Depois de dois anos foragido, Luiz Henrique Sanfelice foi preso pela Interpol nos arredores de Sevilha essa semana. Advogados tentarão evitar extradição para o Brasil.
Felipe de Oliveira [email protected] (Siga no Twitter)
Dois anos como o mais ilustre foragido da Justiça do Rio Grande do Sul. Sua prisão, portanto, ganha contornos de “mega-operação” no imaginário dos gaúchos…
E agora, Sanfelice? Preso na Espanha no início dessa semana, Luiz Henrique Sanfelice quer cumprir a pena pelo assassinato da esposa, há quase seis anos, em Novo Hamburgo, longe do Brasil. Tem cidadania espanhola e é nisso que os advogados devem se apegar para defender o cumprimento da punição por lá mesmo.
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Relembre o julgamento de Luiz Henrique Sanfelice
O crime chocou os brasileiros em 12 de junho de 2004 (Dia dos Namorados), quando a jornalista Beatriz Helena de Oliveira Rodrigues, 43 anos, foi encontrada carbonizada dentro do Renault Mégane do marido – empresário bem sucedido do setor calçadista -, no bairro Roselândia, proximidades do Santuário das Mães. Deixava um filho de quatro anos de idade e um seguro de vida de valores vultosos.
Ouvidas pelo jornal Zero Hora nesta quarta-feira, dia 05, fontes ligadas ao ex-empresário hamburguense de 45 anos garantem que, se a legislação permitir sua opção, ficará na Espanha. Foi quando a notícia da prisão efetuada pela Interpol (Polícia Internacional) chegou ao Brasil. Quem recebeu a informação foi o delegado federal Farnei Franco Siqueira, representante da Interpol no Estado.
CIDADANIA ESPANHOLA – Além da cidadania espanhola, Luiz Henrique Sanfelice tinha até carteira de identidade. O nome que usava era Luiz Enrique Sanfelice Fernández, uma transposição da grafia para o espanhol. Sua mãe tem Fernandes como um dos sobrenomes e na Espanha o nome da mãe aparece sempre por último.
Sanfelice vivia feliz, segundo pessoas próximas, em um pequeno vilarejo nos arredores de Sevilha. Trabalhava regularmente em uma empresa de segurança e falava pouco com familiares. Ele é formado em Administração de Empresas pela Unisinos.
A fuga foi registrada pela Justiça gaúcha no dia 10 de abril de 2008, quando Sanfelice deixou o regime semi-aberto do Presídio Regional de Novo Hamburgo e não voltou mais. Para os parentes, o motivo da fuga teria sido a decisão judicial, publicada no mesmo dia, que obrigava o cumprimento da pena em regime fechado. O apenado teria pego um avião com destino à Europa em um país vizinho ao Brasil.
Pistas começaram a surgir em 2009
A casa de Luiz Henrique Sanfelice na Espanha começou a cair em julho de 2009. O Departamento Estadual de Investigações Criminais – Deic da Polícia Civil do Rio Grande do Sul encontrou seus primeiros rastros e repassou a informação à Polícia Federal – PF, já que não pode pedir buscas fora do Brasil.
O delegado José Antônio Dornelles, da superintendência regional da PF, acionou em agosto a lista de procurados internacionais da Interpol, que serve como alerta mundial. Incumbiu o colega Farnei Franco Siqueira pelas investigações. Ele é o encarregado de agir diplomaticamente com policiais de todo o mundo. Em setembro, Farnei montou o dossiê 72/2009, com as informações disponíveis sobre Sanfelice e enviou à Espanha. Em 21 de abril desse ano, descobriu que ele teria requerido nacionalidade espanhola.
As investigações apontavam para a hipótese de que o foragido agora era Luiz Enrique Sanfelice Fernández, que teve a carteira de identidade espanhola expedida em 07 de janeiro de 2009, válida até 13 de junho de 2018. Conseguiu o documento porque possui passaporte espanhol.
Na madrugada de quarta-feira, 05 de maio de 2010, Farnei Franco Siqueira recebeu a notícia por e-mail da Polícia Nacional da Espanha: Sanfelice foi preso às 18h30min (horário espanhol) no dia anterior em Bollullos de la Mitación, cidade de oito mil habitantes, situada a 17 quilômetros de Sevilha.
Com a aparência bastante alterada (foto), o foragido caminhava na rua quando foi pego e, em seguida, encaminhado à Jefatura Superior de Policía da província de Andalucía Occidental, em Sevilha. Permaneceu lá até a manhã de quarta-feira, de onde teria sido transferido para o Juizado, em Madri. Como era uma ordem da Interpol, não lhe questionaram sobre o que fazia no país.
Em Madri, Luiz Henrique Sanfelice ficará sob os cuidados da Audiéncia Nacional, onde estão presos à espera de extradição. O processo de retorno ao Brasil pode levar meses. Se tiver êxito, o governo brasileiro fará com que ele cumpra o que lhe resta da pena de 19 anos e três meses de reclusão por aqui. Voltaria a um presídio, no entanto, e não a um albergue, onde estava quando fugiu.
Com informações de ZeroHora
FOTOS
arquivo / novohamburgo.org
reprodução / Correio do Povo