois. Uma parte é privada e outra (uma pequena parcela de sua conexão) é aberta a visitantes. Só pode usar essa segunda linha um membro previamente registrado, o que aumenta a segurança.
A idéia do Fon é compartilhar a conexão com quem também compartilha, criando uma espécie de cooperativa. “É o que chamamos de crowdsourced wi-fi, porque é construído por várias pessoas”, diz Jen Allerson, chefe de comunicação da empresa, que já chegou a 150 países (e planeja vir para o Brasil em breve) e tem 3,5 milhões de roteadores espalhados pelo mundo.
Se o modelo vingar, poderemos ter cidades mais conectadas, como acontece com Tóquio, um dos locais com mais adesão ao Fon. “Você monta nuvens sobrepostas de sinais e consegue ficar online em vários pontos”, diz Sérgio Amadeu. A lógica é semelhante à do celular, em que o sinal passa de uma antena para outra e você continua falando quando se desloca.
EXPANSÃO – Cidades no mundo inteiro parecem estar investindo cada vez mais na expansão do sinal de Internet livre e projetos prometem melhorar, e muito, essa situação nos próximos anos. Quando a internet aberta for difundida em todos os cantos, a ação de quem tira a senha do próprio wi-fi, dos ativistas que colocam Internet na praça e dos planos da administração pública para ampliar a rede terão se feito valer.
“Quando se rompe com o ideal do passado de controle, fragmentação e poder sobre a informação, um novo mundo se abre”, afirma Clotilde Perez. A pesquisadora acredita que o ser humano é investigativo por natureza, e com livre acesso ao conhecimento pode fazer de tudo.
É como o menino da comunidade carente carioca que montou uma bicicleta de sucata depois de baixar na internet um tutorial feito por outro garoto na Índia. “As pessoas vão usar a internet para transformar a própria vida.”
Com informações de Revista Galileu
FOTO: reprodução / Ricardo Toscani