Quando criei o SOS Rio dos Sinos, em 14 de janeiro de 2006, a preocupação era com o baixo nível do Rio dos Sinos, pois as fotos que me foram enviadas, não mostravam um rio, mas um pequeno riacho. Em 2004 já tinha consciência das várias agressões que o Rio sofria, o que rendeu o texto “O RIO DAS NOSSAS VIDAS”, mas, naquele momento, a prioridade era a água para abastecimento público.
A mortandade de peixes em 07/10/2006, entretanto, apresentou componentes, que, em maior ou menor grau, contribuíram para ocorrência dessa “catástrofe ambiental”, e empresas foram responsabilizadas pelo fato de lançarem efluentes não tratados e resíduos com alto teor poluidor, nos arroios e no rio, desrespeitando à legislação pertinente e à licença concedida pela FEPAM.
Ao passar a dedicar atenção aos arroios que drenam as cidades, a começar pelo Arroio Estância Velha/Portão, mostrado na Audiência Pública do dia 18/10/2006, realizada na Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo, percebi o grave problema que envolve o tema do título, isto é, não basta ter licença para produzir: É preciso produzir com ética e responsabilidade. São provas disto os vários flagrantes de lançamento de efluentes não tratados nos Arroios Luiz Rau, Pampa e Nicolau Becker.
Arroio Luis Rau, 06/12/07
Deixando de lado a questão referente ao grande volume de lixo jogado nas margens e no leito dos Arroios e do Rio, um problema que considero como “ausência de uma consciência ecológica”, vou ater-me ao assunto em tela e assim falar sobre as Fiscalizações Integradas do SIGA-RS, realizadas pelos integrantes do Trecho 02, do qual faço parte.
Desde a primeira fiscalização, ficou evidente a ausência de um comportamento ético e responsável em relação aos resíduos, seja líquido ou sólido, gerado por algumas empresas. Encontramos as Estações de tratamento de efluentes paralisadas, demonstrando que há muito não estavam sendo usadas, enquanto os resíduos eram lançados no solo, nos arroios e no esgoto pluvial, depósito irregular de embalagens de resíduos tóxicos e de resíduos sólidos. O lado positivo dessas fiscalizações: Todas as empresas foram notificadas, autuadas e em casos mais graves, lacradas. Entretanto, o que nos surpreende é a quantidade de casos semelhantes encontrados a cada fiscalização.
Com as ações realizadas este ano, não foi diferente, e nos chamou atenção a quantidade de resíduos e sua localização: Na última fiscalização Integrada, realizada em São Leopoldo, na Vila Brás, no dia 08/04/08, a equipe se deparou com um aterro de retalhos de couro, que se estimou ter três metros de profundidade, em uma APP (Área de preservação permanente), resíduos depositados por todo o canto, muito lixo e criação de porcos. Apenas se percebia a existência do aterro, ao caminhar-se sobre ele, pois o solo era fofo e cedia sob nossos pés.
Mais adiante, em Novo Hamburgo, no Bairro Santo Afonso, mais um flagrante de depósito irregular de resíduos de construções, de indústria de móveis, calçados, enfim, difícil enumerar todas as procedências, pois havia sacos e sacos, ainda fechados contendo resíduos. Embora não seja uma APP, é um banhado – uma APA, Área de Preservação Ambiental, e, pelo tamanho do espaço já aterrado do banhado, percebe-se que muitas espécies, tanto da fauna como da flora, já foram destruídas. Saí de lá bastante preocupada com o que constatei, pois, dos 100% de banhados da Bacia do Sinos, hoje não restam nem 5 %, e, pelo visto, a destruição continua.
Nos dois casos, foram fiscalizadas empresas cujos nomes são bem conhecida e conceituadas na região. Foram identificadas através dos seus resíduos e, portanto, serão devidamente autuadas. Mas não são elas que depositam nestes locais. Quem faz o transporte desses resíduos são carroceiros que por alguns trocados, dão o “destino final incorreto” aos resíduos produzidos por essas empresas. Em alguns casos, veículos, do tipo “Kombi”, também são utilizados.
As fiscalizações integradas, somadas aos mutirões de limpeza e ao monitoramento dos arroios, permite perceber que vivemos em uma época em que parecer ser difícil controlar a insensatez da deterioração ambiental. Os instrumentos e as técnicas utilizadas até agora, pelos órgãos ambientais, não estão conseguindo fazer com as condições e restrições das licenças, sejam obedecidas. Uma política interna que resista a um comportamento ético na gestão ambiental pode atingir, em cheio, um dos maiores patrimônios de uma empresa: a Marca e a Imagem.
Embora a ética esteja intrinsecamente ligada à valores morais, quais sejam, honestidade, lealdade, idoneidade, respeito à verdade e à legalidade, produzir com ética e responsabilidade torna-se uma opção, um desejo de realizar esta ação mantendo uma relação justa e aceitável com o meio onde está inserida. É, também, um investimento que traz bons frutos, pois, investir em benefícios à coletividade e ao meio ambiente, é um modo concreto de criar uma boa imagem para a empresa.
Hoje, mais do que nunca, as atitudes em relação a um comportamento ético, pode ser a diferença entre o fracasso e o sucesso. Comportamentos anti-éticos “arranham” a imagem da empresa e levam a perder clientes e impedem a realização de negócios importantes, pois na hora das avaliações, sempre é levada em consideração, a existência de uma compatibilidade ética.
Mas, enquanto existirem empresas relutantes a um comportamento responsável e ético, resta à comunidade e às organizações não governamentais o papel de proteger e defender os nossos recursos naturais, denunciando toda e qualquer atividade incompatível com a legislação, com a moral e a ética, um direito contemplado pela Constituição e também um meio de conscientização de todos, da importância de se por um fim atodas essas agressões.
Equipe que participou da última fiscalização